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30 anos

30 anos de Proálcool


BiodieselBR - 15 nov 2005 - 23:00 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

O biodiesel não é mais a última façanha do álcool combustível, que comemorou terça-feira, dia 15 de novembro de 2005, 30 anos. Ele decola a aviação agrícola e de treinamento e entra nas planilhas de projetos para acionar turbinas de termelétricas. Sem falar que a Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos EUA), experimenta colocar o diamante de álcool na ponta das brocas que perfuram Marte. E depois do carro a álcool, o carro movido a hidrogênio. Bem, a fórmula do álcool mostra grande quantidade de hidrogênio e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) já tem protótipo rodando.

Dos pioneiros, podem contar a história os empresários Eduardo Diniz Junqueira e Cícero Junqueira Franco, diretores da Usina Vale do Rosário, de Morro Agudo, na época presidida pelo lendário Maurílio Biagi. Ele recebeu Sigeaki Ueki, enviado pelo nem empossado general Ernesto Geisel, às voltas com a primeira crise do petróleo - fonte de energia que o Brasil importava quase 80% e não parava de subir de preço. A crise explodiu por causa de outra guerra entre árabes e israelenses. Daquela vez, os árabes decidiram usar seu principal produto como moeda, o petrodólar.

Ueki, já escolhido ministro das Minas e Energia, chegou acompanhado do então presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Gás Liquefeito de Petróleo (Associgás), o engenheiro Lamartine Navarro Júnior, uma das maiores autoridades em álcool do mundo. Foram ele, Maurílio e Cícero que disseram aos futuros governantes que o álcool dava certo para mover uma frota ameaçada de paralisia total por falta de petróleo. Tinham certeza. Quando tudo aconteceu, ninguém acreditava: o petróleo subia, o mundo tremia e o Brasil ria. Como agora. E naquele tempo, o barril saltara só de US$ 2,00 para US$ 10,00.

O resto é história e quem conta passagens pouco ou nada conhecidas dessa saga é Maurílio Biagi Filho, "irmão do Proálcool", produtor de açúcar e álcool na região de Ribeirão Preto e conselheiro da Unica, União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo. "A certidão de batismo do Proálcool é um estudo chamado Fotossíntese como fonte energética, assinado por Lamartine Navarro Júnior, Renato Rezende Barbosa, Orlando Chesini Ometto, Maurílio Biagi, Mircea Tudor Manolescu e Cícero Junqueira Franco, além da Cooperativa dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Copersucar) e da Associgás.

Pé de cana

"No mundo à beira de uma catástrofe, eles vislumbraram a solução num pé de cana". As metalúrgicas Zanini (Sertãozinho) e Dedini (Piracicaba) apoiaram porque tinham tecnologia para equipar quantas usinas e destilarias fossem necessárias para abastecer o mercado. lembra Maurílio. Na Zanini, Luís Lacerda Biagi, irmão de Maurílio, filho, criou o sistema "trunkey" (chave na mão) de financiamento e entrega de unidades prontas para iniciar a produção.

A Zanini era presidida pelo Maurílio Biagi, pai, também comandante da Usina Santa Elisa, hoje Companhia Energética Santa Elisa, de Sertãozinho. As usinas Santa Elisa, Vale do Rosário, e da Pedra, em Serrana, são as primeiras signatárias do Proálcool. Segundo Maurílio, esse programa de energia alternativa ao petróleo, único a dar certo no mundo, revolucionou a economia do Interior paulista e o transformou no segundo mercado do País.

Combustível chegou a ser ameaça para a gasolina

Álcool verde era muito mais procurado pelos motoristas devido ao preço

Até meados do governo Sarney, a Petrobras era aliada do Proálcool. Um dos fatores de êxito foi a equivalência do preço do açúcar ao do álcool. Naquele tempo, o governo regulamentava tudo, até quanto cada usina podia produzir. Por isso, quando a gasolina aumentava, o preço do açúcar acompanhava e o álcool ia junto. Tudo atrelado ao governo, sob os cálculos da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Quando o preço do petróleo começou a cair, o governo rompeu o acordo e ignorou a planilha da FGV. Acabou a equivalência energética que estabelecia o álcool vendido a 65% do preço da gasolina.

O álcool já atrapalhava a Petrobrás, que não era dona do produto, muito mais procurado pelos motoristas por causa da qualidade e preço. E ameaçava o mercado de gasolina. Afinal, mais de 90% dos carros eram a álcool. No auge do Proálcool, nos anos 80, esse combustível verde representava uma economia de 200 mil barris diários de gasolina equivalente para o Brasil; hoje, com a retomada da produção e a chegada dos veículos flex, a economia já é de 245,8 mil barris por dia, calcula o professor Plínio Mário Nastari, da Fundação Getúlio Vargas, e diretor do Datagro, uma das mais importantes publicações do mundo especializadas no setor.

