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Setor espera queda nos preços de combustíveis e alimentos com nova mistura de biocombustíveis


Valor Econômico - 26 jun 2025 - 11:14

A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) estima que a elevação da mistura do biodiesel ao diesel fóssil, de 14% para 15%, confirmada nesta quarta-feira (25) pelo governo federal, vai aumentar a demanda por óleo de soja em 150 mil toneladas no último trimestre deste ano. O novo teor de adição valerá a partir de agosto, confirmou ontem o Ministério de Minas e Energia.

O movimento vai impulsionar o esmagamento da oleaginosa em cerca de 750 mil toneladas adicionais de setembro a dezembro, o que deve gerar 600 mil toneladas de farelo e mais 300 milhões de litros de biodiesel produzidos, totalizando 9,8 bilhões de litros em 2025, segundo a entidade.

O setor produtivo diz que o aumento da adição do biocombustível pode gerar redução nos preços dos combustíveis na ponta, com menor dependência do petróleo, item impactado pelas guerras em curso. Deve haver também efeito deflacionário em alimentos, como as proteínas animais, com maior esmagamento de soja e produção de farelo, que alimenta os animais, e crescimento da economia em geral.

A Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FBio) afirmou, em nota, que a confirmação da elevação da mistura fortalece a segurança energética e alimentar da população brasileira.

“Em meio a tantas incertezas no cenário internacional, que afetam preços e causam instabilidade nos mercados, a decisão do governo brasileiro promove a soberania nacional, ao mesmo tempo que garante a expansão de investimentos na ordem de R$ 200 bilhões; impulsiona a transição energética, reduz a emissão de gases estufa, além de estabilizar os preços da cadeia de proteínas”, afirmou a entidade.

O aumento da mistura ocorre com atraso de seis meses. Pela regra, o teor de 15% deveria ter entrado em vigor em março. Pressionado pela inflação dos alimentos e dos combustíveis naquela época, o governo decidiu congelar o percentual em 14% e adiar o cronograma de elevação.

Havia uma expectativa, comentada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, de oficializar a elevação da mistura para B15 em 60 dias, prazo que acabou no início de maio sem novidades no front. À época, a guerra comercial entre Estados Unidos e China afetava os preços da soja, principal matéria-prima do biodiesel, e a pressão das usinas pelo aumento da adição esfriou. A avaliação era que a oleaginosa mais cara espremeria margens das empresas se houvesse mais esmagamento.

Com arrefecimento dos preços e a realização de estudos técnicos para sanar dúvidas sobre a viabilidade da mistura em teores mais altos e da qualidade do biodiesel, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, voltou a defender a elevação da mistura. O mesmo cenário vale para o etanol, que teve adição na gasolina ajustada de 27% para 30%. A queda na cotação do milho, insumo para o biocombustível, colaborou.

A FPBio disse que o setor do biodiesel ainda sofre ataques em relação à elevação da mistura, mas que o movimento é respaldado por estudos técnicos e científicos.

Deflação

O efeito do biodiesel na cadeia de proteínas é significativo, diz o setor. O aumento da mistura de 14% de biodiesel para 15% pode gerar efeitos benéficos para a economia brasileira no geral, aponta a FPBio, presidida pelo deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS).

“Com o aumento da mistura se estima que o PIB mensal seria 0,36% maior, a produção de óleo de soja seria 2,35% maior e a de carne de frango seria 1,37% maior”, estimou a frente.

“A carne bovina, tão cara ao brasileiro, teria um aumento de 1,78% na sua produção mensal. Tudo isso significa maior oferta de alimentos e comida mais barata na mesa do povo brasileiro”, informou a FPBio.

Segundo estudo da Abiove, o incentivo do biodiesel ao esmagamento de soja pode levar a uma diminuição no IPCA de -0,05%, resultado agregado líquido dos ganhos com a queda dos preços das carnes.

