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Petrobras: Elefante branco


BiodieselBR.com - 29 jun 2007 - 14:25 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 11:57
Elefante Branco

Não é apenas por sua turbulenta passagem pelos leilões que a entrada da Petrobras no setor de biodiesel tem provocado polêmica. Na verdade, toda estratégia de participação da empresa no setor é vista com desconfiança por determinados círculos. A acusação mais comum é que o governo federal estaria usando os polpudos cofres da estatal segundo suas conveniências político-eleitorais.

O deputado estadual cearense João Jaime (PSDB), por exemplo, vê ligação entre os quase R$ 100 milhões que a Petrobras investiu no município de Quixadá (CE) e o fato de a prefeitura da cidade estar em mãos petistas por três mandatos consecutivos. “A escolha de Quixadá não parece ter seguido nenhum critério técnico. Eles construíram a usina a pretexto de processar mamona, só que mesmo se eles comprassem toda a mamona do Ceará, mal conseguiriam fazer a usina funcionar um dia”, denuncia o tucano.

Pode até ser que as conexões eleitorais do prefeito não sejam o fator mais importante para a escolha do local das usinas de biodiesel da Petrobras – as outras duas estão em cidades governadas pelo PMDB –, mas o fato é que o plano de negócios da Petrobras é para lá de heterodoxo aos olhos do setor.

Para começar, as três estão instaladas no semi-árido, em áreas distantes das lavouras de soja – matéria-prima que, apesar das contra-indicações, ainda é a única capaz de dar conta da demanda. “Hoje, a usina de Quixadá, no Ceará, está processando soja que vem do sul de Piauí, do Maranhão e até do Mato Grosso. A matéria-prima chega a um custo altíssimo por causa do frete. Se era para fazer isso, então por que investir milhões em Quixadá?”, questiona o deputado.

Fora isso, nenhuma das unidades é esmagadora, ou seja, elas contam com que os fornecedores ofereçam o óleo já processado e pronto para uso. É uma aposta e tanto quando se pensa que as três usinas foram instaladas sob a premissa de trabalhar com mamona e outras oleaginosas produzidas em pequena escala por agricultores familiares – isso sem contar que a indústria química paga melhor que a de biodiesel pelo óleo de mamona, o que significa que o óleo pode acabar parando em outras mãos.

O sociólogo e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Arilson Favaretto, – que acaba de concluir um estudo sobre o impacto do PNPB nos municípios do Semi-Árido – considera um erro tentar ver a situação com olhos focados apenas no curto prazo. “A soja décadas atrás também não apresentava a produtividade que tem hoje”, lembra o pesquisador.

“Não acredito na inviabilidade intrínseca da mamona, mas o governo percebeu as dificuldades de estruturar mercados com uma matéria-prima tão pulverizada e patamares de produtividade tão baixos. O futuro do PNPB depende da decisão de custear os investimentos necessários para que o programa se torne viável. No fundo, é uma decisão mais política do que econômica”, aponta Favaretto.

E por falar no longo prazo, há pelo menos um bom argumento para justificar a legitimidade da Petrobras nesse mercado. O petróleo está devagar e sempre se esgotando, a empresa sabe disso e já está em busca de alternativas para seu futuro. “Ano passado, as vendas de etanol superaram as de gasolina. É bastante compreensível que uma empresa com o porte e o profissionalismo da Petrobras queira entrar nesse novo mercado”, arremata Battistella.

Apesar dos reiterados convites feitos junto à assessoria de imprensa, a Petrobras Biocombustível optou por não dar qualquer declaração a essa reportagem. Embora a companhia estivesse numa fase de troca de liderança, com Miguel Rossetto sucedendo Alan Kardec (que se aposentou) na presidência da subsidiária, a decisão só faz reforçar a imagem de “caixa-preta” tradicionalmente colada à Petrobras.