Estudo traça como Brasil pode eletrificar mais de 14 mil ônibus urbanos até 2030
O Brasil pode substituir mais de 14 mil ônibus a diesel por modelos elétricos até 2030. Isso sem precisar ampliar a frota nem promover grandes mudanças na operação. A conclusão é do estudo Acelerando a Transição: Estratégia para Eletrificar a Frota Brasileira de Ônibus até 2030. A pesquisa foi realizada pelo Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP Brasil), em parceria com a Scipopulis e com apoio do Ministério das Cidades.
Portanto, o documento analisa dados operacionais reais e apresenta um roteiro prático para acelerar a transição energética no transporte coletivo. Aliás, o estudo foca nas maiores regiões metropolitanas do País.
Conforme o levantamento, 14.146 veículos a diesel em operação já têm consumo energético compatível com a autonomia dos ônibus elétricos disponíveis no mercado nacional. “Ao identificar o número de ônibus com potencial de eletrificação, a pesquisa fornece insumos para que o governo federal possa direcionar recursos de forma mais eficaz e sistemática, melhorando a qualidade de vida das pessoas nas cidades”, afirma Clarisse Cunha Linke, diretora-executiva do ITDP Brasil.
Regiões metropolitanas
O estudo partiu da análise de 46.236 veículos existentes nos sistemas avaliados, dos quais 37.395 estavam efetivamente em operação. Os pesquisadores examinaram dados como distância percorrida, frequência das viagens e idade da frota, identificando os modelos mais antigos e poluentes. Principalmente os com tecnologia Euro III e Euro V, facilmente substituíveis sem comprometer a cobertura do serviço.
Além disso, a metodologia evitou cenários que exigissem aumento de frota, reestruturação de linhas ou mudanças profundas na operação. Dessa forma, torna a proposta mais realista e economicamente viável.
Os sistemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia e Belo Horizonte aparecem entre os que concentram o maior número de veículos com potencial de troca. Nessas cidades, por exemplo, a substituição impactaria diretamente a qualidade do ar e a saúde de milhões de pessoas.
A troca da frota poderia reduzir em 24,6% as emissões de gases de efeito estufa nos sistemas avaliados. Ou seja, o equivalente a evitar 437,7 mil toneladas de CO₂ por ano. Isso representaria uma economia anual estimada entre R$ 54 milhões e R$ 62 milhões, considerando apenas o Custo Social do Carbono.
Além de reduzir a poluição, os ônibus elétricos oferecem mais conforto aos passageiros por serem silenciosos. Somado a isso, esses veículos não emitem fumaça e apresentam menor vibração durante a viagem. De acordo o ITDP, essa mudança tem potencial para impactar positivamente a vida de cerca de 41% da população brasileira. Isso porque pretende oferecer uma guia para modernizar 50% da frota de ônibus urbanos das 21 maiores regiões metropolitanas.
Recomendações
O relatório aponta três frentes prioritárias para viabilizar a eletrificação:
• Gestão e governança de dados: fortalecer a capacidade técnica dos municípios para coletar e analisar informações sobre a operação do transporte público.
• Infraestrutura de recarga: planejar pontos de abastecimento de acordo com a realidade das rotas, evitando custos excessivos ou equipamentos subutilizados.
• Compras públicas coordenadas: unir União, estados e municípios para dar escala à aquisição de veículos elétricos, reduzindo preços e fortalecendo a indústria nacional.
Agenda climática global
A publicação também reforça o papel estratégico da eletrificação em políticas como o Programa de Renovação de Frota do Transporte Público Coletivo Urbano (REFROTA), inserido no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC). Com a COP 30 marcada para acontecer este ano em Belém, o ITDP vê o momento como uma oportunidade para o país assumir protagonismo regional. Isso seguindo exemplos como o do Chile, que já conta com milhares de ônibus elétricos em circulação em Santiago.
Para Clarisse Linke, a eletrificação não deve ser vista como algo distante ou inacessível. “O cenário atual mostra que é possível dar passos concretos, priorizando investimentos e renovando os veículos mais antigos e poluentes. Essa é uma ação que combina responsabilidade ambiental, benefício social e viabilidade econômica”, conclui.