Em busca de sustentabilidade, empresas adotam biodiesel e eletricidade
A Scania fez uma venda inédita de 100 caminhões prontos para rodar com 100% de biodiesel. O negócio, pioneiro, foi fechado com a Amaggi – maior empresa brasileira de grãos e fibras. O anúncio foi feito este mês, mas os caminhões movidos totalmente a biodiesel (B100) já vinham sendo testados pelas empresas.
Com isso, a Amaggi passa a contar com a maior frota rodoviária do agro movida com B100. Atualmente, pela legislação, os caminhões a diesel são homologados para funcionar com mistura de 12% de biodiesel, com a finalidade de redução das emissões.
De acordo com o comunicado conjunto emitido pela Scania e pela Amaggi, a ação faz parte da estratégia de descarbonização da empresa. As 100 unidades do modelo 560 R 6×4 Super 100% a biodiesel compõem apenas uma parte da compra feita com a Scania.
O lote total fechado entre as empresas é de 350 unidades. Os restantes 250 caminhões utilizam diesel padrão. Todos os modelos são Euro 6, com motores que atendem à nova lei de redução de emissões de poluentes, em vigor desde janeiro de 2023. As entregas estão previstas para começar em maio de 2024.
Atualmente, a frota da Amaggi tem 700 caminhões, e a previsão da companhia é de chegar a 1.100 unidades no fim de 2024. “A Amaggi vem sendo pioneira no uso de modais logísticos sustentáveis, como na navegação fluvial, e entendemos que o uso do biodiesel vem na mesma direção, atendendo os objetivos de descarbonização das operações da empresa”, comentou Judiney Carvalho, CEO da multinacional brasileira, que tem 74 unidades localizadas em 42 municípios de nove Estados, além de escritórios na Argentina, China, Holanda, Noruega, Suíça, Cingapura e no Paraguai.
De acordo com o CEO da empresa, no futuro, o plano é expandir o uso de biodiesel B100 também na frota fluvial da companhia, além de tratores e outros maquinários agrícolas. Carvalho adianta que a tecnologia já vem sendo testada pela empresa. “Sonhamos em ter toda nossa frota um dia 100% abastecida com biodiesel.”
Fábrica de biodiesel
O B100 utilizado pela Amaggi em sua frota é produzido pela própria empresa, em uma fábrica inaugurada este ano em Lucas do Rio Verde (MT). A companhia informa que, na mesma área, com mais de 26 mil m2 de construção, a empresa já possui uma indústria esmagadora de grãos e de onde sai a matéria-prima para a fabricação do biocombustível. Segundo a empresa, a fábrica tem capacidade estimada de produzir 368 mil m3 de biodiesel por ano.
Biodegradável e sustentável, o biodiesel é um tipo de combustível produzido a partir de fontes renováveis. No caso da Amaggi, a matéria-prima é o óleo de soja. Seu uso está associado à diminuição de emissão de gases de efeito estufa, como o monóxido de carbono.
“Trata-se de uma compra histórica. É a nossa primeira venda de caminhões 100% movidos a biodiesel originais de fábrica”, afirma Simone Montagna, presidente e CEO da Scania Operações Comerciais Brasil, que acrescenta: “Todo o ciclo sustentável está completo, pois a fábrica de biodiesel é da própria Amaggi”.
De acordo com Montagna, os testes foram satisfatórios e o veículo está plenamente preparado para receber o combustível.
Frota elétrica
Na Braspress – uma das maiores transportadoras do Brasil -, uma frota de 30 veículos elétricos faz operações diárias de entregas desde 2020, quando as primeiras unidades foram adquiridas pela empresa sediada em Guarulhos. “Compramos os caminhões chineses cheios de preconceito”, relembra o presidente da empresa, Urubatan Helou.
Na época, ele diz que havia dúvidas em relação a questões relacionadas à durabilidade e manutenção, por exemplo. Hoje, sua avaliação é outra. “Não se ouve falar deles”, afirma, reforçando que há baixo nível de manutenção.
A frota é composta por 15 vans e 15 caminhões da JAC, que atuam na região metropolitana de São Paulo. Na Braspress, os modelos são dirigidos por motoristas mulheres, dentro do programa da empresa batizado de Rainhas do Volante.
De acordo com o relatório de sustentabilidade divulgado pela transportadora este ano, o uso de veículos elétricos resultou em economia de 45.360 litros de diesel desde o início das operações, há três anos. Ainda de acordo com cálculos da empresa, a frota elétrica evitou a emissão de 210,5 toneladas de CO2 na atmosfera.
Desafios
Apesar disso, o presidente da empresa diz que teve de contornar questões relacionadas à recarga, e levanta outras dúvidas sobre os elétricos. “(No início) Estávamos energizando (os caminhões) com energia ‘suja’, normal”, diz, em referência à energia proveniente da rede elétrica. Helou informa que estabeleceu contratos com a Raízen, o que garantiu fornecimento de 50% da energia por meio de energia renovável.
Além disso, ele informa que a Braspress está desenvolvendo um projeto para instalação de energia solar na empresa, para gerar internamente a energia elétrica. “São experiências muito positivas”, garante.
Mesmo assim, Helou acrescenta que é necessário aguardar para ver como a frota se comportará quando estiver mais velha. “Precisamos esperar esses caminhões ficarem velhos para saber como será o descarte dessas baterias, qual será o valor de revenda. Temos ainda uma série de interrogações”, diz. “Qual será o comportamento quando tiverem 6, 7, 8 anos?”
Outra questão é relacionada ao preço. “Um pequeno caminhão de coleta e entrega a diesel custa cerca de R$ 350 mil, R$ 400 mil. Um da mesma categoria elétrico vai custar R$ 800 mil. Há uma equação financeira que precisa ser resolvida. Falta escala de produção.”