[Odacir Klein] Parar para continuar a caminhada
Coluna especial publicada na última edição da revista BiodieselBR
O apóstolo São Paulo, em carta a Timóteo, onde aparentemente se despedia, deixou uma mensagem de missão cumprida e, ao mesmo tempo, de certeza da continuação. Escreveu o missivista: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé”.
A afirmativa apostolar demonstrou a convicção de seu autor de que as atividades e inclusive a vida terrena têm períodos de duração, mas que a pregação correta e a defesa robusta de ideias com reflexos positivos oferecem resultados perenes.
É exatamente isso que ocorre com a revista BiodieselBR neste momento. Prestou relevantes serviços ao Brasil e aos brasileiros durante o período de sua circulação. Teve sua primeira publicação em outubro de 2007, ensejando, durante esse período, interação com os leitores, estímulo ao debate e oferta de informação a respeito do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). Foi mais um instrumento usado pelo grupo BiodieselBR para o cumprimento dos objetivos da empresa que, dentre outras atividades, promoveu sua edição.
Minha trajetória na área do biodiesel, com mais intensidade, ocorreu em período simultâneo ao da circulação da mencionada publicação.
Comecei a acompanhar o esforço no sentido da implantação, no Brasil, de um robusto programa para a produção e o uso de biodiesel ainda como secretário da agricultura do Rio Grande do Sul, no governo Germano Rigotto.
No entanto, após o término do mesmo, decidi dedicar-me às atividades privadas em Brasília, como advogado e também através da Klein & Associados, na prestação de serviços e, principalmente, como palestrante em reuniões e eventos.
Havia conhecido, como secretário do governo gaúcho, dirigentes de empresas do setor de agronegócio. Procurei-os para comunicar minhas novas atividades.
O dr. Juan Diego Ferrés, diretor da Granol, com muito entusiasmo na defesa da criação de uma entidade nacional representativa do setor, convidou-me para que me somasse aos esforços para viabilizar a fundação da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), que posteriormente passou a envolver também o setor de bioquerosene.
Participei das reuniões iniciais e, com a necessidade de informação correta a respeito do que ocorria na área e dos benefícios advindos da produção e uso do combustível renovável, tornei-me, como pessoa física, assinante do site BiodieselBR. com, fonte de leitura diária e obrigatória.
Recusava-me a ser somente alguém que tinha visibilidade pelo passado em posições públicas, pois entendia ser necessário um profundo conhecimento do setor para defender a boa causa.
Como usuário do site, tornei-me também leitor da revista periódica e tive a oportunidade de participar de diversos eventos promovidos por seus editores.
Agora, a decisão amadurecida é o grupo continuar suas atividades, mas encerrar a edição da revista.
Parece-me decisão acertada, pois as atividades diárias através do site e os grandiosos eventos, sempre realizados com muita qualidade, continuarão.
Nesse período, tivemos consideráveis avanços na implantação do PNPB. A lei que o criou é de janeiro de 2005. O programa tem uma década de existência legal. A mistura obrigatória foi prevista para iniciar três anos depois, com 2% adicionados ao óleo diesel consumido no território brasileiro e, em 2013, ou seja, após o oitavo ano de vigência legal, passaria para 5%.
No entanto, com o entusiasmo dos empreendedores, a capacidade industrial de produção do combustível renovável foi implantada com muita rapidez, criando a oportunidade de oferta significativa, com expressivos excedentes sobre os volumes previstos comomistura obrigatória.
Iniciou-se, então, uma campanha insistente para que ocorressem paulatinos aumentos antes da data prevista para atingir-se 8%. À época, o diálogo entre o setor produtivo e o governo era constante.
Em minhas décadas de atividades vinculadas ao setor público, dele participando ou interagindo como representante da iniciativa privada, não havia encontrado modelo institucional tão propício à interação como o que fora criado para o setor de biodiesel.
