Preço da soja tem tendência clara de queda
Com expectativa de recorde na produção, sojicultores das principais regiões produtoras do País iniciam hoje o cultivo da safra 2014/2015, e, mesmo com a pressão nos preços vinda da colheita nos EUA, devem sustentar o aumento nas áreas de plantio.
Para o setor, a oleaginosa ainda é a melhor opção em relação a outros grãos como o feijão e o milho. Analistas e representantes do setor julgam preocupante a questão dos preços.
"Chegamos a trabalhar este ano com US$ 15 a US$ 16 o bushel, que hoje está em US$ 10,5 o bushel, portanto, houve uma queda muito grande. Se fala em preço interno para a próxima safra saindo de um patamar de R$ 55 o preço futuro, que está hoje em torno de R$ 40, R$ 45, não mais do que isso", estima o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Ricardo Tomczyk.
Produção
O último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), divulgado na semana passada, mostra que a produção norte-americana de soja pode chegar a 106,41 milhões de toneladas, com produtividade média de 52,85 sacas por hectare em uma área plantada de 34,32 milhões de hectares.
Para o Brasil, estimativas do USDA apontam aumento de 4,7% na área com oleaginosa na temporada 2014/2015, indo para 31,5 milhões de hectares, o que pode gerar 94 milhões de toneladas, volume que, se confirmado, seria recorde e 8,4% maior que o da temporada anterior. O processamento brasileiro está previsto para crescer 4,4%, para 37,6 milhões de toneladas e as exportações devem ser de 46,7 milhões de toneladas, 0,6% maiores em relação à safra anterior.
O gerente de oleaginosas e produtos pecuários da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Thomé Guth, acredita na possibilidade de uma produção nacional com 94 milhões de toneladas, mas a certeza só virá quando estiverem completamente definidas as áreas para plantio.
"As tendências que temos são aumento de produção, aumento de área plantada e recuo de preços, mas ainda assim o produtor não vai deixar de apostar porque os outros grãos estão menos atrativos. No Estado do Paraná, o agricultor prefere receber R$ 52 pela soja do que R$ 17 pelo milho", explica Guth.
Além disso, os estoques mundiais estão altos, a importação chinesa cresce em ritmo mais lento. De acordo com o gerente da Conab, só nos Estados Unidos os estoques subiram pouco mais de 30%, enquanto as projeções de compra da China no mundo tiveram alta de 7% nesta safra.
De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), com a oferta norte-americana e estoques mundiais crescentes, na CME Group (Bolsa de Chicago), o vencimento para novembro de 2014 caiu 2,2% entre 4 e 11 de setembro, a US$ 9,8150 o bushel (US$ 21,64 por saca de 60 kg) na última quinta-feira (11) - o menor valor para este contrato, que começou a ser negociado em 11 de novembro de 2010.
Preço
Em vista desta conjuntura de fatores, o analista do banco Rabobank Brasil, Renato Rasmussen, destaca que ainda há espaço para quedas maiores nos preços da soja.
"Nossa preocupação é que muitos produtores já colheram e ainda têm o grão armazenado, à espera de melhora dos preços para comercializar o produto, porém, sem nenhum embasamento de que o valor vá subir", diz o especialista.
Segundo o Cepea, há relatos de que ainda restam 15% do período de 2013/2014 para negociar e o sojicultor, de fato, está retraído. Quanto à temporada 2014/2015, estima-se que apenas 12% a 14% foram negociados até o momento.
Para o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), a venda antecipada da safra reflete a preocupação dos produtores em escoar o produto.
Na média da entidade, foram comercializados até agora apenas 11% da produção prevista. Isto que equivale a menos de 3,1 milhões toneladas. Neste mesmo período do ano passado, mais de 10 milhões de toneladas do grão já tinham sido negociadas.
Custos
O gerente da Conab lembra que, na contração da rentabilidade do produtor, os custos de produção têm aumentado, puxados principalmente pela alta nos defensivos agrícolas.
"Três gastos estão pesando na lavoura: possível aumento nos combustíveis (que incluem o biodiesel), fertilizantes e agrotóxicos, cada vez mais caros e com maior necessidade de aumento quantidade de aplicação", diz.
Nayara Figueiredo – DCI