China realiza a maior compra de soja dos EUA em dois anos
A China acelerou significativamente suas compras de soja americana, em um movimento que encerra uma pausa temporária e parece sinalizar um compromisso com a trégua comercial alcançada no final do mês passado.
O Departamento de Agricultura dos EUA anunciou a venda de 792 mil toneladas de soja para a China para o ano comercial de 2025-2026, maior compra diária em dois anos. Isso eleva o total de compras conhecidas da China de soja dos EUA desde o início de outubro para pouco mais de um milhão de toneladas.
O presidente dos EUA, Donald Trump, disse nesta terça-feira que quer que a China “acelere” as compras de soja e pediu ao secretário do Tesouro, Scott Bessent, que fizesse o pedido diretamente a Pequim. Mesmo assim, Trump disse a repórteres no Salão Oval que “nosso relacionamento com a China tem sido muito bom. E, quanto à compra de nossos produtos agrícolas, eles estão praticamente dentro do cronograma.”
Mais cedo, a Bloomberg informou que a Cofco Group, empresa estatal de comércio agrícola, reservou quase 20 carregamentos da oleaginosa americana na segunda-feira para entrega em dezembro e janeiro, segundo pessoas familiarizadas com o assunto que pediram anonimato.
As vendas foram realizadas a partir de portos do Noroeste do Pacífico e de terminais do Golfo dos EUA, disseram as fontes. A Cofco não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
As compras reacenderam o otimismo do mercado em relação ao comércio de soja entre as duas potências agrícolas, que no ano passado somou mais de US$ 12 bilhões. Até recentemente, a China havia evitado comprar soja dos EUA durante grande parte da temporada, enquanto buscava usar o produto como trunfo nas negociações tarifárias.
O movimento prejudicou os produtores americanos, que já vinham enfrentando desafios devido à inflação e aos altos custos dos insumos agrícolas.
Ainda assim, a soja dos EUA já está mais cara do que a do Brasil antes do que provavelmente será outra safra recorde na América do Sul. A entidade setorial Abiove elevou na terça-feira a estimativa de produção de soja do Brasil para a próxima colheita para um novo recorde de 177,7 milhões de toneladas.
Os contratos de soja em Chicago oscilaram na terça-feira, após uma forte alta na segunda-feira que levou os preços ao maior nível em 17 meses.
“Os traders estão com um olho nas exportações e outro no clima de cultivo na América do Sul”, disse Naomi Blohm, analista da Total Farm Marketing.
As últimas compras de Pequim ainda deixam muito por fazer nos próximos meses, em um momento em que os estoques estão abundantes. Washington afirmou que Pequim se comprometeu a comprar 12 milhões de toneladas de soja dos EUA até o fim deste ano, seguidas de 25 milhões de toneladas anuais pelos próximos três anos.
Embora a China ainda não tenha confirmado compromissos específicos de compra, ela reduziu tarifas sobre o grão e suspendeu proibições de importação para três exportadoras americanas, incluindo a CHS Inc., em reciprocidade a ações conciliatórias semelhantes dos EUA.
“Atenção especial será dada a se a China continuará garantindo soja dos EUA”, disse a AgResource Co. em uma nota, acrescentando que a soja americana estava sendo comprada com um prêmio sobre os preços brasileiros.
“O ponto é que a China não queria comprar soja dos EUA — foi uma pressão política da administração Trump”, disse a AgResource em outra nota. Ainda assim, a empresa espera que compras adicionais da China sejam anunciadas na quarta-feira.