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Negócio

Disputa com EUA pode abrir China para petróleo da Petrobras


Valor Econômico - 12 mai 2025 - 10:31

A guerra comercial entre China e Estados Unidos pode abrir uma oportunidade para que a Petrobras amplie a oferta de petróleo para o gigante asiático. Nas últimas semanas, o governo brasileiro ouviu sondagens de Pequim sobre a possibilidade de o Brasil se consolidar como fornecedor de óleo bruto para o mercado chinês. O motivo são as ameaças veladas entre Estados Unidos e China.

O Valor apurou que integrantes do governo perceberam uma preocupação dos chineses em relação à possibilidade de Donald Trump influenciar países árabes a cortarem o fornecimento de petróleo para o mercado chinês, o que poderia afetar consideravelmente a economia do país asiático. Como contrapartida, o governo brasileiro quer convencer os chineses a avaliar oportunidades de “investimento casado” nos estaleiros no país.

Do lado brasileiro, existe inclusive a expectativa de que seja assinado algum protocolo de entendimento sobre o tema na passagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por Pequim nesta semana. A presença do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, na comitiva presidencial tende a reforçar a estratégia brasileira para avançar com a negociação para assinatura de eventual acordo ou protocolo de intenções sobre o tema pelos presidentes dos dois países.

O assunto foi discutido na última viagem de autoridades brasileiras à China, que serviu para fazer encontros preparatórios para a viagem da delegação brasileira. A própria presidente da Petrobras, Magda Chambriard, e o presidente da Transpetro, Sergio Bacci, participaram das conversas na capital da China. Na ocasião, Chambriard chegou a incentivar os chineses a visitar os estaleiros brasileiros.

“Nós estamos aqui para propor a ampliação da parceria entre Brasil e China no investimento em petróleo e gás. Entendemos que há oportunidades para empresas chinesas atuarem em parceria com os estaleiros brasileiros e acreditamos que o incremento da nossa cooperação trará benefícios para os nossos países”, salientou Chambriard na abertura da reunião.

A aproximação entre China e Brasil nesse tema tem sido tratada com certo sigilo pelo Palácio do Planalto, ainda que a Petrobras tenha divulgado um comunicado sobre as atividades de Magda em Pequim. No último dia 30 de abril, por exemplo, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma reunião com o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, em Brasília, mas omitiu essa informação da sua agenda.

Em vez de divulgar o nome de Wang Yi na lista de compromissos do presidente, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) optou por informar que Lula se encontrou, na ocasião, apenas com o embaixador Celso Amorim. De acordo com interlocutores do governo, isso acontece a pedido dos próprios chineses, que temem alguma retaliação dos americanos diante de um movimento de aproximação entre Pequim e Brasil.

Interesse no óleo brasileiro já colocou empresas chinesas em leilões do pré-sal

A China se tornou um gigante também na indústria de construção naval nos últimos anos. A situação contrasta com a do Brasil, onde o setor sofreu após as denúncias de corrupção no âmbito da Operação Lava-Jato, e especialistas criticam a falta de competitividade devido a exigências de conteúdo nacional. Mas, com a recente reestruturação do Fundo da Marinha Mercante (FMM), a atual gestão do presidente Lula tenta retomar investimentos com encomendas de novas embarcações. Só a Transpetro anunciou um plano de investimento para aquisição de 25 navios.

A retomada de investimentos da indústria naval brasileira também envolve a construção de plataformas flutuantes (FPSO). Se confirmada, a vinda dos investidores chineses ao Brasil deve ocorrer nos dias que antecedem a reunião da cúpula do Brics, no início de julho.

Os donos de grandes estaleiros chineses devem verificar as condições das estruturas disponíveis no Brasil. Fontes do governo ouvidas pelo Valor disseram que alguns estaleiros nacionais já oferecem condições “mais adequadas” para início da construção das embarcações e outros ainda demandam investimentos em dique e outras estruturas para começarem a operar.

Na negociação, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) oferece linhas de financiamento, em condições especiais, para os chineses acessarem recursos do fundo. O governo tem argumentado que, cumprindo as exigências de conteúdo local na fabricação das embarcações, a linha de crédito se torna tão competitiva quanto as taxas chinesas.

O interesse estratégico de Pequim no petróleo brasileiro já levou empresas chinesas a participarem de leilões do pré-sal e disputarem a venda dos volumes de óleo bruto da União pela estatal PPSA. Atualmente, o petróleo está entre os três principais itens de exportações brasileiras para China, somado à soja e ao minério de ferro. Procuradas, a Petrobras, Transpetro e a Embaixada da China não comentaram até o fechamento desta edição.

Renan Truffi e Rafael Bitencourt – Valor Econômico