Vale: 20% de biodiesel em 2017
Há um bom tempo os fabricantes de biodiesel do Brasil vêm cobrando do governo – sem muito sucesso – a implantação do B20 a partir de 2020. Mas a Vale, maior consumidor individual de diesel do país, deverá começar a usar essa mistura já a partir de 2017. A informação partiu de Eduardo Ieda, diretor-presidente da Biopalma, subsidiária da Vale que está implantando 60 mil hectares de palma de óleo no Pará. Outros 20 mil hectares serão cultivados por agricultores familiares.
O projeto da Biopalma está sendo desenvolvido por um consórcio formado pela Vale – dona de 70% da companhia – e o Grupo MSP – que possui os outros 30%. A estrutura inclui duas unidades de processamento de óleo. A primeira foi inaugurada em junho de 2012 e poderá processar até 120 toneladas de cachos de palma por hora. A segunda unidade extratora de óleo deverá ser inaugurada em 2014 e será ainda maior, com capacidade para processar até 560 toneladas por hora.
Do volume de óleo que será produzido, 70% vai ficar com a Vale para ser convertido em biodiesel e os 30% referentes ao Grupo MSP serão comercializados em outros mercados. “É um projeto de biodiesel convencional, mas não descartamos a possibilidade de usar um processo mais sofisticado para produzir o diesel verde, que substitui o diesel”, adiantou. “Há a possibilidade de chegarmos ao B100 com essas novas tecnologias que virão.”
Outra meta da empresa é produzir biodiesel a um preço igual ou inferior ao do diesel convencional. Atualmente o preço do biocombustível fica cerca de 40% acima do produto derivado do petróleo. A Vale é responsável pelo consumo de 3% do diesel no Brasil, o equivalente a cerca de 1,7 milhão de toneladas do combustível por ano. Com a implantação do B20, 360 mil toneladas passariam a ser de biodiesel. “O nosso custo de produção de biodiesel vai ser muito melhor que o preço do biodiesel de soja. Não sei se vamos chegar no preço do diesel, mas é para isso que estamos trabalhando. Senão não faz sentido”, explicou.
O projeto prevê a compra pela Valem de 70% do óleo para a produção de biodiesel. Mas a iniciativa contempla outras ações também. A Biopalma deverá processar e vender óleo de palmiste, que possui maior valor agregado. Já o resíduo do processamento do óleo poderá ser aproveitado na cogeração de energia elétrica. Por fim, a empresa também prevê a comercialização do excedente de óleo de palma junto a parceiros.
“Quando começou esse projeto, era só pra consumo próprio. Estamos vendo o mercado interno com muita atenção, principalmente pelo volume muito grande de óleo com o qual vamos entrar no mercado”, adiantou. A produção prevista pela empresa representa um aumento de 100% no processamento nacional desse óleo. Atualmente o Brasil produz 0,5% do óleo consumido no mundo e ocupa a 15ª posição entre os produtores.
Segundo Ieda, a iniciativa deverá envolver um total de 2 mil famílias de agricultores. Atualmente, cerca de 600 famílias já estão integradas ao projeto. O executivo destacou que o trabalho inclui até mesmo aconselhamento financeiro para os agricultores. “Eles saem de um patamar de renda entre R$ 300 a R$ 400 por mês para R$ 2,7 mil, R$ 3 mil. Eles vão da classe E para a classe C. Temos que educar para que não existam aproveitadores no meio do caminho.” Ieda relatou que o sucesso do trabalho já fez com que alguns produtores integrados ao projeto trouxessem seus filhos da periferia de Belém (PA) para ajudá-los.
Além da preocupação social, a companhia tem outras de ordem mais prática. “Eu espero para esses 20 mil hectares [cultivados ela agricultura familiar] a mesma produtividade da área de 60 mil hectares [cultivada pela empresa]”, explicou. “Instalei uma indústria e tenho uma capacidade instalada. Senão vou ter ociosidade.”
Rosiane Freitas – BiodieselBR.com