A Comissão Executiva Interministerial do Biodiesel (Ceib), formada por integrantes de diversos ministérios e órgãos públicos, sob a coordenação da Casa Civil e a titularidade do dr. Rodrigo Rodrigues, permitia constante audiência do setor. Isso ensejava informações ao próprio presidente Lula.
Lembro que ao início de meus contatos, atuando como representante da Ubrabio, disse em tom de brincadeira ao dr. César Alvarez, que assessorava diretamente o presidente da República, que pretendia estabelecer um acordo. Comprometia-me a que a entidade, que representava na ocasião toda a cadeia produtiva do biodiesel, não faria cobranças pela imprensa, jogando para a plateia, mas se manifestaria por e-mails dirigidos a ele – César Alvarez – para que fossem lidos pelo titular do Poder Executivo, com conteúdo não apenas informativo, mas até solicitando correção de rumos quando necessário.
Diversos foram os contatos com a Ceib, com a então titular da Casa Civil e atual presidente, Dilma Rousseff, e com o próprio presidente da República. Esta interação democrática ensejou paulatinos aumentos nos percentuais da mistura obrigatória, chegando-se aos 5% já no início de 2010, ou seja, três anos antes da data legalmente prevista.
A partir daí, houve um período em que a cadeia produtiva se mobilizou pleiteando novos aumentos, em função da capacidade ociosa das indústrias que se instalaram e dos reflexos positivos que isso acarretaria nas diversas áreas sociais e econômicas.
A velocidade com que as reivindicações de antecipação do B5 foram atendidas criava a expectativa de que o mesmo processo ocorresse a partir de 2010.
Os representantes do setor insistiam em demonstrar que a maior mistura obrigatória de biodiesel ao óleo diesel representaria:
■ Sensíveis benefícios para o meio ambiente, com diminuição das emissões poluentes;
■ Reflexos altamente positivos para a saúde humana;
■ Maiores benefícios para agricultores familiares e cooperativas por eles integradas, em razão do compromisso de assistência técnica e fornecimento de insumos pelas empresas detentoras do Selo Combustível Social;
■ Aumento de emprego e renda;
■ Diminuição das importações de óleo diesel, concorrendo para melhor posição de nossa balança comercial;
■ Estímulo a toda a cadeia produtiva.
O diálogo com o governo continuou, mas diversos argumentos foram apresentados para retardar a decisão. Finalmente, no dia 28 de maio de 2014 a presidente Dilma Rousseff assinou medida provisória, em solenidade do Palácio do Planalto, estabelecendo o aumento para 6% a partir de julho de 2014 e 7% a partir de novembro do mesmo.
Tal decisão representou um acréscimo de 40% no consumo de biodiesel, diminuindo significativamente a capacidade ociosa das indústrias e produzindo reflexos altamente positivos nos pontos já mencionados.
Na solenidade, no Palácio do Planalto, falei, na condição de presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Oleaginosas e Biodiesel, representando o setor.
BiodieselBR participou intensamente de toda essa caminhada, noticiando, promovendo debates, criticando, apoiando e criando condições para a formação de consciência pública a respeito da importância do uso de biodiesel.
A revista representou parcela de todo esse trabalho desenvolvido. Deixa, agora, de circular. Cumpriu seu papel e seus editores têm a consciência de que combateram o bom combate, pregando positivamente.
O fato de não ocorrerem novas edições não anulará todo o trabalho desenvolvido durante o período em que os brasileiros tiveram a oportunidade de a ler.
Foi grande instrumento de interação. Por meio de seu site e dos qualificados eventos que realiza, BiodieselBR continuará sendo fundamental para o desenvolvimento do PNPB no Brasil.
Afastei-me da Ubrabio e da presidência da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Oleaginosas e Biodiesel por haver assumido, no dia 2 de junho de 2015, uma diretoria do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), a convite do governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, mas continuarei defendendo a importância do uso cada vez maior do combustível renovável, por todos os reflexos positivos já mencionados.
