'Vontade política' pode ajudar nas exportações de farelo de soja
O setor de soja está bem estruturado internamente. A produção cresce, e o país abocanha boa parte do mercado externo desse produto.
Um dos desafios, portanto, é ter um olhar mais acurado para o setor externo. Para que isso ocorra, é necessário um envolvimento maior das autoridades brasileiras no relacionamento com alguns países importadores da oleaginosa, principalmente os asiáticos.
"É preciso mais vontade política", diz Carlo Lovatelli, presidente-executivo da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais).
Essa vontade política pode ser uma abertura de canais de diálogo entre governos, aprimorando o relacionamento comercial.
No caso da China, seria colocar não só soja em grão naquele país mas também exportar farelo de soja. Atualmente os chineses só compram o produto em grãos.
Mas, para adquirir farelo de soja, os chineses provavelmente vão colocar uma contrapartida, exigindo, por parte do Brasil, a compra de produtos deles. Aí entram as negociações entre governos.
Lovatelli diz que, além da China, a Coreia do Sul, o Vietnã e a Tailândia seriam bons mercados para o farelo brasileiro.
O Brasil precisa elevar as exportações de farelo. A demanda interna cresce, mas a cada ponto percentual na mistura de biodiesel ao diesel o país esmaga mais 2 milhões de toneladas de soja, de onde provêm 1,5 milhão de toneladas de farelo e 400 mil toneladas de óleo.
Um dos objetivos da Abiove é a exportação de pelo menos 5 milhões de toneladas de farelo para os chineses. Se o país atingir esse objetivo, obterá receitas anuais de US$ 1,65 bilhão a mais apenas com esse produto.
Mas como convencer os chineses a comprar farelo do Brasil se só adquirem grãos? Eles não têm muito o que escolher, na avaliação de Lovatelli. O Brasil é o único país que tem potencial de fornecimento dessa matéria-prima para eles.
"Nós precisamos deles, mas eles também precisam de nós", diz o executivo da Abiove.
Uma abertura de mercado para o farelo poderia até aliviar a situação da indústria brasileira em situações como a deste ano. A queda de 5% na produção de carne de frango fez as vendas internas de farelo de soja recuarem 4%, segundo Fabio Trigueirinho, secretário-geral da Abiove.
2017
A produção de soja deverá atingir 102 milhões de toneladas em 2017. Deste volume, 58 milhões serão exportados, com receitas de US$ 21,5 bilhões.
Já a exportação de farelo sobe para 15,5 milhões de toneladas, rendendo US$ 5,1 bilhões.
Incluindo as receitas com óleo de soja, as exportações de todo o complexo soja devem render US$ 27,6 bilhões, na avaliação da Abiove. Neste ano, as vendas externas rendem US$ 25 bilhões.
Mauro Zafalon