Subvenção do seguro rural para a soja levará em conta boas práticas no campo
O programa de zoneamento agrícola de risco climático (zarc) para a cultura da soja vai incluir boas práticas de manejo de solo na análise para liberação de subvenção do seguro rural. A Embrapa Soja vai coordenar um projeto-piloto do programa no Paraná na safra 2025/26.
Para validar a metodologia de classificação de risco, a Embrapa Soja fez avaliações de campo em 62 propriedades no Paraná e 201 no Mato Grosso do Sul. As regras do projeto-piloto foram aprovadas pelo Comitê Gestor Interministerial do Seguro Rural. O Ministério da Agricultura reservou R$ 8 milhões para subvenção do seguro dos produtores participantes.
José Renato Bouças Faria, pesquisador da Embrapa Soja, diz que a intenção do projeto é melhorar a precisão na análise de riscos da safra se os produtores forem estimulados a adotarem práticas mais sustentáveis.
Desde que foi criado, em 1996, o zoneamento agrícola de risco climático considerava três classes de água disponível no solo, sendo determinadas pela textura do solo, principalmente o teor de argila. A partir de 2022, um novo método de classificação passou a considerar seis níveis de água no solo, estimada pelos teores de areia, silte e argila.
Agora a avaliação levará em conta as práticas de manejo de solo, que podem incrementar o volume de água disponível. “Desenvolvemos um método de avaliação simples, com indicadores quantitativos, objetivos, verificáveis e mensuráveis para serem aferidos”, diz Faria.
Produtores ligados à Cocamar, Coamo e Cooperativa Agroindustrial de Cascavel (Coopavel) estão entre os participantes do projeto-piloto. “Selecionamos 20 cooperados que são referência em boas práticas agrícolas para implementar a proposta e testar na prática a nova metodologia baseada em níveis de manejo”, diz Renato Watanabe, gerente-executivo técnico da Cocamar.
Para avaliar o manejo de solo serão considerados seis indicadores: tempo sem revolvimento do solo; cobertura de solo (palhada); diversificação de culturas nos últimos três anos agrícolas; teor de cálcio e alumínio no solo; semeadura em nível (quando o terreno tem declividade superior a 3%); e fertilidade do solo (medida por capacidade de reter cátions como cálcio, magnésio e potássio). As análises de solo serão realizadas por laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura.
O zoneamento vai considerar quatro níveis de manejo, variando de acordo com a adoção das técnicas de manejo e o impacto na fertilidade do solo e disponibilidade de água. Para as áreas com nível 1 de manejo, a subvenção do seguro rural será de 20%, que é atualmente o percentual padrão de subvenção da soja. Áreas com nível 2 terão 25% de subvenção; no nível 3, a subvenção será de 30%, e no nível 4, de 35%. “A intenção é reconhecer quem tem o melhor manejo e estimular quem não tem a adotar”, afirma o pesquisador da Embrapa Soja.
A classificação do nível de manejo será calculada de forma automatizada por meio de uma plataforma digital desenvolvida pela Embrapa Agricultura Digital, o Sistema de Informações de Níveis de Manejo (SINM). Serão considerados dados da propriedade como operações mecanizadas, intervenções no solo e cultivos pré-semeadura. Também serão obtidas informações por sensoriamento remoto e geoprocessamento para verificação da área, e análises de solo, com geolocalização das amostras.
Os dados serão inseridos no SINM por operadores credenciados previamente, como cooperativas, seguradoras, laboratórios de análise de solo, empresas de geoprocessamento e órgãos públicos de assistência técnica. Com a classificação do nível de manejo pelo SINM, a seguradora irá submeter a proposta ao Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), que fará a atribuição do percentual de subvenção correspondente ao nível alcançado.
Atualmente, diz Faria, a escassez hídrica é a principal causa de perdas na produção de grãos de soja no Brasil. As práticas conservacionistas ajudam a aumentar a infiltração de água no solo e a reduzir o escorrimento de água e solo, comum durante chuvas intensas. No país, segundo Faria, a perda média de produção de soja por problemas climáticos é de 10% ao ano, o que equivale à perda de uma safra em cada dez temporadas. No Paraná, a perda equivale a uma safra em cada seis. Só não é pior do que no Rio Grande do Sul, onde se perde uma safra a cada quatro.
“Esse é um caminho que nós temos perseguido com a Embrapa há, no mínimo, dois anos. A safra de verão será o pontapé inicial, mas esperamos seguir no aprimoramento da metodologia e ampliar o alcance e a alocação de recursos para as próximas safras”, diz Diego Melo de Almeida, diretor do departamento de gestão de riscos do Ministério da Agricultura.
Cibelle Bouças – Globo Rural