Espero também, embora terminada uma etapa da corrida, ter combatido o bom combate, guardando minha fé e contribuindo para benefícios ambientais, sociais e econômicos.
Odacir Klein - Diretor do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE)
A afirmativa apostolar demonstrou a convicção de seu autor de que as atividades e inclusive a vida terrena têm períodos de duração, mas que a pregação correta e a defesa robusta de ideias com reflexos positivos oferecem resultados perenes.
É exatamente isso que ocorre com a revista BiodieselBR neste momento. Prestou relevantes serviços ao Brasil e aos brasileiros durante o período de sua circulação. Teve sua primeira publicação em outubro de 2007, ensejando, durante esse período, interação com os leitores, estímulo ao debate e oferta de informação a respeito do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). Foi mais um instrumento usado pelo grupo BiodieselBR para o cumprimento dos objetivos da empresa que, dentre outras atividades, promoveu sua edição.
Minha trajetória na área do biodiesel, com mais intensidade, ocorreu em período simultâneo ao da circulação da mencionada publicação.
Comecei a acompanhar o esforço no sentido da implantação, no Brasil, de um robusto programa para a produção e o uso de biodiesel ainda como secretário da agricultura do Rio Grande do Sul, no governo Germano Rigotto.
No entanto, após o término do mesmo, decidi dedicar-me às atividades privadas em Brasília, como advogado e também através da Klein & Associados, na prestação de serviços e, principalmente, como palestrante em reuniões e eventos.
Havia conhecido, como secretário do governo gaúcho, dirigentes de empresas do setor de agronegócio. Procurei-os para comunicar minhas novas atividades.
O dr. Juan Diego Ferrés, diretor da Granol, com muito entusiasmo na defesa da criação de uma entidade nacional representativa do setor, convidou-me para que me somasse aos esforços para viabilizar a fundação da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), que posteriormente passou a envolver também o setor de bioquerosene.
Participei das reuniões iniciais e, com a necessidade de informação correta a respeito do que ocorria na área e dos benefícios advindos da produção e uso do combustível renovável, tornei-me, como pessoa física, assinante do site BiodieselBR. com, fonte de leitura diária e obrigatória.
Recusava-me a ser somente alguém que tinha visibilidade pelo passado em posições públicas, pois entendia ser necessário um profundo conhecimento do setor para defender a boa causa.
Como usuário do site, tornei-me também leitor da revista periódica e tive a oportunidade de participar de diversos eventos promovidos por seus editores.
Agora, a decisão amadurecida é o grupo continuar suas atividades, mas encerrar a edição da revista.
Parece-me decisão acertada, pois as atividades diárias através do site e os grandiosos eventos, sempre realizados com muita qualidade, continuarão.
Nesse período, tivemos consideráveis avanços na implantação do PNPB. A lei que o criou é de janeiro de 2005. O programa tem uma década de existência legal. A mistura obrigatória foi prevista para iniciar três anos depois, com 2% adicionados ao óleo diesel consumido no território brasileiro e, em 2013, ou seja, após o oitavo ano de vigência legal, passaria para 5%.
No entanto, com o entusiasmo dos empreendedores, a capacidade industrial de produção do combustível renovável foi implantada com muita rapidez, criando a oportunidade de oferta significativa, com expressivos excedentes sobre os volumes previstos comomistura obrigatória.
Iniciou-se, então, uma campanha insistente para que ocorressem paulatinos aumentos antes da data prevista para atingir-se 8%. À época, o diálogo entre o setor produtivo e o governo era constante.
Em minhas décadas de atividades vinculadas ao setor público, dele participando ou interagindo como representante da iniciativa privada, não havia encontrado modelo institucional tão propício à interação como o que fora criado para o setor de biodiesel.
A Comissão Executiva Interministerial do Biodiesel (Ceib), formada por integrantes de diversos ministérios e órgãos públicos, sob a coordenação da Casa Civil e a titularidade do dr. Rodrigo Rodrigues, permitia constante audiência do setor. Isso ensejava informações ao próprio presidente Lula.
