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Diesel renovável

Tolmasquim: “A gente não pretende competir com o biodiesel”


epbr - 02 mai 2024 - 09:52

Inserir a parcela coprocessada do diesel da Petrobras no Combustível do Futuro será bom para o agronegócio e não representará uma competição com o biodiesel, disse o diretor de transição energética da Petrobras, Maurício Tolmasquim, nesta terça (30) durante um evento da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A decisão está com o Congresso Nacional. Durante a tramitação do projeto de lei, ficou decidido que o coprocessado não seria incluído nem no mandato do biodiesel, nem na nova política de inserção do diesel verde (de até 3% na versão atual).

“A gente não pretende, não quer, não tem intenção de competir com o biodiesel”, disse o diretor a jornalistas depois de participar do seminário Transição Energética no Mar organizado no Rio de Janeiro pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Segundo o executivo, se o diesel coprocessado for incluído no mandato do diesel verde, a Petrobras estaria ‘competindo’ consigo mesma uma vez que, hoje, ela a única empresa com potencial de produção de HVO no país.

Há outros projetos em desenvolvimento, como o da BBF que tem a Vibra com cliente-âncora; e o que a Acelen quer montar na Bahia. Esse último tema Petrobras como parceira no desenvolvimento, aproximação que pode levar até recompra do controle da refinaria de Mataripe.

Petrobras levou proposta ao Senado

Depois da aprovação do texto na Câmara, a Petrobras levou ao Senado a proposta oficial que, de fato, vinha discutindo antes mesmo de o projeto ser enviado pelo governo federal: reconhecer a parcela renovável do diesel coprocessado no mandato de diesel verde que poderá ser criado na nova lei. Sem mudar o capítulo do biodiesel.

Isso porque, defende a Petrobras, trata-se do mesmo produto: um combustível drop-in (idêntico ao diesel fóssil), objetivo a partir de biomassa renovável. A diferença é que no processo da Petrobras, o óleo vegetal é coprocessado com o petróleo nas refinarias.

O diesel verde já havia sido definido pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) em 2021 como um substituto drop-in do diesel produzido a partir de fontes 100% renováveis.

Em termos de política pública, o coprocessado está em um limbo. O diesel entregue pela Petrobras com a parcela de 5% de conteúdo renovável (Diesel R5) é tratado, para todos os fins, como diesel A, antes da mistura com biodiesel. Esse entendimento foi reforçado há poucos dias com a aprovação de uma nova especificação do óleo diesel de uso rodoviário no país.

Tolmasquim afirma que considerar o volume renovável no atendimento ao mandato do diesel verde é uma ideia positiva também para o agronegócio, que vai ganhar uma demanda para o insumo do coprocessado. “É um ganha-ganha para todo mundo. O setor agro ganha mais um cliente. A gente não quer ser uma ameaça para o setor de biodiesel. Ao contrário, a gente acha que o biodiesel é importante. Só estamos querendo entrar, ter um nicho ali para um produto que a gente faz”, disse.

O setor de biodiesel discorda e teve apoio do governo federal em dois momentos: na edição do projeto de lei, que saiu com “diesel verde” e não “diesel renovável” o que abriria uma brecha para a inclusão do coprocessado; e quando o Planalto fechou o acordo com o relator na Câmara, Arnaldo Jardim (Cidadania/SP) para aprovação do relatório.

“O diesel coprocessado é um método que consiste na inserção de uma pequena parcela de conteúdo renovável no diesel – tipicamente 5%. Ou seja, é um produto predominantemente fóssil (95%) de produção exclusiva da Petrobras, patenteado em 2005, e não havendo possibilidade de ser produzido em refinarias de outras companhias”, reforçou o deputado Alceu Moreira (MDB/RS), em nota nesta terça (30).

O parlamentar preside a frente parlamentar do biodiesel, está à frente das articulações no governo e na Câmara e defende, reiteradamente, que o “coprocessado é fóssil”.

O Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), por sua vez, defende que não haja distinção entre os combustíveis substitutos do diesel, que todas as rotas possam atender aos objetivos de redução de emissões, sem amarras legais de mistura obrigatória.

“Você travar uma definição em si dos processos [produtivos], a definição de biodiesel, de hidrogênio, SAF [combustível sustentável de aviação], enfim… Há de ter uma definição, mas quanto mais genérica ela for, melhor”, defendeu Jean Paul Prates, em entrevista à epbr, em março. “O processo tem que ser em cima de redução de emissões”, defendeu.

A Petrobras tem duas refinarias que processam diesel com 5% de teor renovável (R5), a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, e a RPBC, em São Paulo. Até o final do ano, esse produto vai passar a ser entregue também na Replan e na Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro.

Com biodiesel, Petrobras mira mercado marítimo

A Petrobras vai iniciar a oferta comercial do combustível marítimo com conteúdo renovável até o final do próximo ano nos portos brasileiros, disse o gerente-geral de planejamento logístico da companhia, Rafael Feldman. “O Porto de Santos é um grande candidato, naturalmente”, afirmou durante o seminário.

Segundo Feldman, apesar de a frota própria e afretada da Petrobras ser uma candidata natural a receber esse produto, também existem outras empresas interessadas.

Em 2023, a companhia iniciou os testes do bunker com 24% de biodiesel, com o objetivo de ampliar o uso de matéria-prima renovável na navegação.

Segundo Tolmasquim, a companhia já avalia a realização de novos testes com um teor ainda maior.

De olho na demanda de embarcações por combustíveis renováveis, a estatal também iniciou as análises internas para a construção de uma planta de metanol sintético. O combustível é produzido a partir do hidrogênio verde e do CO2 biogênico.

“[A análise] não está na etapa inicial, mas a gente está olhando com muita atenção e expectativa positiva”, disse o diretor.

A respeito da localização da planta, o executivo afirmou que a companhia vai escolher um lugar próximo à produção de etanol e com disponibilidade de energia elétrica renovável, barata e abundante.

O projeto será viabilizado por meio de uma parceria. Em novembro, assinou um memorando de entendimentos com a empresa dinamarquesa European Energy para avaliação de oportunidades de e-metanol no Brasil.

Segundo Tolmasquim, a tendência é que inicialmente o produto seja exportado, dado o alto custo. “Tem que ser um cliente que aceita pagar um prêmio pelo produto. Mas se depois ganhar escala, baratear, é claro que o mercado brasileiro é um mercado potencial enorme”, disse.

Gabriela Ruddy – epbr