Eleição nos EUA tem efeito inesperado nos preços da soja em Chicago
O resultado da eleição nos Estados Unidos provocou forte oscilação nos preços da soja na bolsa de Chicago, que fechou a sessão praticamente estável. Os contratos com vencimento em janeiro subiram 0,20% nesta quarta-feira (6/11), a US$ 10,0375 o bushel.
A vitória do candidato republicano Donald Trump para o comando da Casa Branca deu forte impulso para a cotação do dólar no cenário externo até o início da tarde. Geralmente, diante desse cenário, as commodities agrícolas negociadas em Chicago perdem força, como aconteceu na abertura das negociações. A soja atingiu a mínima de US$ 9,82 durante o pregão.
“Independente de quem fosse o vencedor da corrida eleitoral americana, ele teria pouco impacto para o preço da soja em Chicago. O mercado ainda vai seguir pautado pelo fundamento de oferta, que neste momento supera, e muito, a demanda”, observa Luiz Pacheco, analista da T&F Consultoria Agroeconômica.
De acordo com ele, ainda que o retorno Trump à presidência dos EUA implique em aumento de sanções e tarifas para exportações à China, os asiáticos se anteciparam nas compras de soja americana. “Por isso o volume semanal de exportações dos EUA passou de 800 mil para mais de 2 milhões de toneladas recentemente, destaca o analista.
A confirmação de uma nova disputa comercial entre EUA e China poderia beneficiar a procura por soja do Brasil, assim como aconteceu em 2018. A confirmação desse cenário poderia colocar uma pressão extra sobre as cotações internacionais.
“Se Trump de fato impor novas sanções aos chineses, eles certamente virão se abastecer no Brasil. O problema é que a China já estocou bastante soja, com reservas para até dois meses. Eles [os chineses] vão comprar devagar para não estourar preços. Com isso, teremos alta nos prêmios no Brasil, mas um recuo dos valores em Chicago”, prevê Pacheco.
"A possibilidade de retorno das tensões comerciais entre os dois países pode afetar o agronegócio, especialmente o mercado de soja", detalha Luiz Fernando Roque, analista da Safras & Mercado. O Brasil e os Estados Unidos são os maiores fornecedores de soja para a China, que adquire anualmente entre 60 milhões e 70 milhões de toneladas do Brasil e 30 milhões de toneladas dos Estados Unidos.
Milho
Assim como aconteceu nos negócios da soja, o milho não sustentou a desvalorização registrada no início da sessão em Chicago. Assim, os contratos para dezembro avançaram 1,85%, para US$ 4,2625 o bushel.
Ismael Menezes, sócio da MD Commodities, diz que os preços sentiram o impacto da vitória de Trump, que na abertura do pregão deu impulso aos valores do dólar, e, consequentemente, derrubou os valores futuros do milho.
“Parte do mercado já vinha telegrafando a chance de Trump ganhar as eleições. Por isso vimos no começo um momento de pressão, mas que foi corrigido após ajustes técnicos”, ressalta Menezes.
As questões de demanda, que estão pautando as altas do milho nos últimas dias, também são uma força de alta para as cotações, lembra o analista.
“O milho dos EUA está navegando sozinho no mercado dos principais fornecedores do mundo, já que a Argentina negociou praticamente toda sua safra e no Brasil os produtores estão fora das negociações com o exterior porque o preço no mercado interno está melhor”, pontua.
Trigo
O trigo fechou a sessão na bolsa de Chicago com preços em leve alta. Os lotes para dezembro avançaram 0,13%, a US$ 5,7325 o bushel.
Luiz Pacheco, da T&F Consultoria Agroeconômica projeta cotações em alta no médio prazo. Isso deve acontecer, segundo ele, pois a Rússia – maior exportador mundial de trigo – deve perder espaço no mercado.
“Após determinação governamental, a Rússia agora não negocia seu trigo abaixo de US$ 265 a tonelada. Com isso, as exportações do país que antes abarrotavam o mercado agora podem perder força. A partir de agora, é muito provável que a demanda se volte para os EUA, resultando em alta para os valores em Chicago”.
Paulo Santos e Luciana Franco – Globo Rural