O agitado ano de 2025 do setor de biodiesel
Tem anos que queimam a largada e começam antes do dia 01 de janeiro. Foi o caso de 2025. Para o setor de biodiesel ele, na prática, começou quase dois meses antes do que deveria com a sanção da Lei do Combustível do Futuro e uma série de anúncios de alta octanagem incluindo investimentos multimilionários em capacidade produtiva por parte de players estabelecidos, a possibilidade de novos entrantes de bastante peso, e a compra de usinas existentes por alguns dos maiores grupos empresariais do setor.
Foi justamente uma dessas compras que tornou a Be8 o maior fabricante de biodiesel do país em capacidade instalada, superando a Oleoplan – que também havia chegado a essa posição por meio de aquisições.
Além disso, depois de ter ensaiado uma retirada completa, a Petrobras voltou a flertar com o mercado de biocombustíveis. Calçada num orçamento de US$ 4,3 bilhões para investir em bioprodutos que prevê a oferta de diesel e de QAV coprocessados com uma parcela renovável, bunker naval com 24% de biodiesel.
Apesar dessa euforia inicial, o começo do ano não foi particularmente favorável para o setor. Assustado com a inflação dos alimentos, o governo Lula decidiu adiar a chegada do B15. Previsto para acontecer em março, o aumento da mistura ficou na geladeira por mais cinco meses passando a valer apenas em agosto.
No fim das contas, o B15 chegou com quase dois anos e meio de atraso em relação ao cronograma que havia sido fixado em outubro de 2018 pelo CNPE. Isso custou aos fabricantes 7,86 milhões de m³ em vendas perdidas.
E pode ser que a realização das promessas do Combustível do Futuro pode demorar mais do que as usinas gostariam, o MME já admitiu que o prazo para a chegada do B16 pode não ser cumprido por falta de tempo hábil para comprovar a viabilidade técnica exigida pelo texto legal antes dos novos aumentos da mistura obrigatória. O subcomitê que vai coordenar os testes foi formalizado no final de outubro, cinco meses antes do prazo fixado para o próximo aumento da mistura obrigatória.
Fraudes
Além dessa má notícia, o setor também foi abalado pela informação de que havia distribuidoras oferecendo abertamente ‘diesel puro’ para seus clientes evidenciando a exigência de um esquema estruturado de fraudes da mistura obrigatória. Isso levou a ANP a intensificar a fiscalização sobre os distribuidores. O Sindicom chegou a pedir a suspensão da mistura de biodiesel o que acabou sendo negado pela ANP.
Para tentar colocar um fim nas fraudes no segmento, o governo federal editou um decreto endurecendo as punições contra distribuidoras que vendem diesel com menos biodiesel do que deveriam. O mesmo decreto tenta desencorajar o descumprimento das metas de descarbonização do RenovaBio. Mesmo evitando um 'Sudeste' em emissões de gás carbônico; o programa tem estado sob sítio de distribuidoras que usam de liminares judiciais para protelar o pagamento de suas obrigações legais e, dessa forma, ganhar vantagem sobre suas concorrentes.
A edição do decreto governamental precipitou uma nova rodada de judicialização do RenovaBio. Com as distribuidoras, dessa vez, buscando evitar a inclusão de seus nomes na ‘lista suja’ do programa.
Mas isso foi só uma prévia das revelações que viriam alguns meses depois quando a Operação Carbono Oculto revelou a extensão da infiltração do crime organizado no mercado de combustíveis. Um dos desdobramentos dessa operação – e das subsequentes – foi a interdição da Refinaria de Manguinhos pela ANP. Dono do empreendimento, o Grupo Refit acumula dívidas superiores a R$ 25 bilhões com o fisco.
As revelações geraram a pressão necessária para que o Congresso aprovasse um PL criando critérios para identificar empresas que atuam como ‘devedoras contumazes’ usando a sonegação fiscal para se tornarem mais competitivas.
Esse esforço pela moralização do mercado de combustíveis, contudo, esbarra em dificuldades. A ANP vem enfrentando seguidas crises orçamentárias que já obrigou a agência a suspender duas vezes as atividades do PMQC. O setor tem saído em defesa da agência inclusive por meio da doação de equipamentos usados para a fiscalização da mistura de biodiesel.
Na corda bamba
Em 2025, o governo brasileiro fez o possível para se equilibrar numa corda bamba.
Ao mesmo tempo em que procurava aproveitar a vitrine aberta pela COP30 para vender uma imagem de liderança ambiental e realizava esforços pela aprovação de um mapa do caminho para a superação dos combustíveis fósseis e pelo estabelecimento de um compromisso global prevendo quadruplicar o uso de biocombustíveis – o chamado Belém 4x –, o governo Lula também aderiu à Opep+ e decidiu abrir uma nova fronteira para a exploração do petróleo na Foz do Amazonas.
O setor de biodiesel também apostou pesado na COP30 construindo uma articulação com outros elos da cadeia para demonstrar o potencial dos biocombustíveis como solução pronta para a transição energética. Uma iniciativa da Be8 com Mercedes-Benz cruzou o país abastecida com 100% biocombustível.
Embora tenha saído da COP30 sem incluir o mapa do caminho nos documentos finais da conferência, o governo brasileiro vem se articulando para que o país elabore o seu próprio mapa.
Internacional
Este também foi um ano turbulento no front internacional. Com a volta de Donald Trump à Casa Branca, entramos numa reedição da guerra comercial travada no primeiro mandato do Republicano. Dessa vez, sobrou até para o Brasil que amargou tarifas de 50% durante alguns meses. Mas o maior cabo de guerra foi, novamente, entre EUA e China.
Por conta das tarifas impostas por Washington, o governo de Pequim passou meses esnobando soja dos Estados Unidos o que desviou parte da demanda para o Brasil. Isso turbinou as exportações brasileiras que, até novembro, já somavam 105 milhões de toneladas. Felizmente, isso aconteceu num ano em que o Brasil colheu uma safra cheia com produção de inéditas 171,5 milhões de toneladas de soja.
Esta é a última publicação que BiodieselBR.com deverá fazer em 2025. A partir de amanhã (20), o portal inicia seu período de recesso de final de ano devendo retomar as atividades normais cobrindo o setor de biodiesel no dia 12 de janeiro de 2026. Para todos os nossos leitores desejamos boas festas. E que tenhamos um ano ainda melhor do que aquele que está se encerrando. Esses são os votos da Redação de BiodieselBR.com
Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com