Conab aponta forte atraso no plantio de soja no Brasil
O plantio da safra de soja no Brasil no ciclo 2024/25 alcançou 9,1% da área até o último dia 13 de outubro, disse a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Nessa mesma data do ano passado, a semeadura alcançava 19%.
Em análise sobre as condições de clima em algumas regiões produtoras, a Conab disse que em Mato Grosso - principal Estado produtor - a irregularidade das chuvas motivou o atraso nos trabalhos.
Já no Paraná, as chuvas beneficiaram o plantio na última semana, além do desenvolvimento vegetativo, especialmente em áreas do oeste do Estado. Já no Rio Grande do Sul as chuvas impediram o início da semeadura, mas os produtores estão realizando o preparo do solo.
Ainda segundo boletim da Conab, as condições climáticas devem beneficiar o andamento do plantio na próxima semana. Segundo a estatal, para o Centro-Oeste, onde está concentrada grande parte da produção, são esperadas chuvas bem distribuídas que deverão elevar a umidade do solo. Os maiores acumulados deverão ocorrer em Goiás, no nordeste de Mato Grosso e sudoeste de Mato Grosso do Sul.
Para Daniele Siqueira, analista da AgRural, a previsão de chuvas para a segunda quinzena do mês deve anular o atraso no plantio da safra de soja brasileira.
“Em Mato Grosso, o plantio é o mais atrasado desde a safra 2020/21. Caso chova bem nos próximos dias, o atraso pode ser revertido, pois os produtores de Mato Grosso são extremamente tecnificados, e conseguem plantar muito rapidamente assim que as condições climáticas e do solo permitam”, destaca a analista.
Na manhã desta terça-feira (15/10), a Conab divulgou sua primeira previsão oficial para a safra de grãos 2024/25. Para a soja, a estimativa é de um crescimento de 2,8% na área semeada, mesmo com o atraso no plantio devido ao tempo seco. Ainda assim, a produção da oleaginosa deve aumentar 12,7%, para 166,05 milhões de toneladas.
“Esse percentual de crescimento de área da oleaginosa está arrefecido nesta safra, sendo este o terceiro menor percentual de incremento registrado desde o ciclo 2009/10. O atraso do início das chuvas, sobretudo nos Estados da região Centro-Oeste, vem atrapalhando os trabalhos de preparo do solo e do plantio”, diz o relatório da Conab.
Consultorias
A consultoria Safras & Mercado acreditam que as estimativas da Conab são "conservadoras" e espera uma produção maior do grão. “Nossa estimativa é maior, de 171,8 milhões de toneladas de soja, com produtividade maior para a soja. Mas concordamos que o país deve ter uma safra recorde”, afirmou o analista Luiz Fernando Roque.
O analista ponderou que a perspectiva de clima é de um La Niña mais fraco e de curta duração, o que deve favorecer o desenvolvimento das lavouras. “Os dados para outubro e novembro indicam chuva regular, se for confirmado o país terá seu potencial produtivo pleno”, disse Roque. Ele considera que a fase de seca ficou para trás e o cenário está mais positivo para o desenvolvimento das lavouras.
O analista considerou “muito conservadores” os números previstos para o Rio Grande do Sul. No caso da soja, a previsão da Conab é de colheita de 20,3 milhões de toneladas. “A gente vê potencial para o Rio Grande do Sul colher de 22 milhões a 23 milhões de toneladas”, disse. Segundo o analista, o impacto das enchentes de maio para a safra atual é muito pequeno, praticamente nulo.
Já a StoneX prevê produção de 165 milhões de toneladas, com avanço na área plantada abaixo de 1%. A consultoria também destacou que a estimativa da Conab de exportações de soja é de 105,5 milhões de toneladas na safra 2024/25, ante 92,4 milhões no ciclo 2023/24. A StoneX prevê embarques de 102 milhões de toneladas.
“Muita coisa ainda pode mudar, dependendo do clima. Mas o fato é que o Brasil, se produzir uma safra cheia, tem potencial para voltar a exportar mais de 100 milhões de toneladas no ano que vem”, afirmou Ana Luiza Lodi, especialista de inteligência de mercado de grãos da StoneX.
Trigo
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu em 6,2% a estimativa para a produção de trigo em 2024, para 8,26 milhões de toneladas, mas o número ainda foi considerado alto pelo analista sênior Luiz Carlos Pacheco, da T&F Consultoria Agroeconômica.
“Nossa estimativa nunca ultrapassou 7,89 milhões de toneladas. A safra deve ser 377 mil toneladas a menos do que a Conab está reportando”, disse Pacheco.
O analista acrescentou que a Conab fez estimativas muito otimistas para a produção de trigo, sobretudo na região Sudeste.
A Conab estima a produção de trigo em Minas em 405,8 mil toneladas, queda de 13,3% em relação ao ciclo anterior. A T&F estima a produção em 230 mil toneladas. “Falei com muitos produtores e não tem esse trigo todo. Em São Paulo também, a Conab fala em 358,3 mil toneladas, não será mais do que 250 mil toneladas”, acrescentou o analista.
Para o Rio Grande do Sul, a T&F estima produção de 4,05 milhões de toneladas, contra 4,19 milhões de toneladas previstas pela Conab.
O analista diz que a projeção da Conab de quebra de 29,7% na produção do Paraná, para 2,53 milhões de toneladas, está em linha com as estimativas da consultoria, assim como a previsão de 423,5 mil toneladas de produção de trigo em Santa Catarina.
“As safras em Santa Catarina e Rio Grande do Sul começam a ser colhidas agora e há previsão de fortes chuvas no Sul do país. Se chover agora isso pode estragar a qualidade da safra”, acrescentou.
Uma das consequências da safra menor de trigo, disse Pacheco, é o aumento das importações. “Paraná e Santa Catarina aumentaram em 300% as importações e isso está mantendo altos os preços do trigo na Argentina. Quando acabar a colheita no Brasil, o preço do trigo no país vai ser regulado pela cotação do grão importado”, afirmou.
O analista sênior estima que o preço da tonelada do trigo pode subir até R$ 600 reais entre janeiro e julho do ano que vem. Segundo o indicador do Cepea/Esalq, o trigo no Paraná registrou ontem R$ 1.431,78 a tonelada, queda de 1,21% no acumulado do mês.
A T&F estima que a Argentina exportará para o Brasil em torno de 1 milhão de toneladas para atender o Sul do país entre agosto deste ano e julho do ano que vem.
Paulo Santos, Cibelle Bouças e Fernanda Pressinott – Globo Rural