BSBios faz segundo empréstimo com metas sustentáveis
A BSBios, maior produtora de biodiesel do país, acertou seu segundo financiamento com taxas de juros atreladas a metas de sustentabilidade. A companhia contratou mais R$ 40 milhões com o Santander com taxas vinculada ao aumento do uso de gordura animal, resultante do abate de animais, como matéria-prima para a produção do biocombustível. Agora já são R$ 100 milhões em empréstimos atrelados a objetivos sustentáveis.
O resíduo representa hoje entre 35% e 40% das matérias-primas que a companhia utiliza na produção de combustível renovável. As principais são os óleos vegetais, em particular a soja, que garantem de 60% a 65% da necessidade.
No empréstimo acertado com o Santander, a BSBios comprometeu-se a elevar a participação da gordura animal de fornecedores que participarem de seu Programa 2SC. O objetivo é, até o vencimento do empréstimo, em dois anos, ampliar a fatia da gordura para 47% do fornecimento no âmbito desse programa, para aproximadamente das 170 mil toneladas - além de aumentar a emissão dos Créditos de Descarbonização (CBios).
Se a companhia não alcançar essa meta, não haverá desconto nos juros. O Santander e a BSBios não divulgaram quanto a taxa poderá diminuir se a meta for alcançada, mas normalmente, as operações vinculadas a objetivos sustentáveis preveem descontos entre 5 a 15 pontos.
Nem sempre, porém, as empresas que fazem esse tipo de operação atingem as metas acordadas. Segundo Alex Sciacio, líder de Green Finance do Santander, entre 20% e 30% das empresas que tomam empréstimos vinculados a metas ESG não as alcançam. O empréstimo de R$ 40 milhões vence no fim de 2024. No meio do período, o Santander avaliará se a BSBios está no caminho certo.
O aumento do uso de gordura animal em sua produção também pode abrir mais mercados à companhia. Segundo Erasmo Carlos Battistella, dono da BSBios, com o aumento da compra de matéria-prima sustentável, “é possível triplicar a exportação de biodiesel, porque já há demanda”.
Para participar do Programa 2SC da BSBios, os fornecedores têm que garantir a rastreabilidade das matérias-primas e comprovar que a produção primária atende a regras exigidas por certificações. O fornecedor poderá atender aos critérios do RenovaBio, programa nacional de estímulo aos biocombustíveis. Também poderá atender ao International Sustainability and Carbon Certification (ISCC), que garante o cumprimento dos requisitos ambientais para os biocombustíveis participarem da Diretiva Europeia de Energia Renovável, à certificação da Agência de Proteção Ambiental (EPA) americana ou ao programa de renováveis da Califórnia (EUA), o CARB.
O fornecedor que cumprir os requisitos das certificações receberá um bônus atrelado ao valor de mercado do CBio, com base na relação entre crédito e tonelada de matéria-prima elegível comercializada e entregue para a BSBios. Para atender aos requisitos, a empresa concederá treinamento técnico garantido por uma parceria Sebrae e Senai.
O empréstimo anterior, de R$ 60 milhões, também foi acertado com o Santander no meio do ano e estabeleceu como meta a ampliação do uso de óleo de cozinha usado como matéria-prima. A meta é chegar a 8,4 mil litros de óleo de cozinha em seis meses e elevar em 15% a renda de famílias que integram a cooperativa de reciclagem de Passo Fundo (RS), onde o óleo é coletado. No ano passado, a BSBios usou 17,8 milhões de quilos de óleo usado, o que respondeu por 2% das matérias-primas usadas.
Para aumentar a compra do óleo usado, a BSBios acertou a instalação de novos pontos de coleta, o fornecimento de equipamentos para armazenamento durante o transporte e treinamento técnico para os cooperados da Cooperativa Amigos do Meio Ambiente (COAMA), que realiza esse trabalho. Atualmente, 22 fornecedores vendem óleo usado para a BSBios.
Camila Souza Ramos – Valor Econômico
