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Exportação de soja traz desajuste a vários setores e exige importação recorde de matéria-prima


Folha de S.Paulo - 06 nov 2020 - 09:55

As exportações recordes de soja estão trazendo um desajuste econômico em vários setores da economia. A redução interna do produto e de seus derivados afeta desde a cadeia de combustíveis à de produtos de higiene e de limpeza, além de encarecer produtos nas prateleiras de supermercados.

O resultado é que o país está com patamares recordes de importação de várias matérias-primas que, tradicionalmente, é exportador.

A saída da soja pelas fronteiras do Brasil reduziu a oferta do óleo, um dos componentes na fabricação do biodiesel. Para suprir parte dessa lacuna, o país já acumula compras externas de 45 mil toneladas de sebo nos nove primeiros meses deste ano. Só em setembro, foram 13 mil toneladas, apesar de o país ser um dos mais importantes na produção mundial de proteínas.

No mês passado, as importações continuaram intensas. Dados provisórios da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), referentes a toda a importação de gorduras e de óleos vegetais – o sebo é um dos componentes desse item –apontam uma média diária de 4.779 toneladas por dia útil em outubro, 336% mais do que em igual mês do ano passado. Os dados consolidados por produto serão divulgados nesta sexta-feira (6) pelo governo.

As importações de óleo de soja também crescem. Em setembro, somaram 15 mil toneladas, um volume mensal que remonta 20 anos atrás, quando o país ainda não era grande produtor e exportador de soja.

A escassez da oleaginosa no mercado interno trouxe de volta algumas discussões do passado: alimento ou combustível? Nessa mesma linha, o setor de produtos de higiene e de limpeza, que se utiliza de óleo e de sebo, quer reduzir a utilização desses produtos no setor de combustível.

Com a dificuldade na aquisição do óleo de soja, que responde por 72% da matéria prima usada na produção do combustível, a participação do sebo e de outras gorduras já é de 20% na fabricação do biodiesel – o sebo participa com 12% desse percentual.

A importação de sebo e de óleo de soja aumenta, mas ainda não há uma regulamentação para o uso do produto importado na fabricação do combustível. Há uma expectativa do mercado que essa regulamentação ocorra para o próximo leilão, que deverá ser na primeira semana de dezembro.

Juan Diego Ferrés, presidente da Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene), diz que essa liberação deveria ser anunciada com pelo menos 30 dias de antecedência do leilão. As empresas têm de se preparar para a importação da matéria-prima, principalmente porque as compras agora são feitas em destinos mais distantes.

Ele diz acreditar que deveria haver uma retenção de uma cota de soja no mercado interno. Levar a oleaginosa para a China, em uma escala de cem, o país fica com 70, devido a frete, taxas e outros gastos. Nas importações, o país gasta 130.

Neste ano, o Brasil produziu 125 milhões de toneladas de soja e já exportou 82 milhões. A estimativa preliminar de produção da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para a próxima é de 134 milhões. O fluxo da soja no país está tão confuso que a Conab parou de fazer estimativas de oferta e demanda para o mercado interno.

Mauro Zafalon – Folha de S.Paulo