O preço dos CBios e o impacto no preço dos combustíveis
Começou hoje a investida das distribuidoras contra o RenovaBio. Com o preço dos CBios passando dos R$ 80, as distribuidoras começaram a espalhar que o custo alto dos papeis impacta negativamente no valor final dos combustíveis. Segundo as contas do Brasilcom, o acréscimo ao consumidor estaria na faixa dos 6 centavos por litro.
Com o governo federal pensando em desembolsar várias dezenas de bilhões de reais entre corte de impostos e subsídios diretos aos combustíveis para segurar os preços nas bombas; a ideia de acabar com o RenovaBio – ou, pelo menos, paralisá-lo até o fim do ano – passa a circular pelos gabinetes de Brasília. Se é que isso já não vinha acontecendo antes.
A redução da mistura de biodiesel de 13% para 10% mostrou que o governo atual está disposto a olhar apenas para os efeitos diretos e de curto prazo de suas ações. Então, se alguém chegar com uma conta de padeiro para dizer que, sem o RenovaBio, os combustíveis ficariam alguns centavos mais baratos, vai ter gente graúda levando esse número a sério.
Mas é preciso olhar para esses números com uma dose de ceticismo. O primeiro ponto é que o valor pago pelos CBios vai para as usinas de etanol e biodiesel. Essa é uma receita esperada pelas usinas e contabilizada como parte da composição de seus lucros. É razoável esperar que, sem os CBios, os fabricantes compensem as perdas aumentando os preços cobrados por seus biocombustíveis.
Em resumo, os efeitos de liberar as distribuidoras da compra de CBios acabariam sendo mínimos – se houvesse mesmo algum.
O benefício de não ter que comprar CBios iria principalmente para distribuidoras que comercializam pouco etanol e, portanto, têm que mais créditos para abater suas emissões de gás carbônico. Essa é parte da lógica do programa: seu custo para as distribuidoras é proporcional as emissões. Se uma distribuidora tem 1% de sua receita oriunda da venda de biocombustíveis, ela vai ter que comprar CBios proporcionalmente a 99% de seu faturamento. Se ela tem 20% de receita com renováveis, sua meta cai para 80% do faturamento.
Paralelamente, o aumento no custo da gasolina e do diesel já era esperado. Não porque o programa queira punir os consumidores, mas porque ela contribui para tornar o uso de biocombustíveis economicamente mais vantajosa ajudando a alavancar o consumo de renováveis.
Dólar
Mas estes são só dois aspectos, há um outro fator que pode ser muito mais relevante: a cotação do dólar.
Intervenção e mudança de regras não é algo bem-visto pelo mercado. Ainda mais quando atinge uma política de alta visibilidade como é o caso de um programa de mitigação das emissões de carbono. A onda de desconfiança gerada pode levar fundos de investimento do mundo todo a evitar trazer recursos no Brasil fazendo com que o dólar volte a subir. E o câmbio tem sido um fator muito mais significativo para os preços finais dos combustíveis no Brasil do que qualquer outro. O dólar está ligado ao valor que pagamos no óleo de soja, no petróleo e no açúcar que, por sua vez, impactam no etanol, na gasolina, no diesel e no biodiesel.
O governo deveria estar muito mais preocupado em fazer o Brasil um país atraente para o capital estrangeiro do que em medidas paliativas para conter os preços dos combustíveis. O melhor momento para fazer isso era alguns anos atrás. O segundo melhor momento é agora.
Miguel Angelo Vedana – BiodieselBR.com