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Entrevista com Henry Joseph Jr.: Biodiesel no diesel danifica os motores?


BiodieselBR - 06 nov 2007 - 14:31 - Última atualização em: 23 jan 2012 - 11:28
Revista BiodieselBR O uso do biodiesel misturado ao diesel pode causar problemas aos motores?

Henry Joseph Junior Hoje o Brasil ainda usa uma porcentagem pequena de biodiesel misturado ao óleo diesel. O governo tem a intenção de utilizar teores até maiores do que esse, pelo menos em algumas regiões. Mas como ainda se está usando pouco, desvios de qualidade nesse biodiesel não têm a capacidade de afetar os veículos. A menos que sejam desvios de qualidade muito pronunciados. Mas não há danos porque ainda se utiliza pouco biodiesel. Quando o teor aumentar, no futuro, esses desvios de qualidade passarão a preocupar, pois poderão, sim, afetar os veículos. Desvios de qualidade no biodiesel poderão causar problemas funcionais e de durabilidade nos motores. Não é simplesmente uma questão de falar que, se existem desvios de qualidade o uso de baixos teores minimiza o risco de problemas. Isso tem que ser visto já com um grau de preocupação porque no futuro vamos aumentar esse percentual. Aí a situação pode se complicar.

Revista BiodieselBR
A indústria automobilística teme o aumento do índice de biodiesel no diesel?

Henry Joseph Junior
Não, absolutamente não. Por uma série de razões. A mais importante é que estamos participando de um grupo de trabalho coordenado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) cujo objetivo é avaliar a introdução do uso do biodiesel no Brasil. É um grupo que existe há mais de dois anos. Institutos de pesquisa, produtores de biodiesel, universidades e a própria indústria automobilística estão envolvidos nessa iniciativa. E dentro desse grupo de trabalho estão sendo realizados vários ensaios e testes com o uso do biodiesel. A comissão está avaliando a mistura de 5%, porque esse será o próximo teor de biodiesel a ser adicionado no óleo diesel comum. Os ensaios estão praticamente todos concluídos e os resultados disponíveis até o momento são positivos. Não foram registradas dificuldades com o B5, mesmo considerando misturas feitas com biodiesel produzido de diversas fontes, tipos diversos de veículo, diferentes tipos de utilização de óleo diesel produzido por diferentes refinarias. Também foi avaliado o uso em diversas regiões do país, com temperaturas variadas. Tudo que era motivo de preocupação foi avaliado, e os resultados têm se mostrado bastante positivos, sinalizando que não devemos ter problemas com a utilização da mistura de 5% de biodiesel. Isso mostra que todos os atores importantes do processo de introdução de biodiesel no Brasil estão se cotizando para tentar introduzir o uso desse combustível de uma forma bastante responsável, o que dá tranqüilidade à indústria automobilística.

Revista BiodieselBR
A indústria tem alguma avaliação de quando será possível implantar o uso do B20, por exemplo, no Brasil?

Henry Joseph Junior
Não, por um motivo muito simples: não sabemos como está o volume de produção. Não há como dizer se hoje já existe produção para atender com facilidade estes 3% de biodiesel que são o mínimo obrigatório. Não se sabe se o Brasil tem produção para 3%, ou para 5%. Ou se a produção brasileira permitiria até mais. Estamos falando aqui de uma produção que satisfaça a demanda atendendo às especificações da ANP. Não dá para simplesmente aumentar o volume de produção sem se preocupar com a qualidade porque podemos vir a ter problemas com os motores e isso denegriria muito o programa.

Revista BiodieselBR
Quais as perspectivas de uso do B100 nos veículos brasileiros?

Henry Joseph Junior
O biodiesel, ao contrário do álcool, é um produto que é destinado à frota já existente. O álcool, quando passou a ser utilizado no Brasil, era destinado a veículos específicos, produzidos para esse combustível. No caso do biodiesel, não. É um combustível para ser utilizado pela frota já existente. Vai ser usado por veículos que foram projetados para o uso do óleo diesel. Assim, a preocupação com o biodiesel é de que ele possa ser utilizado pelos veículos sem criar nenhum problema funcional, nem de durabilidade. E sem afetar nenhum dos componentes do veículo. Ou seja, tem que ser utilizado do mesmo modo que o óleo diesel. Misturas de 5%, 3%, 10%, são utilizações nas quais o teor de biodiesel é pequeno. Ou seja, as propriedades do óleo diesel ainda estão predominantemente vigentes. Já quando falamos em usar 100% de biodiesel, deixamos completamente de lado todas as características do óleo diesel e passamos a depender somente das características do biodiesel. A utilização do B100 em motores convencionais já foi testada em vários lugares do mundo e os resultados não têm sido positivos. Portanto, para o uso de 100% de biodiesel seria necessário um veículo desenvolvido para isso ou um biodiesel de altíssima qualidade, que tivesse propriedades muito próximas às do óleo diesel. E isso, até hoje, não foi verificado pela indústria.