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Biodiesel

Embrapa desenvolve nova espécie de mamona voltada para o biodiesel


Jornal da Paraíba - 16 jul 2007 - 15:30 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Uma nova espécie de mamona, caracterizada pela precocidade no cultivo, foi desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Algodão), de Campina Grande, com a perspectiva de ser o primeiro produto concebido para ser matéria-prima de energia renovável no semi-árido nordestino.  O pré-lançamento da cultivar, denominada de BRS Energia, aconteceu no dia 7 deste mês, durante a Agrishow 2007, em Petrolina/Pernambuco, mas ela só estará disponível aos agricultores paraibanos para o plantio a partir de janeiro de 2008.

As sementes poderão ser adquiridas no Escritório de Negócios Tecnológicos da Embrapa Algodão, em Campina Grande.  O lançamento oficial será em novembro deste ano.  Fruto de uma pesquisa iniciada em 2000, com experimentos feitos na Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte e Rondônia, a BRS Energia permite ao agricultor uma colheita de cachos com metade do tempo previsto para a colheita das outras cultivares disponíveis no mercado.  Para a agrônoma Maíra Milani, que está concluindo a pesquisa, a Energia dará mais chances de sucesso ao agricultor por assegurar, com menos tempo de cultivo, uma colheita com rendimento total do fruto.

O trabalho da pesquisadora Maíra Milani vem sendo acompanhado e apoiado pelo diretor executivo da Embrapa, Geraldo Eugênio, desde o início, e ele acredita que a nova cultivar possa assegurar mais sementes para o processo de esmagamento que é feito atualmente.  A própria pesquisadora assegura que as vantagens da nova cultivar nesse sentido são maiores.  Enquanto as demais cultivares lançadas pela Embrapa têm ciclos em torno de 220 e 240 dias, com uma produção média de 1.500 kg/ano, a BRS Energia tem produção de 1.800 kg/ano em apenas 120 dias.  Desta forma, como salienta, conseguem-se produções semelhantes e maiores em metade do tempo.

Além da produtividade média de 1.800 kg/ano em sequeiro, a nova cultivar tem características peculiares, como frutos indeiscentes (que não abrem quando o cacho está seco), permitindo a realização de colheita única; altura média da planta de 1,40m; número de 2 a 3 cachos por planta; teor de óleo, entre 48% e 49%; sementes beges com rajas marrons e peso médio de 100 sementes equivalente a 53 gramas.

Preços no mercado desanimam

Para a Embrapa, as pesquisas têm como propósito assegurar a mamona como base do projeto de biodiesel, anunciado pelo governo federal há quatro anos.  O projeto, porém, tem enfrentado críticas dos governos estaduais e frustração dos agricultores em função do preço do produto no mercado atual.  Na Paraíba, por exemplo, o governador Cássio Cunha Lima bancou parte do custo do transporte da primeira safra deste ano porque os preços oferecidos pelas indústrias não foram suficientes para pagar o frete.

Os governos do Rio Grande do Norte e Pernambuco decidiram estimular o cultivo do girassol e do algodão por terem um preço melhor que o da mamona.  De acordo com Júlio Zoé de Brito, presidente da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Pernambuco (IPA), para se produzir um quilo de óleo de mamona são necessários 2,5 quilos de sementes e as indústrias compram o quilo da semente por R$ 0,50, tendo um custo de R$ 1,25 de matéria-prima para a fabricação de cada litro do óleo.

Nos leilões da ANP (Agência Nacional de Petróleo), o valor médio do litro é de R$ 1,80, o que quer dizer que a indústria tem R$ 0,55 para processar a semente e vender o produto.  Um processo nada rentável para o setor.  Quem planta também acumula transtornos, e garante não dá para vender o quilo da mamona por menos de R$ 1, preço que as indústrias não querem pagar.  Com a inserção no mercado da BRS Energia e a outra cultivar que está sendo pesquisada, a Embrapa espera alterar esse quadro e oferecer melhores preços para os produtores e maior viabilidade de produção para as indústrias.  (RA)

Clima pode beneficiar produção

De acordo com ela, uma boa produção será garantida dependendo das condições climáticas e de cuidados especiais utilizados.  O ideal, como detalha, é que a região do plantio seja beneficiada com um volume de chuvas de 500 milímetros/ano ou suplementação por irrigação.  Maíra lembra que com o uso de adensamento (espaçamento de 0,7x0,4m) e irrigação, pode-se alcançar uma produção de 3.400 quilos de sementes ao ano.  Adubação orientada, lavoura limpa e colheita apenas quando os frutos estiverem secos também são importantes para o êxito da produção.

Os custos do plantio dependem do sistema de cultivo empregado por ser uma cultivar com maior resposta ao uso de insumos do que as demais.  O custo/benefício do uso de mais insumos pode ser compensado por maiores produtividades.  Maíra declara que em cultivos tradicionais, o custo tem sido semelhante.  A pesquisadora lembra que a nova cultivar deve ser plantada em municípios com altitude superior a 300 metros acima do nível do mar.

Âncora do programa de biodiesel do governo federal, a mamona tem recebido incentivos especiais da Embrapa para pesquisas de novas cultivares.  Além da BRS Energia, que a partir de novembro já poderá ser comercializada aos produtores e empresas, uma nova cultivar com as mesmas características da Energia, mas com capacidade de plantio em áreas abaixo de 300 metros de altitude, já foi prometida pela empresa, com lançamento previsto para o próximo ano.  Os estudos já estão sendo feitos e com boas expectativas dos pesquisadores.  (RA)

Tags: Mamona