PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
011

Produção: O etanol quer virar o jogo


BiodieselBR.com - 23 jul 2009 - 14:43 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 11:56
O álcool etílico tem várias vantagens em relação ao metanol, seu concorrente na produção nacional de biodiesel. É mais limpo, renovável e produzido no Brasil. Mesmo assim, quase não é utilizado pelas indústrias. Mas agora isso pode mudar

Rosiane Correia de Freitas, de Curitiba

Um deles é mais ecológico, renovável, incentiva a indústria nacional e existe em grande quantidade no país. O outro é de origem fóssil, nãorenovável, mais poluente, tóxico e em boa parte dos casos precisa ser importado de países vizinhos. Se você fosse usar algum tipo de álcool na sua indústria e tivesse que fazer a escolha baseando-se na descrição acima, acho que não haveria dúvida. Escolheria o etanol (ou álcool etílico) e descartaria logo de início a hipótese de usar o metanol (ou álcool metílico).

Mas por que mesmo havendo várias vantagens no uso do etanol, os fabricantes continuam preferindo usar a rota metílica para a produção de biodiesel no Brasil? E por que a rota etílica, que pareceria bem mais razoável, continua em um segundo lugar distante num país que há mais de três décadas investe em pesquisas relacionadas ao etanol?

A resposta para as questões começa no fato de que nem tudo é tão simples como parece. E na vida real alguns fatores levaram a indústria brasileira a se render prontamente ao metanol. Vejamos quais são eles.

Primeiro, é preciso lembrar que a tecnologia das usinas, vendida para o Brasil no começo da nossa trajetória rumo ao biodiesel, vinha de outros países e era feita para uso de metanol, já que lá fora o etanol não é produzido na mesma escala que aqui, onde a canade- açúcar é um produto importante desde o século 16. Depois, deve-se levar em conta que o álcool metílico trazia vantagens financeiras para o produtor. E, por último, apesar de todos os problemas que traz, o metanol facilita quimicamente algumas partes do processo de produção do biodiesel, como a separação da glicerina – um subproduto do biodiesel cuja venda tem interessado cada vez mais aos produtores.

Parecia, assim, que o metanol havia ganho a partida de maneira inesperada e definitiva. Mas, agora, alguns indícios levam a crer que o etanol pode virar o jogo. E talvez demore menos do que esperado para que isso aconteça.

Usina flex
Um ponto importante na virada de jogo é a existência de usinas que permitam o uso do etanol com bom desempenho. Isso vem se tornando cada vez mais comum no Brasil. As revendedoras de maquinário trabalham hoje com o conceito de usinas “flex”. Ou seja: fábricas que podem ser usadas tanto com metanol quanto com etanol, com resultados igualmente bons. A escolha do álcool a ser usado depende apenas do juízo do produtor sobre o que é melhor para aquele momento e para aquela situação.

A Dedini, indústria paulista ligada à fabricação de usinas, por exemplo, afirma que os modelos flexíveis têm sido bastante procurados nos últimos tempos. Mas lembra também que muitos produtores brasileiros ainda preferem o modelo clássico europeu, voltado para o metanol, por perceberem uma ligeira vantagem financeira no fim do processo.

A idéia da Dedini, no início, foi ousada: fazer junto às usinas de etanol uma usina de biodiesel. Assim as indústrias sucroalcooleiras garantiriam a entrada em um novo mercado e de quebra movimentariam a própria frota da fazenda, barateando os custos de plantação e de colheita. Uma das principais vantagens da solução é que ela evita a compra do etanol no mercado. No entanto, a estratégia não ganhou a simpatia das usinas de álcool, e o principal vilão nesse caso não foi a tecnologia, mas os impostos.

É que, embora o álcool etílico tenha benefícios tributários em outras circunstâncias, ele é tributado de maneira mais pesada quando serve de insumo para o biodiesel. Essa é uma das principais reclamações do setor em relação à política do governo: seria necessário rever a carga fiscal do etanol. Mas, por enquanto, não existe qualquer previsão para que isso aconteça. Diante de uma alternativa tão óbvia e vantajosa para o país, essa taxação extra sobre o etanol beira o absurdo e pode ser considerada mais um ato incompreensível do governo.