Enquete realizada pelo Datagro neste mês mostra que entre os donos de carros bicombustíveis, 52% preferem abastecer com álcool; 29% calculam a relação de preço/desempenho; 11% utilizam o que estiver mais barato e 8% ainda escolhem a gasolina. O Brasil já bateu a marca de um milhão de carros flex, em novembro, 31 meses de seu lançamento no mercado. Em setembro, eles representaram 66% das vendas de carros novos. Os movidos à gasolina ficaram 28% do mercado.

Naquela época, quando o álcool começou a incomodar a Petrobrás, Maurílio Biagi Filho lembra-se de que a estatal fez de tudo para livrar-se do álcool. Quis usar MTBE como aditivo, em lugar do álcool anidro, e montou duas fábricas desse poluente. Aconteceu até uma falta artificial de álcool, para desacreditá-lo. "Enquanto o Terminal de Combustíveis Líquidos de Ribeirão Preto tinha 292 milhões de litros de álcool estocados, o extinto Departamento Nacional de Combustíveis autorizava a saída de álcool num volume abaixo dos pedidos dos postos, alegando falta do produto", diz.

Usinas paulistas investem em pesquisa e tecnologia

Do bagaço de cana à ração animal e energia elétrica, já são centenas de subprodutos

Com o Proálcool mesmo acossado, a economia canavieira foi o setor da iniciativa privada que mais investiu em pesquisa e desenvolvimento. As usinas, observa Maurílio Biagi Filho, se tornaram laboratórios de tropicalização tecnológica. De bagaço de cana à ração animal e energia elétrica, de levedura a papel, de diamante a medicamentos, são centenas de subprodutos, naturais, renováveis e brasileiros.

Foi o programa que mais proporcionou resultados positivos pioneiros para o País, todos em defesa do meio ambiente, conseqüência da aposta do empresário Menezis Balbo, de Sertãozinho, 78 anos, nos filhos e sobrinhos. Foram os primeiros a co-gerar eletricidade a partir do bagaço de cana; cultivar cana e soja orgânicas; produzir o açúcar orgânico, e o plástico biodegradável, este em sociedade com a Usina da Pedra. "É um dos poucos segmentos da economia que não depende nem de uma arruela estrangeira", orgulha-se Maurílio. Quem passa pelas usinas pode ter certeza de que está diante do reduto da tecnologia e de profissionais mais avançados do mundo da cana, do açúcar, do álcool e seus derivados.

O Interior de São Paulo dedicado à agroindústria canavieira fervilha. Pelo menos 35 profissões de nível universitário foram valorizadas com o Proálcool. Anualmente, cientistas e chefes de governo de mais de 50 países visitam a região de Ribeirão Preto. A Usina São Martinho foi a primeira a receber um primeiro-ministro japonês. O Brasil exporta este ano 150 milhões de litros de álcool para fins industriais ao Japão. "A história do Proálcool é a história de atirar no urubu e acertar no gavião", diz Cícero Franco, referindo-se aos resultados positivos. Afinal, ninguém sabia que misturar álcool anidro à gasolina faria dela a primeira do mundo livre do cancerígeno chumbo tetraetila.

Moacyr Castro

Proálcool, 30 anos

Não podíamos de deixar de lembrar de um fato importante para o país, que é o Proálcool- Programa Nacional do Álcool, que está compleou 30 anos de existência em 2005. Muito tempo se passou, mas os seus reflexos positivos continuam a ecoar pelo país, incidindo diretamente no fortalecimento e reconhecimento do potencial sucroalcooleiro do país.

O objetivo principal do Proálcool era principalmente diminuir a dependência externa de energia –– uma questão estratégica de segurança nacional ––, mas também propiciar uma melhora no balanço de pagamentos, reduzir disparidades regionais de renda, expandir a produção de bens de capital e gerar empregos.

Os esforços para superar os choques do petróleo fizeram os setores agrícola e industrial da cana-de-açúcar experimentarem um grande desenvolvimento tecnológico. Um êxito inegável do Proálcool foi exatamente o de promover sinergias, aliando competências técnicas de importantes indústrias e instituições de pesquisa, sempre com o apoio continuado de organismos governamentais em diversas áreas –– tecnologia, política industrial, planejamento energético, agricultura, entre outras ––, para realizar uma das poucas iniciativas de inovação de alcance global já ocorridas no Brasil.

