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Biodiesel

Invenção brasileira planta a idéia de cultivar combustível nos campos


Financial Times - 23 jun 2006 - 08:13 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22
A "era da agroenergia" chega com um óleo diesel enriquecido por vegetal

Jonathan Wheatley

O segundo de uma série de testes industriais de uma forma modificada de diesel teve um resultado extraordinário.

Na refinaria Presidente Getúlio Vargas em Araucária, no sul do Brasil, estiveram esta semana o presidente, dois governadores de estado, três ministros, três embaixadores e vários senadores e deputados federais, juntamente com o presidente e centenas de funcionários da Petrobras -o grupo de petróleo de propriedade do governo-, suas famílias e moradores.

Houve muita pompa e muitas trocas de terno para macacão e vice-versa. Um dos motivos não tinha nada a ver com o diesel: Luiz Inácio Lula da Silva vai declarar neste fim de semana sua candidatura para as eleições de outubro e está aproveitando todas as oportunidades para inaugurar tudo o que puder, antes que seja impedido de misturar deveres presidenciais com campanha eleitoral, a partir de 1º de julho.

Mas o novo diesel merece atenção. A Petrobras o chama de H-Bio, e Roberto Rodrigues, o ministro da Agricultura, diz que ele anuncia "a construção de uma nova era, a era da agroenergia".

O H-Bio usa óleo vegetal, mas não deve ser confundido com o biodiesel, o combustível verde que já é amplamente usado no Brasil e em outros lugares.

O H-Bio usa um processo em que óleo vegetal refinado feito de soja, girassol e diversas outras fontes é misturado com óleo diesel mineral comum durante o processo de refino, para produzir um diesel que em termos práticos é indistinguível de qualquer outro, mas tem qualidade superior à do que é normalmente produzido no Brasil.

O processo foi desenvolvido pela Petrobras nos últimos 18 meses, e seus detalhes, atualmente tema de um pedido de patente, são mantidos em segredo.

Mas ele é barato. A maior parte dos US$ 38 milhões que a Petrobras pretende investir na fase inicial da produção em três refinarias, neste ano e no próximo, será gasta em armazenamento e linhas de abastecimento.

Durante os testes, o óleo vegetal está sendo misturado com diesel mineral em uma proporção de 18%. Na produção a quantidade vai variar inicialmente entre 10% e 15%. O plano, em sua primeira fase, é utilizar 256 mil metros cúbicos de óleo vegetal por ano, o suficiente para substituir importações de óleo diesel no valor de US$ 145 milhões. O volume aumentaria para 425 mil m3 em 2008, substituindo importações de diesel no valor de US$ 240 milhões.

Os números não são enormes. No início, o H-Bio vai representar apenas 1% a 1,5% do óleo diesel consumido no Brasil. Mas suas implicações podem ser revolucionárias.

Como o biodiesel ou a tecnologia flex de combustível -que permite que os motoristas decidam no posto se abastecem com gasolina ou álcool e está presente em quase todos os novos carros vendidos no Brasil-, o H-Bio coloca o país na vanguarda do desenvolvimento de combustíveis verdes, alternativos.

Enquanto o sistema flex dá liberdade de opção aos consumidores no momento da compra, o H-Bio vai um passo além e não exige qualquer modificação no motor.

"Em 15 anos estaremos vivendo em um mundo de combustível diferente", diz Jean-Paul Prates, analista da indústria no Rio de Janeiro. "Uma grande parte da economia dos combustíveis fósseis são os custos de transporte. Agora existe uma alternativa e, se ela crescer, a geopolítica dos combustíveis vai mudar completamente. Até o Iraque e a Arábia Saudita vão perder seu predomínio."

A idéia de que óleos combustíveis possam ser plantados nos campos, em vez de extraídos do subsolo, é atraente.

O impacto imediato poderá não ser grande. O ministro Rodrigues diz que o uso de soja para biodiesel e H-Bio, por exemplo, representará 2% da safra brasileira para começar, aumentando para 4% a partir de 2008.

Mas, embora o Brasil não tenha planos para exportar o combustível H-Bio, pretende ganhar royalties exportando sua tecnologia. As implicações poderão ser abrangentes. "Imagine o que os EUA poderiam fazer colocando óleo de soja no petróleo cru", diz Rodrigues. "Estamos abrindo novos horizontes para a agricultura e para a indústria de petróleo."

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Tags: Hbio