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RenovaBio

Caibiense bate recorde de certificação óleo de soja de terceiros para o RenovaBio


BiodieselBR.com - 15 mai 2025 - 17:06

Em sua mais recente renovação de certificação, a usina de biodiesel Caibiense alcançou um alto percentual de elegibilidade de matéria-prima no RenovaBio, multiplicando significativamente seu potencial de emissão de Créditos de Descarbonização (CBios). Esse ganho, que elevou a fração elegível da usina de cerca de 15% para mais de 80%, foi impulsionado pela inclusão do óleo de soja rastreado, superando um dos maiores desafios do setor no RenovaBio.

O trabalho fundamental para viabilizar essa conquista foi realizado pela agrifintech Merx, que forneceu a solução tecnológica e fez a intermediação necessárias para garantir a rastreabilidade da matéria-prima junto aos fornecedores. Este caso de sucesso sinaliza um caminho para superar as barreiras que limitam a participação dos produtores de biodiesel no programa.

Este desenvolvimento protagonizado pela Caibiense e Merx é particularmente relevante pois ataca de frente um dos nós do RenovaBio para o biodiesel: a comprovação da origem sustentável da soja, especialmente quando adquirida de terceiros. A solução encontrada pela empresa, embora promissora e representando um marco, surge como uma novidade em um contexto onde, por anos, a dificuldade em rastrear grãos tem sido um obstáculo central para a plena integração do setor ao programa.

Esse obstáculo existe desde antes da certificação da JBS de Lins (SP), que aconteceu há cinco anos fazendo dela a primeira usina oficialmente autorizada a emitir CBios. As regras de elegibilidade do RenovaBio não facilitam que usinas que fabricam a partir de grãos certifiquem seus produtos. Pela lei que criou o programa, só são elegíveis para emissão de CBios biocombustíveis fabricados a partir de biomassa plantada em áreas que não tenham sido desmatadas depois de 27 de novembro de 2018.

Cumprir essa regra é algo relativamente simples para usinas de etanol de cana-de-açúcar, que costumam ter seus fornecedores concentrados num raio de poucos quilômetros. A cana, afinal, precisa ser moída logo após a colheita. Para a cadeia de grãos, contudo, manter esse controle é bem mais difícil. Como podem ser estocados por longos períodos, é comum que a produção de dezenas – e até centenas – de propriedades vá se misturando ao longo da cadeia, a ponto de ninguém saber quem produziu o quê no fim da linha.

Com mais de 7 milhões de m³ de biodiesel – cerca de 74% do total – fabricados com óleo de soja no ano passado, além da crescente produção de etanol de milho, é fácil perceber que uma grande parcela dos biocombustíveis brasileiros acaba ficando fora do RenovaBio. Os efeitos disso podem ser vistos nos números da ANP. Enquanto os fabricantes de etanol de cana certificados conseguem comprovar a elegibilidade de aproximadamente 90% de sua produção; os de etanol de milho estão na faixa dos 70%, e as usinas de biodiesel amargam menos de 40%.

No fim das contas, o RenovaBio perde de duas formas: com menos CBios ofertados, os papéis acabam ficando mais caros o que pressiona as contas das distribuidoras – que têm mantido elevados os níveis de inadimplência e judicialização do programa. Fora isso, a renda gerada acaba se concentrando em menos mãos.

Para tentar contornar essas dificuldades, ainda em 2022 a ANP publicou o Informe Técnico 06/SBQ, no qual detalhou as regras para garantir a rastreabilidade dentro da cadeia de custódia dos grãos usados para a produção de biocombustíveis.

Tirando do papel

Mas é só agora – mais de dois anos e meio depois – que o setor de biodiesel está começando a se apropriar das novas regras. E a pioneira nesse esforço está sendo a Caibiense.

A empresa participa do mercado de biodiesel desde setembro de 2008, quando sua usina de Rondonópolis (MT) entrou em operação. A planta tem porte relativamente modesto para os padrões do setor, com 90 mil m³ de capacidade instalada e vendas de 63,2 mil m³ no último ano – melhor resultado de sua história. Ainda assim, no que diz respeito ao RenovaBio, a Caibiense colocou parte dos grandes do setor para comer poeira.

Não é de hoje que a empresa participa do programa. Sua primeira certificação saiu em maio de 2021. “Entramos ainda na primeira leva”, comenta a coordenadora de Sustentabilidade da empresa, Tuani Balestreri, acrescentando que a empresa completou a renovação em 2024.

Nesses dois primeiros certificados, no entanto, a Caibiense seguiu o caminho da maioria dos fabricantes e certificou apenas a parcela da produção feita a partir de resíduos. Da primeira vez, a fração elegível foi de 19%, caindo para 14,6% na segunda. “Não pensamos em ir atrás de certificar o óleo de soja até porque não tínhamos pessoal apto para tanto”, explica Tuani.

