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Negócio

Sanção da UE à Rússia deve dificultar compra de diesel


Valor Econômico - 22 mai 2025 - 10:43

As novas sanções impostas pela União Europeia à Rússia, com foco no transporte marítimo de petróleo, tendem a dificultar ainda mais as exportações da commodity daquele país, envolvido há mais de três anos em guerra na Ucrânia. Foi justamente o conflito bélico que motivou as penalidades anteriores e as adicionais, agora anunciadas pela UE contra a Rússia.

O novo pacote de sanções comerciais do bloco europeu chega em momento de maior incerteza global, decorrente das tarifas ao comércio anunciadas, em abril, por Donald Trump. E também como resultado do aumento da produção pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+) ainda no mês passado.

Diante desse cenário, países importadores de petróleo e derivados, especialmente de diesel, como o Brasil, podem enfrentar mais dificuldades para importar e ver aumento de custos, dizem especialistas. O Brasil depende da importação de diesel para complementar a produção local e atender ao consumo doméstico. E o país tem se valido da Rússia, nos últimos anos, como principal fornecedor externo do produto.

Na terça-feira (20), a União Europeia anunciou o 17º pacote de sanções à Rússia. As medidas incluem restrições para a operação da chamada frota “sombra” ou “fantasma”, composta por navios petroleiros que driblam as barreiras comerciais impostas aos russos. São cargueiros antigos, registrados por empresas de países que não impõem sanções à Rússia e que passaram a fazer comércio com outras regiões do mundo.

A UE adicionou agora 189 embarcações a uma lista de navios já embargados. Esses cargueiros foram identificados pela UE e pela Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA, na sigla em inglês) como integrantes da frota “fantasma”. Ao todo, a lista chega a 342 navios “banidos”. A UE disse, em comunicado, que a medida do bloco, juntamente com esforços de parceiros como Reino Unido e Estados Unidos, tem tornado mais difícil e custosa a exportação de petróleo pelo Kremlin.

Victor do Prado, membro do conselho consultivo do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), diz que, em muitos casos, embarcações partem da Rússia sem ter negociação firmada ou destino definido, à espera de compradores em alto-mar. Prado considera importante que o Brasil analise com cuidado e busque entender com clareza eventuais repercussões de negócios envolvendo o diesel russo sobre as relações comerciais com a União Europeia. “Hoje, as sanções podem ter consequência indireta para o Brasil, à medida que esses navios não conseguem fazer seguro e escala em portos europeus.”

Da demanda total de diesel no país, cerca de 70% são supridos por produção local e 30%, por importações. Nas compras externas, a Rússia se transformou no principal supridor, uma vez que tem oferecido descontos aos compradores. Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) indicam importação de 3,61 milhões de metros cúbicos de diesel de janeiro a abril, cerca de 22% do total comercializado este ano no país, de 16,28 milhões de metros cúbicos.

Quase 60% da importação até abril era de origem russa, segundo a ANP. A importação de diesel para o Brasil não necessariamente pode ser feita diretamente da Rússia: uma das formas de compra pode se dar por meio de navios, inclusive os barrados, que fazem o transbordo do combustível em alto-mar para outras embarcações, de nacionalidades diferentes, que não enfrentam restrições.

Sérgio Araújo, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), diz que o aumento das restrições tende a dificultar a importação de diesel russo pelo Brasil. Com isso, os custos tendem a se elevar, algo que ainda não se concretizou. “Por ora, ainda não temos sentido nenhum impacto nos fluxos de importação”, disse Araújo.

Felipe Perez, analista da S&P Global, avalia que as sanções podem redirecionar a compra de diesel no Brasil. Ele explica que os preços estão em queda na Bacia do Atlântico, no Golfo do México (EUA), embora ainda acima do produto russo. “Talvez, [importadores] tenham que buscar equilíbrio do mercado com um preço mais alto.”

Thiago Vetter, analista da StoneX, diz que, apesar das barreiras crescentes tornarem mais difícil o fluxo do diesel, as sanções não foram capazes até agora de diminuir as exportações de petróleo ou derivados da Rússia de forma significativa. No caso brasileiro, diz, a importação russa continua predominante neste ano. Em maio, segundo Vetter, 82% do produto importado teve origem russa, mesmo com uma diferença menor de preços frente aos Estados Unidos. Hoje, o diesel russo é vendido com desconto de US$ 0,07 por litro ante o produto americano, mas a diferença já foi de US$ 0,30 por litro no início do ano, salientou Vetter.

Em abril, os preços do petróleo aceleraram a queda depois de Trump anunciar as tarifas ao comércio mundial, em especial contra a China. Em paralelo, os integrantes da Opep+ anunciaram aumentos sucessivos de produção para os meses de maio e junho. Após escalada tarifária contra a China, Trump e Xi Jinping suspenderam as taxas por 90 dias em busca de negociações, o que fez com que as cotações do Brent, referência internacional, voltassem a subir.

Dados da StoneX apontam que a Petrobras vende diesel nas refinarias 3,7% acima do mercado internacional. A Abicom diz que os preços da estatal estão 1% abaixo do preço de paridade de importação. Procurada, a Petrobras não retornou até o fechamento desta edição. A estatal adotou há dois anos estratégia comercial que considera parâmetros como logística e custo de oportunidade no cálculo do preço dos combustíveis. Este ano a empresa reajustou o diesel uma vez, em fevereiro, e aplicou três reduções desde abril.

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Fábio Couto – Valor Econômico