MCTI investiu R$ 160 milhões em biodiesel nos últimos 10 anos
Os investimentos feitos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em pesquisas sobre o biodiesel, nos últimos dez anos, foram responsáveis pela consolidação da cadeia produtiva da matriz energética no País. A constatação é do pesquisador da Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Donato Gomes Aranda, um dos coordenadores do livro "Parâmetros Físico-Químicos para os Processos de Produção de Biodiesel", lançado nesta quarta-feira (01). "Somos o segundo maior produtor de biodiesel do mundo", afirmou.
Desde 2005, o MCTI investiu aproximadamente R$ 160 milhões na Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel (RBTB), que tem por atribuição articular a pesquisa e o desenvolvimento do processo de produção do combustível renovável no País. "A gente pode dizer com tranquilidade que grande parte da competitividade no mercado do diesel e biodiesel no Brasil deve-se, sem sombra de dúvida, desde o início, a esse investimento feito pelo MCTI na pesquisa em biodiesel. Esse apoio multidisciplinar promoveu a competitividade do biodiesel", ressaltou Aranda.
"Não há nenhum outro setor nesse país onde há tanta interação da indústria com a ciência, a tecnologia e a pesquisa nas universidades, como o setor de biodiesel. O biodiesel é um case, e a consequência disso é a competitividade", disse.
Inclusão social
Ele acrescentou que o setor do biodiesel é responsável por uma série de melhorias na vida econômica e social da população brasileira. "Nós temos mais de 300 mil pessoas envolvidas com a agricultura familiar, diretamente, arraigadas ao programa do biodiesel. Dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento Agrário [MDA] mostram que a renda dessas famílias nos últimos cinco anos triplicou. Isso é inclusão social de verdade", enumerou.
Segundo o pesquisador, o Brasil deu um salto enorme no setor. "Dez anos atrás, tínhamos zero fábricas de biodiesel no Brasil, hoje, são 58 autorizadas pelo ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis]", disse.
Pesquisa e inovação
O coordenador de Ações de Desenvolvimento Energético do MCTI, Rafael Menezes, listou algumas ações onde foram aplicados os recursos do MCTI, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Setec/MCTI), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da ordem de R$160 milhões.
"Recentemente, fizemos um levantamento para o ministro Aldo Rebelo das ações que envolveram energia em biocombustíveis e pudemos detalhar quais foram as ações que a Setec influenciou no âmbito do programa do biodiesel. Dos R$160 milhões, foram 14 editais, sendo 13 do CNPq, um da Finep, 30 encomendas tecnológicas para resolver gargalos específicos no âmbito do programa, e 50 ações desenvolvidas no âmbito do PPA [Plano Plurianual]", disse.
"Os resultados são muito expressivos. E há muitas métricas para expressá-los, uma delas embora pouco científica, é que há dez anos uma pesquisa na internet com as palavras biodiesel e Brasil gerava cinco retornos de artigos científicos publicados. Em 2014, a mesma pesquisa gerava mais de 350 retornos", afirmou o de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, Armando Milioni.
O livro "Parâmetros Físico-Químicos para os Processos de Produção de Biodiesel" é mais um desses resultados. Inédita no Brasil, a publicação fornece dados dos processos de produção e uso do biodiesel para a indústria brasileira e, com isso, preenche uma lacuna na literatura do setor. O livro reúne os principais resultados alcançados por um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Tecnologia (INT/MCTI), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). O estudo foi financiado pelo MCTI, via Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O pesquisador do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), Eduardo Cavalcante, lembra que a unidade de pesquisa ligada ao MCTI chegou a desenvolver estudos pioneiros com biodiesel a partir do óleo de amendoim na década de 1980, produto utilizado de forma experimental em um ônibus da Mercedes Bens. A partir do lançamento do Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel (PNPB), a instituição passou a atuar no apoio às políticas de governo nas áreas de produção e controle de qualidade do biocombustível.
O especialista estuda questões relacionadas à estabilidade de armazenamento e problemas associados com degradação e preservação da qualidade ao longo da estocagem de produto e "vê com bons olhos" o desenvolvimento do setor no Brasil, no sentido de tornar o uso do biodiesel mais amplo e permanente. Para ele, a publicação permitirá o acesso mais facilitado para a indústria às informações até então só disponibilizadas em periódicos e revistas especializadas. "Sei que o mundo hoje tende a ser mais digital, mas o livro é importante, principalmente para o chão de fábrica e para as indústrias que trabalham com utilização e produção de biodiesel", avalia.
Para a secretária executiva do Ministério, Emília Ribeiro, ministra em exercício durante a semana, enquanto Aldo Rebelo cumpre agenda nos Estados Unidos, o livro reúne informações de uma das áreas de maior interesse da Pasta e, consequentemente, do Governo Federal. "Esse livro passará a ser livro de mesa de trabalho que eu quero estudar um pouco mais, até porque é uma das pautas do ministro, uma das mais importantes na área de ciência e tecnologia, e da presidenta Dilma Rousseff, no Governo Federal como um todo", disse.