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Algas

Startups de biotecnologia trocam biocombustíveis por lucro


BiodieselBR.com - 05 out 2012 - 10:33 - Última atualização em: 29 nov -1 - 20:53
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Antes fonte promissora de energia verde, os biocombustíveis de alta tecnologia estão sendo eclipsados por cremes para a pele e produtos alimentares nos Estados Unidos, conforme os fabricantes trocam para produtos mais lucrativos.

Em 2005, quando o Congresso americano criou um marco para os combustíveis renováveis, mais de uma dúzia de empresas da região da Baía de São Francisco entraram na corrida para criar novos biocombustíveis. A ideia era usar organismos geneticamente modificados ou outras técnicas inéditas para produzir combustíveis renováveis com a metade das emissões de carbono da gasolina.

Até agora, contudo, as iniciativas para fabricar biocombustíveis avançados não renderam os resultados esperados. Segundo fontes ligadas ao setor, nenhuma das startups da Baía de São Francisco produziu quantidades comercialmente significativas dos combustíveis de alta tecnologia, e algumas passaram a focar em outros produtos, como cosméticos e suplementos alimentares.

“Os biocombustíveis têm todos um mesmo problema fundamental: você precisa usar recursos para plantar esses biocombustíveis”, diz Dave Jones, CEO da LiveFuels, empresa sediada em San Carlos que extrai óleo de algas. “O custo é bastante alto. Você gasta US$ 5 para produzir um galão de US$ 3.”

Segundo relatório divulgado este mês pela Environmental Entrepreneurs, associação de empresas da área ambiental, investidores privados injetaram pelo menos US$ 4 bilhões no setor de biocombustíveis avançados desde 2008. Já o governo americano concedeu verbas de pesquisa e garantias de financiamento que somam mais de US$ 1,7 bilhão no mesmo período.

Enquanto biocombustíveis mais simples como o etanol de cana-de-açúcar e o biodiesel de óleo de vegetal cresceram, as tecnologias mais novas estão ficando para trás, diz Heather Youngs, analista do Instituto de Biociências Energéticas da Universidade da Califórnia.

A história da LiveFuels ilustra bem a guinada. O plano inicial da empresa era criar peixes e cultivar algas para fabricar biocombustível. As algas, com alto teor de óleo, serviriam para alimentar os peixes, dos quais o óleo seria extraído. Mas logo a empresa percebeu que ganharia muito mais dinheiro fabricando outros produtos, como suplementos de ômega-3 e ração para peixe.

“Percebemos bem cedo que saía muito caro produzir combustível”, diz Jones. “Há várias coisas mais importantes para se fazer com esse óleo ao invés de queimá-lo.”

Outra que mudou de foco foi a Aurora Biofuels, de Hayward. A empresa foi rebatizada para Aurora Algae em 2010, após reduzir investimentos em pesquisas com biocombustíveis e começar a fazer suplementos nutricionais e ração para peixe.

De forma similar, a Solazyme, de São Francisco, tinha como meta original produzir combustível a partir de algas geneticamente modificadas. Mas logo descobriu que as algas podiam ser usadas para fazer produtos mais lucrativos, como cremes antirrugas. A empresa também produz sucedâneos de baixa-caloria para substituir farinha, manteiga e ovos.

“Você acaba vendo um perfil nutricional que tem menos calorias, menos gordura, menos colesterol”, observa Bob Ames, vice-presidente de comercialização de combustíveis da Solazyme.

Enquanto isso, em Emeryville, a Amyris (ex-Amyris Biotechnologies), que produz óleos a partir da fermentação de açúcares, reduziu sua produção de biodiesel. A decisão foi comunicada numa conferência para investidores, em maio, pelo CEO John Melo. Entre os produtos da empresa está o squalane, substância usada em cremes amaciantes para a pele que normalmente é extraída do fígado de tubarão ou do óleo de oliva.

Outras duas empresas também mudaram o foco para outros produtos. A LS9, de São Francisco, começou recentemente a produzir químicos para detergentes industriais e domésticos, e a Cobalt Technologies, de Mountain View, agora produz químicos para colas, tintas e solventes industriais.

Na raiz dessa tendência está uma realidade financeira.

“O custo de produção desses combustíveis por enquanto ainda é muito alto”, diz Heather, da Universidade da Califórnia.

As matérias-primas, como algas, água e açúcar de cana, custam mais de US$ 4 por galão de combustível produzido, sem contar os custos para transformar esses materiais em óleo, diz Jones, da LiveFuels.

Segundo Heather, as empresas precisam aumentar exponencialmente a escala de operações para diminuir os custos de produção. Uma fábrica comercial costuma custar entre 100 e 500 milhões de dólares.

“Para uma tecnologia não testada, isso pode ser demais para os investidores”, diz Heather. Há empresas que conseguiram financiamento por meio de parcerias com empresas maiores ou então com garantias de financiamento do governo, acrescenta a analista.

Mas a aposta em produtos caros, de produção restrita, pode gerar receitas muito bem-vindas enquanto as empresas tentam reduzir custos e aumentar a escala de produção dos combustíveis.

“Uma empresa como a Solazyme consegue vender cremes cutâneos a US$ 90 a onça [quase US$ 3 por grama]”, ressalta Heather. Tal estratégia, embora inteligente, é apenas uma solução temporária. “Eles só podem fazer isso por algum tempo, enquanto não alcançam níveis de produção altos.”

Mas há esperança de que alguns biocombustíveis de alta tecnologia estejam virando realidade. Em agosto, a Sapphire Energy, de San Diego, abriu uma usina para conversão de algas em petróleo no Novo México, com capacidade para quase 400 milhões de litros por ano.

A Solazyme deu início a um projeto de usina comercial no Brasil, com capacidade para 120 milhões de litros por ano, segundo o vice-presidente Bob Ames. A empresa assinou um contrato de US$ 82 milhões, com duração de três anos, para o desenvolvimento de biodiesel e combustíveis de aviação.

O sucesso do setor depende desses primeiros projetos comerciais, diz Heather. E se não conseguirem fabricar biocombustíveis baratos, algumas empresas talvez terminem focando permanentemente em cremes para a pele e suplementos alimentares. Para Heather, será uma grande decepção se isso acontecer.

“Não era o objetivo inicial”, diz a analista, “e essas empresas não teriam conseguido os financiamentos que conseguiram se fosse esse o objetivo declarado originalmente”.

Tia Ghose
Tradução e adaptação BiodieselBR.com