Ipea mostra baixo impacto de lei antidesmatamento da UE sobre carne e soja brasileiras
O impacto da lei antidesmatamento da União Europeia, que passa a valer em 01 de janeiro de 2025, pode ser menor sobre as exportações brasileiras do que se tem dito. Diante da grita de governo e exportadores contra a European Union Deforestation Act (EUDR), que vai barrar produtos importados originados de áreas que foram desmatadas a partir de 2020, a equipe da Diretoria de Estudos Internacionais (Dinte) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) realizou o cruzamento de informações de uso da terra e exportações por bioma, dos principais produtos da pauta brasileira, carne e soja, e o resultado surpreendeu.
O percentual exportado para a União Europeia com risco de vinculação ao desmatamento é pequeno. As exportações de soja de áreas críticas da Amazônia representam 7% do total exportado pela região, enquanto no Cerrado esse percentual seria de 3%. Quando se fala de carne, os percentuais são de 0,4% Cerrado, 1,3% na Amazônia e 3,2% no Pantanal.
O tamanho do impacto nas exportações do país para o bloco, no entanto, não muda a urgência de que se discuta uma mudança no modelo de produção do agronegócio na direção de um Brasil mais sustentável, diz Marcelo José Braga Nonnemberg, técnico de planejamento e pesquisa na Dinte, um dos autores do estudo.
“O fato é que o Brasil está fazendo essa análise de um ponto de vista equivocado, querendo flexibilizar a lei, quando deveria por conta própria adotar medidas que reduzissem essas práticas agrícolas ligadas ao desmatamento porque isso é ruim para o país. O nível dos rios, as chuvas, o aquecimento que provocam os desmatamentos. Se alguém tem dúvida, basta olhar para a tragédia gaúcha, as secas nos rios do Amazonas ou as queimadas do Pantanal. Não se trata de uma visão de economista, apenas, de uma necessidade de modernizar os meios de produção”, opina.
Nonnemberg diz que a ideia do estudo é fornecer uma base sólida para a discussão do assunto. “A área crítica não é pequena. Para a criação de bovinos, na Amazônia, por exemplo, quase 60% da carne proveniente da região é de área desmatada. No Pantanal, 34%. No entanto, quando a gente verifica o percentual que é exportado para a União Europeia, esse percentual é muito menos significante. Se a mesma política fosse adotada pela China, seria muito mais crítico. Pelo nosso estudo, impacto da lei europeia sobre as exportações brasileiras de soja e carne bovina será pequeno”, destaca.