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WTI tem em abril o pior mês da sua história


Valor Econômico - 04 mai 2020 - 10:25

O mercado internacional de petróleo encerrou em abril aquele que pode ter sido - se não o pior - um dos piores meses de sua história. Diante da crise econômica global desencadeada pela pandemia da covid-19, a demanda pela commodity entrou em deterioração e o preço do barril do tipo Brent voltou a cair no mês (4%, a US$ 25), após um primeiro trimestre fraco. O setor entra em maio tateando no escuro, com sinais de flexibilização nas medidas de isolamento social, na Europa, mas sem nenhuma clareza sobre como se dará a curva da retomada. A expectativa é que o cenário de baixa nos preços perdure ao longo de 2020, exigindo cortes de produção não por parte dos principais países exportadores, como também das multinacionais.

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Enquanto o caixa das petroleiras sangra e as receitas com royalties encolhem os cofres públicos, a boa notícia está na redução dos preços dos combustíveis. Em meio à desvalorização da commodity, a Petrobras cortou em 18,8% os preços do diesel e em 15,4% o litro da gasolina nas refinarias.

A consultoria MacroSector estima que a queda dos preços da gasolina para o consumidor final foi de 9% em abril, ante março, enquanto para o diesel a redução foi de 8%. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço da gasolina atingiu, na semana entre 19 e 25 de abril, a média de R$ 3,992 o litro - o patamar mais baixo, em valores nominais, desde a semana entre 12 e 18 de novembro de 2017. No caso do diesel S10, a média de R$ 3,346 o litro foi a mais baixa, sem correção monetária, desde o período entre 24 e 30 de dezembro de 2017.

Abril foi um mês histórico. O preço do barril do tipo WTI, utilizado como referência nos Estados Unidos, entrou, pela primeira vez, no terreno negativo, cotado a menos US$ 37,63 no dia 20, devido a um colapso nos mercados futuros - uma corrida entre operadores para se desfazer de contratos do WTI para maio, às vésperas do vencimento, em meio a sinais de estoques muito elevados.

Embora tenha voltado ao azul nos dias seguintes, o WTI para junho fechou abril com retração de 23,1%, descolando-se do Brent - referência global que, por sua vez, chegou a cair abaixo dos US$ 20 pela primeira vez desde 2002.

Os números dão a tônica do que foi o mês para a indústria petrolífera. A estimativa da Agência Internacional de Energia (AIE) era de que o consumo global de petróleo registraria em abril contração de 29 milhões de barris diários, na comparação com igual mês de 2019, voltando aos patamares de demanda mais baixos desde 1995. Foi em meio a esse cenário que o diretor-executivo da agência, Faith Birol, disse que abril “poderia se mostrar o pior mês da história” para a indústria de óleo e gás. Os dados da demanda efetiva, no mês, ainda estão sendo consolidados.

Diante da queda do consumo, a Petrobras chegou a anunciar corte na sua produção, de 200 mil barris/dia. Abril foi também o mês em que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+) chegaram a um acordo para cortar em quase 10 milhões de barris diários a oferta de petróleo em maio e junho.

Diante dos altos estoques acumulados no mercado, porém, o anúncio pouco produziu efeitos sobre os preços da commodity. Para os próximos meses, a tendência é que a volatilidade continue acentuada e os preços continuem baixos, frente a compressão da demanda. A AIE estima que o consumo global deverá cair 9,3 milhões de barris/dia em 2020, um recorde. A sobreoferta continuará a demandar cortes adicionais. Nesse sentido, grandes petroleiras, como BP e a americana ConocoPhillips já sinalizaram a intenção de reduzir suas respectivas produções.

“Maio ainda deve ser um mês complicado. O mercado só vai se normalizar a medida em que os países forem gradualmente saindo de suas respectivas quarentenas. Mesmo assim, essa retomada será devagar e a tendência é que algumas empresas cortem suas produções para evitar o colapso das estocagens. E esse volume estocado vai ter que voltar ao mercado uma hora, achatando os volumes de produção ao longo do ano”, comenta o chefe de pesquisa da área de exploração e produção de petróleo da Wood Mackenzie na América Latina, Marcelo de Assis.

Em seu cenário de referência, a Bain & Company, por exemplo, projeta que a capacidade de estoque global de petróleo atingirá o limite em três meses e que a demanda mundial cairá 21 milhões de barris/dia no segundo trimestre. Nem no cenário mais otimista a consultoria prevê crescimento da demanda até o primeiro trimestre de 2021. A Bain & Company projeta que o preço do Brent ficará na faixa de US$ 10 a US$ 15 o barril durante o segundo semestre. Com uma visão um pouco mais otimista, a Fitch Ratings estima que o Brent chegará ao fim do ano ao preço de US$ 35 o barril. Para 2021, a estimativa é de US$ 45 o barril.

O minério de ferro com teor de 62% fechou abril a US$ 82,75 a tonelada no porto chinês de Qingdao. No mês, a commodity ficou praticamente estável. No ano, a perda está em torno dos 10%.

André Ramalho – Valor Econômico