Muito se tem discutido sobre o Proálcool, mas a maioria ainda ignora a sua verdadeira magnitude. Não temos dúvidas de que certas pessoas e entidades cometem um grave erro quando criticam este grandioso programa, que representou o esforço da sociedade brasileira, e especificamente, o desafio vencido pelo setor da agroindústria da cana-de-açúcar.

Aos que têm memória curta e são muitos, quero lembrar que o Proálcool impediu que o país mergulhasse em uma dívida externa somente devido à compra de petróleo, ainda maior que a necessária, durante as crises do abastecimento sofridas pelo mundo, em 1973 e 1975.

Poucos se lembram dos benefícios que tal programa propiciou ao país, como:
. Aumento da área da cana-de-açúcar

. Aumento do número de empregos no campo e nas indústrias ligadas ao setor

. Aumento da atividade comercial na área sucroalcooleira, com o consequente aumento do recolhimento de impostos

. Redução da importação de fertilizantes pela utilização de resíduos industriais, como é o caso da vinhaça

. Crescente utilização do bagaço para fins de cogeração de energia, sendo que a adoção de tarifas justas viabilizará a produção de energia elétrica, justamente no inverno, quando o volume de água dos rios é baixa

. Utilização do bagaço como alimentação animal, o que poderá tornar o País o maior produtor de carne do mundo, através do sistema de confinamento

. O álcool é um combustível menos poluente e renovável, produzido com tecnologia genuinamente brasileira.

O setor da agroindústria canavieira é, no momento, o único capaz de reunir vantagens que vão, desde a economia de divisas, melhorando a Balança Comercial, até a geração de empregos. O setor emprega hoje 1,2 milhão de trabalhadores no país.

É por todos esses motivos que se torna fundamental que a população tome conhecimento da verdade a respeito do álcool e sua importância para o Brasil, municípios, trabalhadores, produtores de cana, açúcar e álcool para a sociedade, que passa a respirar um ar mais puro.

José Coral é presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba

Proálcool mantém inimigos

“Os inimigos do Proálcool deixam de mencionar os benefícios propiciados ao País, como o aumento da área da cana-de-açúcar, aumento do número de empregos no campo e nas indústrias ligadas ao setor, aumento da atividade comercial na área sucroalcooleira, com o consequente aumento do recolhimento de impostos, redução da importação de fertilizantes pela utilização de resíduos industriais, como é o caso da vinhaça, crescente utilização do bagaço para fins de cogeração de energia, utilização do bagaço como alimentação animal,o álcool é um combustível menos poluente e renovável, produzido com tecnologia genuinamente brasileira".

A declaração é de José Coral, presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba (Afocapi) ao lembrar os 30 anos do Programa Nacional do Álcool, comemorados neste mês.

Segundo Coral, o Proálcool impediu que o País mergulhasse em uma dívida externa devido à compra de petróleo, ainda maior que a necessária, durante as crises do abastecimento sofridas pelo mundo em 1973 e 1975. "Piracicaba está entre os principais pólos da agroindústria canavieira e todas as discussões envolvendo o setor passam po r aqui, como é o caso do Biodiesel, a instalação do Pólo Nacional de Biocombustíveis e a recente visita do embaixador do Japão, que esteve no Centro Canagro e na Dedini debatendo com representantes da indústria canavieira, a ampliação do mercado externo do álcool", observa.

Para José Coral a maioria das pessoas ainda ignora a verdadeira magnitude do Programa Nacional do Álcool. No seu entender, o setor da agroindústria canavieira é, no momento, o único capaz de reunir vantagens que vão, desde a economia de divisas, melhorando a balança comercial, até a geração de empregos. O setor emprega hoje 1 milhão e duzentos mil trabalhadores no país. "É por todos esses motivos, argumenta o presidente da Associação, que se torna fundamental que a população tome conhecimento da verdade a respeito do álcool e da sua importância para o Brasil, municípios, trabalhadores, produtores de cana, açúcar e álcool e para a sociedade".

Coral lembra que os preços dos combustíveis fósseis já crescem significativamente. "Devido aos ganhos de eficiência obtidos pelo sistema agroindustrial da cana-de-açúcar, é possível hoje se produzir álcool a custo inferior ao da gasolina. Já se pode perceber os efeitos disso. Os veículos leves bi-combustíveis tiveram, em junho de 2005, o percentual de 51,9% do total de vendas internas; estima-se que em 2010 esse valor possa chegar a 80%".