Lembro que ao início de meus contatos, atuando como representante da Ubrabio, disse em tom de brincadeira ao dr. César Alvarez, que assessorava diretamente o presidente da República, que pretendia estabelecer um acordo. Comprometia-me a que a entidade, que representava na ocasião toda a cadeia produtiva do biodiesel, não faria cobranças pela imprensa, jogando para a plateia, mas se manifestaria por e-mails dirigidos a ele – César Alvarez – para que fossem lidos pelo titular do Poder Executivo, com conteúdo não apenas informativo, mas até solicitando correção de rumos quando necessário.
Diversos foram os contatos com a Ceib, com a então titular da Casa Civil e atual presidente, Dilma Rousseff, e com o próprio presidente da República. Esta interação democrática ensejou paulatinos aumentos nos percentuais da mistura obrigatória, chegando-se aos 5% já no início de 2010, ou seja, três anos antes da data legalmente prevista.
A partir daí, houve um período em que a cadeia produtiva se mobilizou pleiteando novos aumentos, em função da capacidade ociosa das indústrias que se instalaram e dos reflexos positivos que isso acarretaria nas diversas áreas sociais e econômicas.
A velocidade com que as reivindicações de antecipação do B5 foram atendidas criava a expectativa de que o mesmo processo ocorresse a partir de 2010.
Os representantes do setor insistiam em demonstrar que a maior mistura obrigatória de biodiesel ao óleo diesel representaria:
■ Sensíveis benefícios para o meio ambiente, com diminuição das emissões poluentes;
■ Reflexos altamente positivos para a saúde humana;
■ Maiores benefícios para agricultores familiares e cooperativas por eles integradas, em razão do compromisso de assistência técnica e fornecimento de insumos pelas empresas detentoras do Selo Combustível Social;
■ Aumento de emprego e renda;
■ Diminuição das importações de óleo diesel, concorrendo para melhor posição de nossa balança comercial;
■ Estímulo a toda a cadeia produtiva.
O diálogo com o governo continuou, mas diversos argumentos foram apresentados para retardar a decisão. Finalmente, no dia 28 de maio de 2014 a presidente Dilma Rousseff assinou medida provisória, em solenidade do Palácio do Planalto, estabelecendo o aumento para 6% a partir de julho de 2014 e 7% a partir de novembro do mesmo.
Tal decisão representou um acréscimo de 40% no consumo de biodiesel, diminuindo significativamente a capacidade ociosa das indústrias e produzindo reflexos altamente positivos nos pontos já mencionados.
Na solenidade, no Palácio do Planalto, falei, na condição de presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Oleaginosas e Biodiesel, representando o setor.
BiodieselBR participou intensamente de toda essa caminhada, noticiando, promovendo debates, criticando, apoiando e criando condições para a formação de consciência pública a respeito da importância do uso de biodiesel.
A revista representou parcela de todo esse trabalho desenvolvido. Deixa, agora, de circular. Cumpriu seu papel e seus editores têm a consciência de que combateram o bom combate, pregando positivamente.
O fato de não ocorrerem novas edições não anulará todo o trabalho desenvolvido durante o período em que os brasileiros tiveram a oportunidade de a ler.
Foi grande instrumento de interação. Por meio de seu site e dos qualificados eventos que realiza, BiodieselBR continuará sendo fundamental para o desenvolvimento do PNPB no Brasil.
Afastei-me da Ubrabio e da presidência da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Oleaginosas e Biodiesel por haver assumido, no dia 2 de junho de 2015, uma diretoria do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), a convite do governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, mas continuarei defendendo a importância do uso cada vez maior do combustível renovável, por todos os reflexos positivos já mencionados.
Espero também, embora terminada uma etapa da corrida, ter combatido o bom combate, guardando minha fé e contribuindo para benefícios ambientais, sociais e econômicos.
Odacir Klein - Diretor do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE)