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O caminho da canola


BiodieselBR.com - 25 mai 2009 - 15:10 - Última atualização em: 23 jan 2012 - 09:23
A canola, oleaginosa que figura entre mais produzidas e consumidas no mundo, começa a ganhar terreno no Brasil e aparece como uma ótima alternativa para o biodiesel

Amira Massabki, de Curitiba

Conhecida como uma das mais saudáveis oleaginosas para o consumo humano, a canola passou recentemente a ocupar um lugar de destaque nas políticas de fomento ao biodiesel no Brasil. Seu potencial energético tem animado produtores, empresários e até mesmo o governo, que vê na matéria-prima um futuro promissor, com qualidades para alavancar a produção do biocombustível.

A canola abre vantagem em relação às demais matérias-primas utilizadas na produção de energia. É uma boa opção de cultura para a entressafra de soja – e rende mais que o dobro em volume de óleo se comparada a essa commodity. Hoje ela ocupa o concorrido terceiro lugar na lista de oleaginosas mais produzidas do mundo, respondendo por 16%, logo atrás da soja (33%) e do dendê (34%). Além disso, o óleo de canola é o mais utilizado no mercado europeu, principalmente para a produção de energia.

Com um conjunto de medidas políticas de incentivo à fabricação de biodiesel no Brasil, a cultura da canola está aos poucos deixando a marginalidade para fazer parte da relação de cultivares com garantia de financiamento através do Zoneamento de Risco Climático, fundamental para a liberação de crédito ao produtor.

“A canola é a soja do inverno”, comenta Erasmo Carlos Battistella, diretor da BSBios, empresa localizada em Passo Fundo (RS) que há dois anos lançou um programa de fomento à cultura no Estado, em parceria com a Embrapa Trigo, a Emater e a União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio). Em 2007, o programa implantou o cultivo numa área de 3,5 mil hectares. No ano seguinte foram 7 mil hectares, e a expectativa é também dobrar a área este ano. A aposta da BSBios é alta: eles pretendem ocupar parte dos 1,5 milhão de hectares ociosos de área produtiva no Estado durante o inverno. Para se ter uma idéia, isso permitiria produzir óleo de canola suficiente para abastecer a usina durante um ano inteiro e com metade da área destinada à soja.

“É um campo que pode avançar, e muito”, destaca Battistella. “A garantia de produção de óleos vegetais no inverno – uma alternativa à produção de soja durante o verão – agrega grande valor socioeconômico à canola”.

No dia 16 de março, a BSBios assinou termo de cooperação com o Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) para financiamento de custeio para o plantio. A empresa ficará responsável pela assistência técnica e pela compra da produção, contratada com cooperativas e produtores rurais.

O Rio Grande do Sul é atualmente a região responsável pela maior parte da produção da oleaginosa no Brasil, devido ao seu clima frio e estável, com inverno e estação de chuvas bem definidos, permitindo a rotatividade de culturas em outras estações. Recentemente o governo do Estado ampliou para a canola o benefício de diferimento fiscal válido para a soja utilizada na produção do biocombustível. Por esse mecanismo, o imposto é recolhido pela indústria, e não na venda da matéria-prima.

O cultivo em maior escala, no entanto, depende de pesquisas voltadas à tropicalização do grão, típico de países frios. Pesquisas nesse sentido são desenvolvidas pela Embrapa em Goiás e Minas Gerais. A introdução da cultura em baixas latitudes é uma experiência pioneira no mundo, realizada em colaboração com empresas que estarão promovendo o cultivo na região Centro- Oeste a partir de genótipos menos sensíveis a fotoperíodo.

Graças ao melhoramento genético convencional, futuramente o plantio da canola no Brasil poderá ser feito também na primavera, podendo vir a ser uma boa alternativa para a safrinha de grãos na região central do país. Para que isso ocorra com garantias, muita tecnologia deve ser empregada para dar tranqüilidade e segurança de investimentos no cultivo da oleaginosa.

Enquanto aguarda os resultados das pesquisas brasileiras, a BSBios tem importado sementes de híbridos modernos de canola desenvolvidas na Austrália – que são adaptadas às nossas condições de cultivo e resistentes à canela-preta, causada por um fungo. Cooperativas como a Cotribá, Cotrijal, Cocamar e empresas como Bunge Alimentos, Giovelli & Cia Ltda e Celena Alimentos também importam esta variedade genética. A Cocamar, de Maringá (PR), que refina o óleo bruto para o consumo humano, foi a primeira empresa brasileira a importar as sementes, em 1992. O objetivo era incentivar os produtores da região norte do Paraná a plantar a oleaginosa durante a safrinha do milho. Mas, sem condições favoráveis para a lavoura, os agricultores desistiram da idéia.