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EUA

Biden aprova projeto polêmico de extração de petróleo no Alasca


Folha de S.Paulo - 14 mar 2023 - 09:32

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aprovou nesta segunda-feira (13) um enorme projeto de extração de petróleo no Alasca. Batizado de Willow, o empreendimento vem enfrentando forte oposição devido ao seu impacto ambiental e climático.

A iniciativa de US$ 8 bilhões da companhia ConocoPhillips vai ser uma das maiores do tipo em solo americano e deve fornecer até 600 milhões de barris de petróleo em 30 anos. O campo de petróleo é localizado na Reserva Nacional de Petróleo do Alasca, que pertence ao governo americano e é de grande importância para a biodiversidade.

A queima dos combustíveis fósseis extraídos de Willow poderia liberar quase 280 milhões de toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera. Os Estados Unidos são o maior emissor histórico de carbono e segundo maior poluidor anual, ficando atrás apenas da China.

No início de fevereiro, o relatório de impacto ambiental emitido pelo Departamento de Gestão do Território apontou "preocupações substanciais" com o projeto, devido às emissões de gases de efeito estufa e o impacto para a vida selvagem e comunidades indígenas.

Ativistas e ambientalistas vinham fazendo uma campanha para impedir a aprovação, que mobilizou milhares de pessoas nas redes sociais, em especial no TikTok, onde vídeos com a hashtag #StopWillow acumulam milhões de visualizações.

Os protestos online também resultaram em mais de um milhão de cartas enviadas à Casa Branca, assim como uma petição que acumula mais de 3,2 milhões de assinaturas.

"Chegamos tarde demais à crise climática para aprovar projetos maciços de petróleo e gás que afetam diretamente a nova economia limpa que a administração Biden se comprometeu a promover", disse a presidente da ONG Earthjustice, Abigail Dillen, ao comentar a aprovação.

A jovem ativista climática Elise Joshi, 20, uma das primeiras a viralizar com a hashtag da campanha #StopWillow disse que Biden deu um tapa na cara dos jovens. "Nós queremos o fim de toda a extração de carvão, petróleo e gás neste país. Queremos as energias limpas do sol e do vento", afirmou em uma postagem. "Eu quero ter 30 anos e viver em um mundo que eu consigo reconhecer."

Em nota, Ryan Lance, presidente e diretor executivo da ConocoPhillips, disse que esta foi "a decisão certa para o Alasca e nossa nação" e que o projeto "se encaixa nas prioridades do governo Biden em justiça ambiental e social".

A bandeira climática foi uma das principais na campanha do presidente americano, que chegou a dizer "chega de perfuração [para petróleo e gás] em terras federais, ponto final".

De acordo com o jornal The New York Times, junto com a autorização, o governo americano declarou que vai restringir a exploração de petróleo marítimo no Oceano Ártico e na Encosta Norte do Alasca, região onde vai ser instalado o projeto Willow, em um aparente esforço para moderar as críticas sobre a decisão.

O Departamento do Interior disse que emitiria novas regras para bloquear a extração de petróleo e gás em mais de 52 mil km² dos 93 mil km² que formam a Reserva Nacional de Petróleo do Alasca.

Segundo um relatório elaborado pela Agência Internacional de Energia, para zerar as emissões líquidas de carbono até 2050, é essencial que não sejam feitos investimentos em novos projetos de extração de combustíveis fósseis. A meta é um dos passos para que seja possível cumprir o Acordo de Paris e limitar o aquecimento global a 1,5° C.

O Greenpeace chamou a decisão de uma traição ao planeta e às pessoas, ressaltou que, mesmo com desaprovação maciça, Biden acendeu o pavio da "bomba de carbono do projeto Willow" e que são necessários "líderes que levem a sério a ação climática".

Parlamentares democratas também se manifestaram contra o projeto nas redes sociais.

"Essa decisão desastrosa de aprovar o projeto Willow no Alasca, um dos maiores projetos de desenvolvimento de petróleo em décadas, terá consequências devastadoras para o nosso planeta, as comunidades da linha de frente e a vida selvagem", disse a deputada pelo estado de Michigan Rashida Tlaib.

O senador por Massachusetts Ed Markey chamou de "desastrosa" a decisão, que considera uma "injustiça ambiental". "Continuarei lutando ao lado [dos opositores ao projeto] para colocar nosso povo e nosso planeta à frente dos lucros das petroleiras", escreveu.

O projeto Willow tinha sido aprovado pelo governo do ex-presidente americano Donald Trump, mas foi interrompido temporariamente em 2021 por um juiz, que pediu que o governo fizesse uma revisão adicional.

No início de fevereiro, a análise ambiental do projeto emitida pelo Departamento de Gestão do Território sugeriu "privilegiar uma alternativa": reduzir de cinco para três locais de perfuração, com aproximadamente 219 poços. Essa foi a configuração aprovada nesta segunda-feira.

Jéssica Maes – Folha de S.Paulo