Safra nova, adoção de biodiesel e guerra comercial determinarão preço da soja
O mercado de soja tem à frente pelo menos um fator de sustentação de preços no segundo semestre, que é a proposta de aumento da mistura de biocombustíveis nos Estados Unidos nos combustíveis fósseis em 2026 e 2027. A definição da área plantada na safra americana 2025/26, cuja estimativa será divulgada no dia 30, e o impacto da guerra comercial entre EUA e China também serão determinantes na tendência de preços da commodity no mercado internacional. A avaliação é dos analistas da Hedgepoint Global Markets.
No dia 13, a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) propôs elevar de 3,35 bilhões de galões para 5,61 bilhões de galões o volume de biodiesel e diesel renovável para mistura nos combustíveis fósseis usado no país em 2026, subindo para 5,86 bilhões de galões em 2027. A proposta ainda será discutida para uma definição final em agosto.
“É difícil estimar até onde o preço pode ir, depende se a proposta vai ser aceita como está ou se o volume adicional será menor. Mas é um aumento importante na mistura, que traz uma demanda importante para o óleo de soja nos EUA. Considerando que os estoques finais de soja fiquem por volta de 4 milhões de toneladas, haveria espaço para a cotação da soja ser trabalhada acima dos US$ 11 por bushel, talvez mais perto de US$ 12, se a proposta for aceita na íntegra”, avaliou Luiz Fernando Roque, coordenador de Inteligência de Mercado da Hedgepoint.
O consultor projeta dois cenários possíveis, um de adoção de 100% da proposta de aumento do consumo de biocombustíveis da EPA e outro com adoção de 50% do volume proposto pela agência. Em um cenário de adoção integral, o esmagamento de soja no EUA passaria de 65,9 milhões de toneladas na safra 2024/25 para 74,5 milhões de toneladas na safra 2025/26. O estoque final sairia de 9,5 milhões de toneladas para 4,4 milhões de toneladas.
No cenário de adoção de 50% do volume proposto pela EPA, o esmagamento de soja no país chegaria a 72 milhões de toneladas e o estoque final baixaria para 6,1 milhões de toneladas de soja em 2025/26.
Esse cenário considera exportações passem de 50,3 milhões de toneladas na safra 2024/25 para 47,4 milhões na próxima temporada.
Roque observou que esse desempenho também depende do resultado da guerra comercial entre China e Estados Unidos. “Se as importações pela China caírem no mesmo nível do aumento do esmagamento nos EUA, os estoques não mudam, daí não haveria uma alta expressiva nos preços”, ponderou Roque.
Em maio, EUA e China chegaram a um acordo e reduziram, por 90 dias, as tarifas de importação de produtos negociados entre eles. Para Thais Italiani, gerente de inteligência de mercado da Hedgepoint, a incerteza sobre o ritmo de compras da China ainda persiste.
“Não vemos a China comprando volumes maiores de soja da América do Sul. A China tem mantido seus estoques na casa de 35% a 36% do seu consumo anual, o que significa que o país está mais confortável para comprar soja”, afirmou Italiani.
No acumulado de janeiro a maio, a China importou dos EUA 22,2 milhões de toneladas, 29% mais que no ano anterior. As importações do Brasil, por sua vez, somaram 33,7 milhões de toneladas, 15% menos que no mesmo intervalo do ano passado. As importações totais da China se mantiveram estáveis em 60,3 milhões de toneladas até maio.
“A China comprou quase 14 milhões de toneladas do Brasil em maio do ano passado. Neste ano comprou 12 milhões de toneladas. Ainda há espaço para a China comprar mais do Brasil em junho”, avalia a analista.
Roque acrescentou que outro ponto de atenção é o plantio da safra 2025/26 nos Estados Unidos, que começa agora. No dia 30, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulga o primeiro relatório de área plantada de grãos no país.
O USDA informou em relatório recente que prevê uma produção de 118,1 milhões de toneladas de soja na safra 2025/26, estável em relação à temporada passada. Mas a Hedgepoint estima uma produção mais próxima de 117 milhões de toneladas, se o clima for favorável. “As condições de lavoura mostram que a safra não está largando tão bem assim para ter esse nível de produtividade que o USDA diz”, afirmou Roque.
As exportações americanas de soja estão estimadas em 49,4 milhões de toneladas na safra 2025/26, redução de 2%, ou quase 1 milhão de toneladas em relação ao ciclo passado. Já o esmagamento terá incremento de 3%, para 67,8 milhões de toneladas, aumento devido à maior demanda de óleo de soja para biodiesel.
Roque salientou que as exportações de soja dos EUA na safra 2024/25 estão perdendo força e as entregas em aberto somam 3,7 milhões de toneladas. Além disso, faltam 1,2 milhão de toneladas de registros para atingir a estimativa total do USDA.
“Ainda há 4,9 milhões de toneladas de exportação de soja em risco por causa da guerra comercial. Não houve um grande acordo com a China que traga segurança para esses volumes. Por isso é importante acompanhar a evolução dos embarques semanais americanos”, afirmou Roque.
Cibelle Bouças – Globo rural