Clima em outros Estados também preocupa sojicultores
Depois de um início avassalador, com clima favorável ao plantio e trabalhos de campo surpreendentemente acelerados, a atual safra de soja (2018/19) dava todos os sinais de que poderia quebrar o recorde da temporada 2017/18, considerada "excepcional" por analistas.
Mas depois que os primeiros talhões foram colhidos em Mato Grosso e no Paraná, que lideram a produção brasileira do grão, o recorde passou a ser um sonho distante. Isso não significa que o volume total será muito menor que o da temporada passada, mas certamente muitos agricultores enfrentarão problemas.
A falta de chuvas, combinada com o excesso de nebulosidade e o calor intenso, reduziu a produtividade das lavouras de plantio precoce e as perspectivas já não são tão positivas, num cenário que afeta também Mato Grosso do Sul.
Ao mesmo tempo, no Rio Grande do Sul, terceiro maior produtor do país, é o excesso de precipitações que deverá afetar o rendimento nas regiões da Campanha e da Fronteira Oeste, onde têm havido alagamentos e enchentes, segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado (Emater/RS-Ascar).
Conforme a Emater, perdas estão sendo avaliadas nos polos de Dom Pedrito, Santa Maria, São Pedro do Sul, Mata e São Vicente do Sul, entre outras, e as perdas tendem a ser significativas. Por enquanto o problema é menor que o dos Estados ao norte, mas haverá quebras individuais significativas.
"A chave desta safra será o peso do grão", afirmou Valmir Assarice, analista da Agroconsult. Segundo ele, amostras de grãos de lavouras precoces de Mato Grosso apresentaram peso abaixo da média em decorrência de problemas climáticos.
Caso São Pedro fique um pouco mais bem-humorado, em Mato Grosso ainda é possível minimizar as perdas. Tanto que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ainda projeta a colheita estadual em 32,2 milhões de toneladas, apenas 0,4% menor que a do ciclo 2017/18.
"As chuvas deverão continuar irregulares até o fim da semana que vem. Da primeira semana de fevereiro em diante, começarão a ficar mais frequentes e poderá haver inclusive alguns períodos de invernadas", disse Marco Antonio dos Santos, agrometeorologista da Rural Clima.
Segundo ele, em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais as chuvas irregulares agravam as condicoes das lavouras. "Se chover neste fim de semana como está previsto, as perdas serão estancadas e poderá haver pouca mudança nas estimativas de safra para a soja. Mas se não chover a produção final vai despencar", disse.
"No mesmo talhão a gente pega uma reboleira que está boa e outras que estão ruins. Parece que passou uma nuvem no meio do campo e só", afirmou Marcelo Ferrari, produtor de Nova Mutum (MT). Essas chuvas "manchadas" têm sido comuns em todo o médio-norte de Mato Grosso nas áreas de plantio de variedades de sementes precoces.
Quebras mais significativas deverão ser percebidas no Paraná e em Mato Grosso do Sul. Segundo a consultoria Agroconsult, no Paraná as perdas deverão chegar a 2,4 milhões de toneladas, e em Mato Grosso do Sul, a 1 milhão de toneladas.
No Matopiba (confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), também há preocupação. A previsão ainda é de poucas chuvas para os próximos dias e o quadro só deverá melhorar de fato em fevereiro.
Kauanna Navarro – Valor Econômico
A jornalista viajou a convite do Rally da Safra 2019