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Dendê / Palma

Indústria de palma articula expansão da atividade no Pará


Valor Econômico - 09 out 2025 - 15:16

A indústria brasileira de óleo de palma quer aproveitar o ano de COP30, em Belém (PA), para apresentar um projeto de expansão da atividade pelo Estado que, atualmente, concentra 98% da atividade no país. O objetivo é acelerar o crescimento das áreas de palmeiras de palma até 2030 em áreas de pastagens degradadas com agricultores familiares.

A iniciativa é ambiciosa, mas os próximos anos serão decisivos para o Brasil assumir o protagonismo na produção de biocombustíveis, tendo o óleo de palma como uma matéria-prima vantajosa para o ‘biodiesel verde’, por apresentar maior capacidade de sequestro de carbono em comparação à soja.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Óleo de Palma (Abrapalma), Victor Almeida, a meta do Plano Nacional do Combustível do Futuro para 2030, de ter biocombustível na mistura de gasolina e no diesel, favorecerá o mercado.

Entretanto, o entrave para o crescimento é o acesso ao crédito. Nesse contexto, a agricultura familiar se torna a principal alternativa. Ademais, o segmento está concentrado nas mãos de apenas dez empresas, todas representadas pela Abrapalma. As processadoras detêm 80% das áreas cultivadas, localizadas, principalmente no nordeste paraense, somando cerca de 250 mil hectares plantados.

Almeida destaca que as reuniões pré-COP e as plenárias de novembro serão espaços relevantes para apresentar a viabilidade econômica e ambiental do setor. Porém, por ser uma atividade concentrada em dez empresas, Almeida conta que a Abrapalma pretende se juntar com as indústrias de óleos para fazer coro ao óleo de palma como alternativa verde no processo de descarbonização, a ser liderado pelo Brasil.

O Grupo Oleoplan, também do Pará, será um desses parceiros de representação na COP. “Trata-se do óleo mais produzido e consumido no mundo, com potencial para recuperar áreas degradadas com florestas e papel estratégico para a indústria de biodiesel, já que seu uso na produção do biocombustível é irrestrito”, afirma Leonardo Zilio, diretor de relações institucionais e de sustentabilidade da Oleoplan.

Segundo o executivo, a substituição do diesel fóssil pelo óleo de palma pode reduzir em até 72% as emissões de gases de efeito estufa, contribuindo, no médio prazo, para diminuir a dependência das importações. Ele defende a regularização fundiária para consolidar a cadeia produtiva e permitir sua expansão para outros Estados, como Bahia e Rondônia, desde que haja subsídios e políticas de apoio integradas à agricultura familiar.

O interesse é estratégico e mira a indústria promissora de biodiesel que, atualmente, está mais associada à soja. “A soja requer sete vezes mais área para produzir o mesmo [volume de óleo]”, frisa Almeida. O segmento da palma tem capacidade de crescer de 2 mil a 3 mil hectares por ano e alcançar uma produção de óleo de 7 milhões de toneladas até 2030. A COP, então, se converte em oportunidade para debater as viabilidades produtiva e econômica da cultura perene, acrescenta.

Segundo a Abrapalma, o agricultor familiar na Amazônia tem acesso a R$ 250 mil por meio de uma linha do Programa Nacional da Agricultura Familiar para projetos de bioeconomia. Com prazo de cinco a oito anos de carência para a cultura, a oferta do recurso às famílias produtoras é para implantar 10 hectares, sendo necessário contrato de parceria com a indústria, com garantias da operação definidas pela integradora.

A entidade, então, quer estimular mais agricultores familiares a serem seus fornecedores para expandir o cultivo e beneficiamento do óleo. “O investimento é de longo prazo. Apesar de a planta produzir em 24 meses, pode levar cinco anos para atingir o potencial produtivo. Nesse período, as empresas investem até atingir o break even”, explica o presidente da organização, Almeida.

Para isso, a associação conduz a parceria entre as empresas associadas e os produtores familiares, que ficam responsáveis por fornecer os cachos de frutos frescos (CFF). O contrato tem duração de 25 anos, período de auge produtivo da palma. Durante esse tempo, os produtores recebem um valor lastreado na cotação internacional da palma, cujas bolsas de referência estão na Ásia. Em paralelo, as empresas têm de fornecer as mudas, assistência técnica, insumos e auxílio na obtenção de crédito financeiro.

A Belém Bioenergia Brasil (BBB) aposta nesse modelo. A empresa nasceu em 2011 a partir de um acordo de investimentos em biocombustíveis entre a Petrobras Biocombustível e a portuguesa Galp Energia. Hoje, a companhia é a maior beneficiadora de palma do Brasil e produz em média 150 mil toneladas anuais de óleo de palma bruto.

