Fabricantes de biodiesel reclamam de ‘enganação’ em nota da CNT
Uma nota que foi publicada no começo da noite desta última sexta-feira (24) pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) inaugurou uma nova frente na batalha que os fabricantes de biodiesel vêm travando nos últimos meses para normalizar o mandato de biodiesel. Nas últimas semanas, representantes das usinas vêm fazendo uma peregrinação pela Esplanada dos Ministérios para convencer o alto escalão do governo federal a destravar a mistura que se encontra em níveis reduzidos desde maio de 2021.
Atualmente a mistura está em 10%. Pela regra vigente – na Resolução CNPE 16/2018 – a mistura deveria estar em 14% desde o começo de março passado e avançar para 15% na virada deste mês.
Nos últimos dias, representantes do governo têm dado sinais de que devem atender o pleito dos fabricantes. Tudo indica que a decisão da ANP de liberar que as distribuidoras fechem contratos mensais de fornecimento de biodiesel no 2º bimestre seja para acomodar um cronograma de aumentos na mistura obrigatória.
Oposição
Nem todos estão contentes com essa possível retomada. É o caso da CNT.
Segundo a entidade que representa 164 mil empresas de transportes espalhadas por todo o território nacional, ao aumento no teor de biodiesel não só “irá gerar custos adicionais ao valor do frete (...) encarecendo ainda mais o transporte e, por consequência, os produtos consumidos e exportados” como ainda faria com que “os veículos passem a emitir mais poluentes, especialmente o óxido de nitrogênio”.
Além das reclamações, o texto da CNT também coloca na conta do biodiesel um pretenso aumento nos casos de “panes súbitas em ônibus e caminhões”. “Isso pode provocar acidentes com vítimas fatais, o que preocupa todo o setor de transporte no Brasil”.
Estratégia de enganação
A nota enfureceu os fabricantes. Na própria sexta-feira (24), as três principais organizações do setor – Abiove, Aprobio e Ubrabio – publicaram uma nota conjunta nas quais repudiam o que qualificam como uma “estratégia de enganação da opinião pública” adotada pela CNT.
“Numa nota requentada, lançada na sexta-feira (24/02), a Confederação Nacional do Transporte (CNT) repete uma história mal contada de dois anos atrás. Dispara inverdades e desdenha de fatos reconhecidos e demonstrados publicamente com base em vasta quantidade de documentos e informações precisas”, diz o texto que reforça que há consenso de que a troca do diesel fóssil pelo biodiesel “reduz as emissões de particulados, monóxido de carbono e hidrocarbonetos” e lista uma série de estudos científicos publicados ao longo dos últimos anos que comprovam os benefícios do biodiesel para a saúde pública.
O texto também ressalta que não há qualquer caso comprovado de que o uso de misturas de até 15% de biodiesel tenha causado danos a máquinas e motores no Brasil. E aponta que foram feitos testes extensos no país. “Em nível técnico, foram realizadas duas grandes baterias de testes de longa duração (...) para misturas de 10% e 15% de biodiesel ao diesel - o maior programa de testes de biodiesel do mundo”, diz acrescentando ainda que a especificação do biodiesel brasileiro está passando por revisões que vai credenciar o produto nacional como um “combustível adequado aos motores diesel mais modernos”.
Evitando a polêmica
Além das 3 entidades do setor, a Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FPBio) também publicou uma nota que – embora não cite a nota da CNT – resume uma série de declarações em favor do biodiesel dadas por membros do governo federal e defende a aprovação que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprove um novo cronograma.
O texto da frente também faz um apelo ao diálogo intersetorial. “A FPBio reforça a importância do diálogo, de modo que reitera o convite aos mais diversos atores da sociedade civil, bem como aos órgãos governamentais, para discutir os melhores caminhos para o futuro sustentável do país”, diz em seu encerramento.
A nota publicada pelas entidades representativas do setor de biodiesel pode ser lida na íntegra clicando aqui
A nota publicada pela Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FPBio) pode ser lida clicando aqui
A nota publicada pela CNT pode ser lida clicando aqui
Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com