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Univaldo Vedana: misturas inconvenientes


Edição de Out / Nov 2007 - 09 out 2007 - 14:50 - Última atualização em: 18 dez 2012 - 15:26

A adulteração da gasolina pela adição de álcool é um dos graves problemas que a ANP (Agência Nacional de Petróleo) enfrenta. O motivo que leva à adulteração é o fato do álcool ser mais barato do que a gasolina. Ele pode chegar a custar 50% a menos e, com isso, abre as portas para ganhos fáceis por oportunistas inescrupulosos.

A ANP teme que esta prática aconteça com o biodiesel. E que por motivos econômicos, o diesel de petróleo sofra adulterações acima da especificação de 2% nas misturas com o biodiesel.

Porém, as adulterações de combustíveis sempre acontecem adicionando-se um produto mais barato a um mais caro – caso do álcool na gasolina. Com o biodiesel, ao menos pelos próximos 12 meses, a prática de adulteração não deve ocorrer simplesmente porque ele custa mais caro que o diesel mineral e não existe previsão de queda nos preços dos óleos vegetais (principal componente no custo final do biodiesel). Pelo contrário, o que deve ocorrer, segundo analistas, é a permanência dos atuais preços ou variações para cima.

Mas isso não quer dizer que não vai haver qualquer tipo de adulteração. Com o preço do biodiesel mais alto do que o do diesel de petróleo, a adulteração pode ocorrer de forma diferente da que acontece com a gasolina e o álcool. Ao invés de adicionar mais biodiesel ao diesel mineral, as distribuidoras poderão colocar um percentual menor, ou simplesmente não adicionar nada. Com isso, os consumidores pensarão que estão colocando em seus carros biodiesel B2 (nome dado à mistura de 2% de biodiesel ao diesel), enquanto na verdade estarão colocando o combustível puro.

Outro problema de difícil identificação é saber se os 2% de mistura no diesel foram feitos com óleo vegetal ou com biodiesel. Detectar a diferença dessas duas misturas é muito difícil e o processo só pode ser feito em laboratórios com equipamento adequado e metodologias específicas.

Mas qual seria o ganho de uma distribuidora que não adicionasse os 2% de biodiesel ao diesel? Muito pouco. Como a mistura de biodiesel é pequena, mesmo que ele custe um real a mais do que o diesel mineral, a diferença no produto final é de apenas dois centavos. Contudo, na grande escala de distribuição do biodiesel, esses dois centavos viram milhares de reais. Valeria a pena para uma distribuidora correr riscos? Para responder, é preciso pensar que a diferença de dois centavos no preço do biodiesel nos postos de gasolina pode fazer a diferença para o consumidor decidir entre um posto ou outro.

A fiscalização é o grande desafio. Afinal, como fiscalizar de forma eficiente usinas de biodiesel, centenas de distribuidoras e milhares de postos de combustível espalhados em cidades e rodovias em uma área de 8,5 milhões de quilômetros quadrados? Este é o problema para a ANP. Além de fiscalizar as adulterações existentes na gasolina, a partir de janeiro ela terá que fiscalizar também o biodiesel. Será que a ANP vai ter mais fiscais?