Segundo Eduardo Junior, presidente da BBB, a empresa responde por cerca de 30% da produção nacional de óleo de palma, uma das maiores na América Latina. A área total de cultivo é de 48,5 mil hectares de plantio próprio, dos quais 43 mil estão em produção com agricultores familiares. Os cultivos estão entre os municípios paraenses de Tailândia e de Tomé-açu.

Em abril deste ano, a BBB lançou um programa de expansão da área de cultivo de dendê junto com pequenos e médios produtores da agricultura familiar. O objetivo é plantar 4.250 hectares, espalhados por oito municípios com mais de 670 agricultores familiares de pequeno e médio portes envolvidos. Estima-se usar recursos do crédito rural do Programa Pronaf Bioeconomia.

Hoje, cerca de 8% da produção da empresa vem dessas parcerias, e o plano é que esse número chegue a 17% até 2030 e 50% até 2038 sob os parâmetros socioambientais globais, o que facilita o acesso ao crédito e a credibilidade em palcos internacionais, como o da COP, diz o executivo. Para ele, o evento será crucial para provocar o diálogo sobre modelos de produção sustentáveis na Amazônia, embalado pelo caso da palma.

“Como se trata de uma cultura de capital intensivo de investimento, com a taxa de juros alta, ficam praticamente impossíveis novos investimentos em plantios. A visibilidade internacional do evento pode gerar apoio a políticas públicas, investimentos em tecnologias verdes e valorização de cadeias produtivas como a do óleo de palma”, espera.

Na mesma pegada, está a Denpasa, que foi a primeira companhia de palma do Pará. Desde 2023, possui um programa de assistência técnica e de financiamento de famílias produtoras de Palma na região de Tomé-Açú. No momento, financia cinco hectares de plantio por produtor, mas também espera contar com subsídios, como linhas de crédito a juros menores para que os agricultores com as terras regularizadas possam acessar recursos.

Roberto Yokoyama, presidente da Denpasa, está otimista com a COP fazer coro a produção de óleo de palma brasileira. Porém, ressalta que o setor vive uma das fases mais críticas de sua história, com queda na produção, dificuldades de expansão e problemas estruturais que se arrastam há décadas. O alto investimento para entrar na cadeia costuma assustar investidores. Por isso o setor se volta à agricultura familiar e à apresentação que possam fazer na COP para capturar a atenção de investimentos.

“Na área da Denpasa, havia produtor rural com renda líquida de R$ 200 ao mês. Com a palma, o caixa familiar saltou para R$ 4 mil”, calcula Yokoyama. Outra vantagem competitiva da palma é ser a única oleaginosa capaz de substituir gordura sólida sem hidrogenação, oferecendo um produto sem gordura trans. Sua produtividade pode chegar de oito toneladas a dez toneladas de óleo por hectare, quando bem manejada, acrescenta.

A demanda aquecida dá fôlego ao setor: só para atender a indústria alimentícia nos próximos anos, seriam necessários 400 mil hectares plantados no Brasil. Ao somar a demanda do setor de biocombustíveis, o potencial de cultivo chegaria a 1 milhão de hectares.

No Pará, há 1,15 milhão de hectares aptos para expansão, segundo estudo realizado pela Fundação Solidaridad, encomendado pela Abrapalma. Hoje, o Brasil produz cerca de 600 mil toneladas, o que representa de 10% a 15% da demanda do biodiesel feito no Brasil. A maior produção da commodity está na Ásia: a Indonésia responde por 59% do óleo de palma gerado no mundo, seguida da Malásia, que responde por 25%. Se o plano de expansão for bem-sucedido, o Brasil poderá ultrapassar a Colômbia, atual líder latino-americana, com 450 mil hectares plantados em 2020.

Além do biocombustível, o óleo de palma serve como matéria-prima das indústrias de limpeza e higiene, cosméticos e, principalmente, alimentícia. A commodity pode substituir e baratear a textura do cacau no chocolate em barra, por exemplo, no caso de rótulos inferiores, mas populares por serem acessíveis. O cultivo de palma gerou R$ 1,7 bilhão de receita em 2023 e empregou 13,8 mil trabalhadores formais, conforme a Relação Anual de Informações Sociais (Rais).

Outra gigante do setor, a Agropalma, aposta também na produção de mudas clonais que possam abastecer o mercado em crescimento. Hoje, a produção é de mais de 500 mil mudas e o objetivo é atingir 2 milhões em 2032. Com a meta, a empresa estima que a clonagem poderá gerar um faturamento extra de R$ 30 milhões anuais. “Tudo isso leva em consideração o alto potencial de mercado, visto que se estima haver 1,5 bilhão de hectares de palma plantada no continente latino-americano, o que corresponde a 214 milhões de plantas para substituir, considerando que a renovação da palma leva 25 anos”, informou a companhia em nota.