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RenovaBio

Quem são os inimigos do biodiesel?


BiodieselBR.com - 12 abr 2019 - 10:01

Quem são os inimigos do biodiesel no Brasil hoje? Quais são os grupos e pessoas que, de algum modo, estão freando o desenvolvimento deste biocombustível no país?

Excluindo os nomes óbvios, vamos encontrar um grupo que até pouco tempo não dava a menor importância para o biodiesel: o setor de etanol. O segmento sequer entendia ou procurava entender como este mercado funcionava, mas, agora, trabalha por meio de uma intricada rede de pessoas para fazer com que o aumento da mistura chegue o mais tarde possível.

O grupo em questão começou a se preocupar com o biodiesel porque ele irá competir em um produto que vai ser lançado no próximo ano, os créditos de descarbonização (CBios). Assim, parte do setor de etanol não quer que o biodiesel avance.

Por causa da forma como o RenovaBio foi estruturado, quanto maior for o uso de biodiesel, menor será demanda por CBios vindos do etanol hidratado. Por esse motivo, houve até mesmo uma comemoração de pessoas ligadas ao setor de etanol quando a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não recomendou o aumento da mistura de biodiesel ao diesel.

A princípio, o RenovaBio deveria estimular uma competição saudável entre as usinas, mas ele está desencadeando uma guerra entre setores – em resumo, a política pública está induzindo uma parte do mercado de etanol a trabalhar para limitar o crescimento do biodiesel. Ou seja, a preocupação deixou de ser a redução das emissões de carbono e passou a ser fazer o dinheiro dos CBios fluir mais para um setor do que para outro.

De certa forma, esse importante grupo de pessoas que seguem este raciocínio estão repetindo o erro que cometem ao tratar o carro elétrico como um inimigo. Elas parecem não entender quem são seus aliados e seus opositores. A guerra a ser travada é a dos produtos com baixa emissão de carbono contra os produtos de grande emissão de carbono – o setor e o meio ambiente apenas perdem com batalhas como estas. Falta a percepção de que o etanol, o biodiesel e o carro elétrico estão do mesmo lado.

Ficar tentando passar rasteira em um setor que está contribuindo para diminuir a poluição nas cidades e no planeta para poder vender mais CBios é um completo despropósito.

Oficialmente, nada disso acontece. Mas quem está dentro do mercado, conhece as pessoas e sabe como o jogo é jogado já percebeu o que está sendo feito há algum tempo. Inclusive, a possibilidade de disputa entre os dois setores foi levantada por BiodieselBR.com/novaCana um ano atrás, quando o RenovaBio estava em processo de definição de metas. Na época, o alerta já era voltado para os riscos dessa visão estreita.

Os setores de biodiesel e etanol precisam se unir contra o diesel e a gasolina. Sozinhos, eles têm menos atuação e possibilidades na luta contra a força secular do petróleo. O etanol tem 46% do mercado de ciclo Otto do Brasil, enquanto o biodiesel tem 10% do mercado de ciclo diesel. O carro elétrico dificilmente terá 10% do mercado nacional nos próximos 10 anos. Em contrapartida, o poluente petróleo tem 74% do mercado de combustíveis do Brasil.

O etanol e o biodiesel, juntos, podem fazer uma transformação no curto prazo muito maior que o carro elétrico. Basta eles se unirem e entenderem que o objetivo é partir para cima da gasolina e do diesel no mercado nacional.

Aumentar o uso de biodiesel e de etanol no mercado de combustíveis do Brasil é a luta justa, é a guerra onde todos veem claramente de que lado devem estar. É a guerra contra as emissões de carbono.

Miguel Angelo Vedana é diretor-executivo do novaCana e da BiodieselBR.com