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Opiniões

Quais são as opções para aumentar a nossa segurança energética?


Vicente Pimenta - 09 jun 2022 - 08:35

Pode ser que, quando você estiver lendo este artigo, a guerra da Ucrânia já tenha terminado e a crise causada pela nova onda de Covid-19 na China tenha ficado por lá mesmo, ou seja, pode ser que em breve, todos nós tenhamos um horizonte menos conturbado pela frente. Porém, pode ser que não. Ao menos no momento em que escrevo, não consigo ter muita clareza sobre como as coisas vão ficar. E um pior triplo: não consigo saber em quanto tempo esses problemas serão solucionados, se vão piorar ou quais novos obstáculos teremos pela frente.

Outra constatação óbvia desses tempos é: como a globalização nos deixou vulneráveis. A opção “make or buy”, que cansei de aplicar em minha passagem pela indústria automobilística, passou a ter de considerar as frequentes turbulências de nossos tempos. Importar tudo considerando apenas um suposto baixo custo pode se transformou em um pesadelo de difícil solução, como o que tivemos com simples máscaras e respiradores no começo da pandemia ou com os semicondutores cuja falta paralisou as linhas de montagens dos automóveis.

Administrar se tornou uma atividade sujeita a muitas intempéries: climáticas, geopolíticas, cambiais, ou uma combinação disso tudo... E, claro, a cada evento, recalculam-se as projeções, e as decisões precisam ser recalibradas. Talvez a única coisa que se manteve, porém com cores mais dramáticas, foi a necessidade de pensar de forma estratégica. Observar o que se pratica no mundo e adaptar à nossa realidade, pois uma solução que funciona no Japão ou Suécia não vai necessariamente funcionar por aqui. Com ajustes, talvez.

Em meio a esse cenário incerto, é importante que as pessoas saibam o que o Brasil pode fazer para garantir o abastecimento de diesel em uma eventual escassez de combustível importado –que hoje representa cerca de 22% do consumo. Que opções tem o Brasil? Que produtos podem, eventualmente, substituir o diesel importado?

A resposta, de tão óbvia, choca por sua simplicidade: biodiesel! Produto nacional, ambientalmente correto, com impactos positivos de renda no campo, que gera PIB, melhora a qualidade do ar e substitui o diesel mineral importado (a riqueza permanece no país). Note-se que temos hoje autorização governamental para utilizar até 15% de biodiesel misturado ao diesel comercial, e estamos com apenas 10%! Somente com esse gap de cinco pontos percentuais, estamos falando de cerca de 1,5 bilhão a mais de litros de biodiesel (e a menos de diesel importado) no próximo semestre. Uma ajuda considerável!

Óbvio que não existe indústria que consiga responder a um aumento de demanda de 50% de forma instantânea. Para atingir tal objetivo, seriam necessários movimentos incrementais. Para se falar sobre qual contribuição (imediata) que a indústria de biodiesel poderia dar, a informação que se dispõe no setor é 12%. Os produtores de biodiesel conseguem adicionar imediatamente ao diesel comercial mais dois pontos percentuais em seu volume para, a seguir, estabelecer um cronograma crescente de modo a se atingir o B15.

Qual o limite técnico que tem o biodiesel de ser adicionado ao diesel? De imediato, sabemos que o B15 já foi aprovado e que diversas montadoras aprovaram o B20 e o B30. Sabe-se também que há países usando até 30% em volume (o triplo do Brasil). Se são necessários testes para misturas obrigatórias acima de B15, somente o MME pode dizer. Entretanto, em caso afirmativo, até para que tenhamos uma margem maior de segurança energética sob controle, as autoridades deveriam estar pensando em testes de validação de B20, pelo menos. Nessas horas que temos de agradecer por morarmos no Brasil. Onde mais teríamos uma sobra disponível e de substituição perfeita de 5% do volume total de utilização no país para usar? Sabendo utilizar os recursos de que dispomos, não devem faltar.

Vicente Pimenta – Consultor Técnico da Abiove