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Grupo ECB procura sócio para projeto de diesel verde no Paraguai


Valor Econômico - 10 fev 2020 - 09:28

Sócio da Petrobras na BSBios, a maior companhia de biodiesel do Brasil, e dono de diversos empreendimentos no setor de agronegócios no Sul, o gaúcho Erasmo Carlos Battistella se prepara para investir em diesel e querosene “verdes”, de origem não fóssil. Após eleger o Paraguai para desenvolver seu novo projeto, o empresário busca atrair um sócio para iniciar os aportes, estimados em cerca de US$ 800 milhões

“Estamos negociando com mais de dez sócios potenciais”, disse Battistella ao Valor. Sem revelar nomes, ele disse que tem mantido contatos com investidores de diversas regiões do mundo (Europa, Ásia, Oriente Médio, Estados Unidos) e variados perfis – desde empresas que têm interesse no produto renovável ou querem diversificar as operações até fundos de “family office” com metas de aportes em projetos sustentáveis.

Dono do ECB Group, holding que controla a BSBios e que terá participação na empresa que será aberta no Paraguai, batizada de Omega Green, Battistella quer acertar a parceria com o novo sócio até o início do segundo semestre, quando planeja iniciar as obras. Enquanto isso, acompanha os movimentos da Petrobras, que já anunciou que venderá sua fatia de 50% na BSBios, que faturou em 2019 mais de R$ 3 bilhões.

O diesel “verde” pode ser produzido com as mesmas matérias-primas do biodiesel: óleo de soja, gordura animal e óleo de cozinha usado. A Omega Green deverá usar preferencialmente óleo de soja e sebo bovino, mas há empresas no mundo que fazem o biocombustível com resíduos urbanos. É o caso da Neste, petroleira do governo finlandês que se tornou líder global nesse segmento.

Diferentemente do biodiesel, o diesel renovável tem a mesma molécula que o diesel – o que o credencia, portanto, a substituí-lo por completo no tanque de um veículo, como reconhecem as montadoras. O querosene de aviação de origem renovável (SPK, na sigla em inglês), que a Omega Green também produzirá, segue a mesma lógica.

Para chegar à mesma molécula dos produtos fósseis, as gorduras passam por um processo de hidrogenização – por isso o diesel “verde” foi batizado como óleo vegetal hidrogenado (HVO). Nas 17 usinas de HVO existentes no mundo, o hidrogênio é obtido do gás natural, de origem fóssil. Já na usina da Omega Green, o hidrogênio será obtido das próprias matérias-primas. “Será uma fábrica totalmente sustentável, até na partida”, ressaltou Battistella.

A vantagem ambiental do diesel renovável depende da matéria-prima, do impacto da conversão da área de produção (no caso de culturas agrícolas) e do processo de fabricação. Na Europa, o HVO de óleos vegetais é classificado para o mandato de biocombustível “convencional”, enquanto o de óleo de cozinha é “avançado”. No Padrão de Combustíveis Renováveis (RFS) dos EUA, há fabricantes credenciadas para o mandato de biodiesel, para o de combustível renovável “convencional” e também para o de “avançados”. Dentre elas, a “pegada de carbono” do HVO – desde a produção da matéria-prima até a combustão nos motores – chega a ser 89% menor que a do diesel de petróleo.

O ECB Group está finalizando o processo de certificação da intensidade de carbono do HVO da Omega Green, o que o credenciará para os programas mundiais de energia renovável e garantirá suas vendas, já que toda a produção deverá ser exportada, preferencialmente para Europa, Estados Unidos, Canadá e Ásia. Quanto menores as emissões, maior o “prêmio” recebido pelo produto.

Além do aporte dos acionistas, 60% da construção da fábrica deverá ser financiada junto a bancos. Segundo Battistella, para a estruturação financeira do projeto o ECB contratou o UBS e o Barclays Investment Bank. O orçamento das obras também está fechado. A Omega Green firmou contrato com as americanas Crown Iron Works e Honeywell UOP, da área de tecnologia de refino de combustíveis, e com a espanhola Acciona, companhia de engenharia especializada em energias renováveis.

Nas contas do empresário gaúcho, o investimento deverá se pagar em cinco anos de funcionamento, previsto para começar em 2023. Para assegurar esse retorno, a companhia está em negociações finais com potenciais clientes para fechar contratos de fornecimento (“offtake”) do HVO e do PSK por cinco anos, que deverão garantir entre 70% e 80% do faturamento. A estimativa é que a Omega Green tenha receita anual de US$ 1 bilhão.

O investimento garantirá que a Omega Green seja, logo de início, uma das maiores usinas de HVO do mundo. A capacidade de produção será de 20 mil barris diários, ou 1 milhão de toneladas por ano. As duas maiores plantas de diesel “verde” em funcionamento hoje, da finlandesa Neste, têm essa mesma capacidade.

A nova usina é propagada pelo governo do Paraguai como o maior investimento privado já realizado na história do país. Segundo Battistella, entre 50% e 60% da matéria-prima a ser usada deverá ser óleo de soja, dada a ampla oferta do grão no país, onde a colheita deverá superar 10 milhões de toneladas nesta safra. Se apenas o óleo de soja fosse utilizado, a planta consumiria 6 milhões de toneladas de soja por ano.

Camila Souza Ramos – Valor Econômico