Na certificação mais recente, contudo, a fração saltou para 80,3%. Isso foi possível graças à inclusão do óleo de soja na certificação. Segundo a documentação apresentada pela empresa e inspecionada pela Benri, além dos 14,8% de resíduos, também entraram na conta 65,4% de óleo de soja. O que torna a certificação da Caibiense ainda mais interessante é que ela não esmaga soja – todo esse óleo certificado foi fornecido por terceiros.

Todas as usinas que superam a marca de 80% de elegibilidade o fazem por produzir biodiesel, majoritariamente, a partir de gordura animal e outros resíduos. Das 39 usinas de biodiesel com certificados válidos, só três possuem frações elegíveis maiores que a Caibiense: a Biopower de Lins (95,8%), a Olfar de Porangatu (91,4%) e a Olfar de Porto Real (87,7%). A Caibiense será a primeira a atingir esse nível de elegibilidade usando principalmente óleo de soja.

Articulação

Para dar esse salto, a Caibiense teve que se articular com seus fornecedores. Por não ter produção verticalizada, foi preciso trazer para a mesa seus fornecedores de óleo. Só assim, seria possível ter acesso aos dados dos fornecedores primários de soja que permitiriam atestar que o biodiesel da Caibiense atende às regras de sustentabilidade do RenovaBio. Para organizar esse meio de campo, a empresa contou com o apoio da MerX – agrifintech fundada em 2021 que atua também com soluções tecnológicas focadas na rastreabilidade de commodities agrícolas.

De acordo com um dos fundadores da MerX, Guilherme Dominici, o trabalho com a Caibiense começou em agosto do ano passado. Foi mostrado que seria possível aumentar muito a elegibilidade da usina por meio da criação de um programa de incentivo aos fornecedores.

Embora não revele detalhes do acordo, Tuani diz que foi uma relação de ‘ganha-ganha’. “Apesar de comprarmos há muito tempo e termos uma relação muito boa com esses fornecedores específicos, eles teriam que formar uma força-tarefa e fazer um trabalho gigantesco. Era justo que tivessem algum ganho com isso”, explica. Guilherme conta que, com o mandato da Caibiense, a equipe da MerX pôde analisar os fornecedores e contatá-los, demonstrando as vantagens de participar do programa. “Montar a cadeia de custódia com os fornecedores era o maior desafio da Caibiense, pois praticamente todo seu volume vinha de terceiros”, explicou Sarah Silva Santos, Gerente de Projetos de Sustentabilidade da MerX.

Segundo Sarah, mais de 15 pessoas da MerX estiveram envolvidas em todo o processo de montagem da cadeia de custódia da Caibiense. “O desafio é lidar com um volume de dados muito grande cuja interpretação exige tecnologia, automação e análise visual para separar o que é elegível do que não é”, explicou. Além da rastreabilidade da soja, também foi preciso levantar as emissões de carbono envolvidas no esmagamento e no frete do óleo até a usina.

O resultado do trabalho

O trabalho deu resultado. A Caibiense teve seu teto de emissão de CBios multiplicado por três – de 34,9 mil para 106,6 mil CBios por ano. Se vendidos ao preço médio da última semana (R$ 59,20 por CBio), esse volume poderia gerar R$ 6,31 milhões, cerca de R$ 4,25 milhões a mais que na certificação anterior.

Como é esperado com a adição do óleo de soja, a Nota de Eficiência Energético-Ambiental (NEEA) da usina caiu de 80 gCO₂eq/MJ para 44,5 gCO₂eq/MJ, já que a soja não é considerada de emissão zero como os resíduos. Grosso modo, esse número expressa quanto o biodiesel fabricado é mais limpo que o diesel que substitui.

Caso as 39 usinas de biodiesel que participam do RenovaBio certificassem a fração de suas produções que, hoje, não está elegível com base nos números da Caibiense, o setor aumentaria sua emissão de CBios em mais de 50%, gerando receita adicional de mais de R$ 265 milhões por ano.

E vem mais por aí

A certificação da Caibiense ainda usa valores padrão fornecidos pela ANP. Embora permitam certificar as usinas mais facilmente, esses valores adotam premissas conservadoras justamente para incentivar que os atores passem a registrar seus dados primários de produção e buscar aprimorar a performance ambiental de seus processos.

Não foi possível chegar nesse nível agora, mas Guilherme confirma que é nessa direção que a MerX e a Caibiense querem caminhar. “Já estamos trabalhando em maneiras de coletar também os dados primários [das lavouras] para podermos aumentar a nota de eficiência da Caibiense. Nossa meta é conseguir emitir o máximo de CBios que pudermos”, afirma.

A intenção é confirmada por Tuani Balestreri. “Esse é um segundo passo que estamos avaliando”, diz, acrescentando que, embora não saiba o quanto isso renderia em CBios adicionais, com os dados primários seria possível praticamente dobrar a nota ambiental da usina. “Isso, claramente, seria possível”, conclui.

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com