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Competitividade do biodiesel com o diesel: Davi contra Golias


BiodieselBR.com - 19 ago 2009 - 14:03 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 11:52
Estudo mostra que há um longo caminho até que o preço do biodiesel possa competir de igual para igual com o diesel de petróleo. E a exemplo do hoje bem-sucedido Proálcool, o apoio do governo será de grande importância

Marina Azaredo, de São Paulo

Um dos principais desafios enfrentados pelo jovem setor de biodiesel é o seu alto custo de produção em comparação com o óleo diesel mineral. Cada vez que o governo cogita em aumentar a quantidade da mistura obrigatória no diesel, setores da economia ficam apreensivos com um possível aumento no preço do combustível nas bombas, que na média nacional chega ao consumidor por R$ 2,20. O preço do biodiesel – que ano passado ficou próximo de R$ 2,85, sem lucro e ICMS – reflete majoritariamente o preço da matéria-prima, que corresponde a cerca de 75% do custo de produção. Novas oleaginosas estão em estudo e algumas já começaram a ser utilizadas, mas ainda não se chegou a um patamar que possa elevar a competitividade do biodiesel.

A Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), do Ministério de Minas e Energia (MME), divulgou recentemente o seu Plano Decenal de Expansão de Energia para o período 2008/2017. Destaca-se neste estudo a projeção de preços do biodiesel a partir de diversos insumos nos próximos oito anos. Segundo analistas e estudiosos da área, o plano mostra que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer antes de ver o biodiesel se tornar de fato um combustível competitivo. E essa trajetória, sem dúvida alguma, passa por ações governamentais, a exemplo do que já aconteceu com o Proálcool.

O objetivo dessa projeção feita pela EPE foi justamente comparar a evolução de preços do diesel e do biodiesel e verificar a possibilidade deste último ultrapassar as metas de obrigatoriedade estabelecidas pela lei nº 11.097/2005, que introduziu o biocombustível na matriz energética nacional.

O estudo avaliou a capacidade de processamento das indústrias e o transporte do biodiesel das usinas até as bases das distribuidoras, assumindo que a sua distribuição utilizará o sistema já existente para o diesel. A EPE baseou-se no zoneamento agrícola e também considerou o aproveitamento dos co-produtos, pelo seu peso no custo de produção do biodiesel. Para o cálculo do preço mínimo, a pesquisa considerou: preço dos insumos graxos, custos de conversão (custos dos demais reagentes, como álcool e catalisador, e os custos fixos, como mão-de-obra, energia e aluguel), margem média de remuneração por distribuição e revenda e PIS/Cofins. A margem de lucro do empreendedor não foi considerada, assim como o ICMS, para não dificultar a comparação com o diesel mineral, pois cada Estado tem uma alíquota diferente.

O levantamento incluiu onze insumos: soja, colza, girassol, dendê, amendoim, mamona, sebo, mamona nacional, óleo de cozinha, borra e esgoto. A comparação entre os preços mostra que a mamona é e continuará sendo a matéria-prima mais cara: US$ 2.004,71 por tonelada em 2008 e US$ 2.678,83/t em 2017. A matéria-prima mais barata, e que representa custo zero para os produtores, é o esgoto. Destaca-se também a borra, que tem custo bastante baixo: US$ 219,46/t em 2008 e US$ 293,26/t em 2017. A soja foi cotada em US$ 1.097,31/t em 2008 e deve custar US$ 1.466,30/t em 2017.

Há, entretanto, a necessidade de se fazer uma ressalva nas projeções da EPE, que considerou que a cotação da soja estaria este ano em US$ 1.127,20/t, elevando o preço do litro do biodiesel feito com a oleaginosa para R$ 3,05 (sem o lucro e o ICMS). Porém, a cotação da commodity no início de maio atingiu US$ 859,59/t, valor 24% menor que o considerado pela pesquisa. Este é tradicionalmente o período de menores preços da soja, mas é unânime entre os economistas que, com a recuperação da economia mundial, o preço do petróleo vai voltar a subir, puxando junto com ele a cotação das outras commodities.