A FPBio ressaltou ainda a importância dos biocombustíveis para a estabilidade dos preços ante os combustíveis fósseis. “Como o petróleo é mais volátil no mercado internacional, então o preço do mesmo cresce mais em choques”, disse na nota.

A entidade citou a elevação de 26% na cotação do petróleo nas últimas três semanas com o cenário de guerra entre Irã e Israel, entraves no estreito de Ormuz (rota de escoamento de 30% do petróleo comercializado no mundo), a continuidade dos conflitos entre Rússia e Ucrânia, as tensões econômicas entre Estados Unidos e China e o aumento do protecionismo por parte do governo norte-americano.

“Isso eleva os preços dos combustíveis, tendo, portanto, um efeito inflacionário na economia como um todo. Já o biodiesel não é tão suscetível a choques internacionais, pois o preço da soja, seu principal insumo, é mais estável que o petróleo”, defendeu a FPBio.

“Nesse cenário, portanto, os biocombustíveis possuem um efeito deflacionário em comparação aos combustíveis fósseis. O Brasil, mesmo sendo produtor de petróleo, é um importador de diesel, pois não possui capacidade de refino interno. Dado isso, o biodiesel é um fator que contribui para diminuir a dependência brasileira do diesel importado”, completou.

Demanda

A mistura de 15% do biodiesel deve vigorar até fevereiro de 2026. Em março, a previsão legal é que a adição suba para 16%. Confirmada essa expectativa, a Abiove estima que a demanda por óleo de soja vai passar de 7 mil de toneladas (se fosse mantido o percentual de 14%) para 7,9 mil toneladas. Se o B15 for mantido ao longo do próximo ano, serão 7,5 mil toneladas de óleo de soja.

Com isso, o consumo total de biodiesel deve saltar de 9,8 bilhões de litros em 2025 para até 11,3 bilhões de litros, nos cálculos do economista-chefe da Abiove, Daniel Furlan.

O CEO da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), Evandro Gussi, disse que o etanol é “o jeito fácil de reduzir emissões de carbono” durante evento no Ministério de Minas e Energia, nesta quarta-feira (25/6).

André Lavor, CEO e cofundador da Binatural, uma das principais produtoras de biodiesel do país, disse que a aprovação do B15 é uma sinalização positiva para a descarbonização do país em ano de COP30 em Belém (PA).

“Mostramos ao mundo que é possível conciliar desenvolvimento com sustentabilidade. O avanço da mistura obrigatória do biodiesel significa menos emissões, mais empregos, e renda para milhares de famílias da agricultura familiar”, disse, em nota.

“O biodiesel movimenta uma cadeia muito grande: fomenta inovação, reduz a dependência de fósseis e impulsiona a economia com impacto ambiental positivo”, completou.

Revolução

O presidente-executivo da Abiove, André Nassar, afirmou que o programa Combustível do Futuro, que ganha tração com a elevação das misturas, vai estimular uma nova “revolução agrícola” com a possibilidade de plantio de culturas oleaginosas na segunda safra. Atualmente, o principal produto deste tipo do país, a soja, usada para produção de biodiesel, é plantada no verão (primeira safra).

“O Combustível do Futuro vai estimular aquilo que o milho foi pioneiro, podemos ter oleaginosas de segunda safra. A indústria vai mostrar ao produtor que precisa de lavouras assim porque melhora a eficiência do ponto de vista de emissões”, afirmou durante evento no Ministério de Minas e Energia nesta quarta-feira.

“Acredito na diversificação de lavouras anuais de segunda safra sendo estimuladas pelas empresas que estão produzindo biodiesel, mas não só para olhar para o biodiesel, mas para o SAF (combustível sustentável de aviação, na sigla em inglês), HVO (óleo vegetal hidratado)e combustível marítimo.

Esse setor terá normas fortes de redução de emissão, comprovação e rastreabilidade, e a segunda safra tem muitas vantagens em relação à segunda safra”, acrescentou.

“Vamos ter uma boa revolução agrícola com oleaginosas de segunda safra”, concluiu.

Rafael Walendorff – Valor Econômico