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Biodiesel

Leilão de biodiesel elevou proteção ao produtor


Valor Econômico - 11 abr 2008 - 07:07 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:06

 A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizou na quinta-feira o oitavo leilão de compra de biodiesel e tem marcada para esta sexta a nona rodada. Com uma série de alterações em comparação com os sete leilões anteriores, as duas novas rodadas são as primeiras com entrega programada para o período em que passará a vigorar a mistura de 3% de biodiesel ao diesel convencional. A mistura obrigatória de 2% (B2) vale desde 1º de janeiro e a B3 entra em vigor no dia 1º de julho.

Os leilões passaram a ser presenciais e com limite de dois lances por empresa. Isso evita a "canibalização", segundo o superintendente de abastecimento da ANP, Edson Silva - a disputa ferrenha pelo lance mais baixo acabou jogando o preço nos leilões anteriores a um patamar inviável para grande parte das pequenas e médias indústrias.

Outra alteração foi a redução, de seis para três meses, do prazo-limite para a entrega do biodiesel. Essa janela menor facilita a projeção dos cenários de preços das matérias-primas - a forte alta do preço da soja, principal fonte de obtenção do biodiesel brasileiro, acabou inviabilizando a entrega por alguns produtores.

Para o leilão de hoje, não será exigido o selo de combustível social, certificado que atesta a compra de uma fatia mínima de matéria-prima produzida por pequenos agricultores. Isso amplia o leque de empresas que podem participar dos leilões. "Estamos em sintonia com os ajustes de que o mercado precisa", afirma o superintendente da ANP.

Para representantes do segmento, as alterações também mostram uma certa preocupação do governo com o abastecimento. Com o B2, a demanda é de 800 milhões de litros de biodiesel por ano. A entrada em vigor da mistura obrigatória de 3% vai elevar a demanda para mais de 1,2 bilhão de litros anuais. Ainda que o volume permaneça inferior à capacidade instalada total da indústria, de 2,5 bilhões de litros, os percalços do setor, em especial a forte alta dos preços das commodities, acentuam as chances de eventuais problemas de abastecimento.

"Isso já é sinal de que o governo está preocupado, sim, com o fornecimento. Com mais empresas autorizadas a participar, esse risco diminui", afirma uma fonte ligada à indústria de óleo.

Em janeiro, as entregas chegavam a 93% do volume total acertado. Na semana passada, as entregas totalizavam 76%. A proximidade dos dois novos leilões retardou as entregas, avalia Edson Silva, mas o aumento do custo da soja contribuiu para a queda. Também na semana passada, a Petrobras realizou um leilão de recomposição de estoques, no qual foi acertada a venda de 100 milhões de litros.

"Foi mais um leilão de precaução do que por falta de recebimento", diz Odacir Klein, presidente executivo da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio). Ele reconhece que a alta da soja e seus derivados - que estimulou a exportação do óleo de soja em vez da fabricação de biodiesel - deixou muitas empresas fora dos leilões. "E elas não produziram também porque não havia mercado". A Ubrabio acredita ser possível que ainda em 2008 seja elevada a mistura compulsória para 4%.

A julgar pelo resultado do leilão de ontem, as mudanças parecem ter surtido efeito. O número de participantes, 16, foi o maior entre todos os leilões. O deságio, de 4%, foi um dos menores, e o preço médio final, de R$ 2,691 por litro, foi o mais elevado - o que também deve-se ao fato de o teto para os lances, de R$ 2,804, ser o mais alto já estabelecido pela ANP.

"As mudanças mostram que o programa ainda está em uma fase transitória. Os volumes são pequenos e a soja não é uma opção de longo prazo, mas a questão da sustentabilidade veio para ficar", diz Ingo Plöger, consultor do mercado de biodiesel