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Exportador de soja prevê menos turbulência em 2026 após a trégua entre EUA e China


Globo Rural - 12 dez 2025 - 08:28

O ano de 2025 foi marcado por tensões geopolíticas e incertezas comerciais, mas, a despeito disso, exportadores brasileiros acreditam que 2026 começará com um cenário internacional mais favorável. A trégua na guerra tarifária entre China e Estados Unidos e o aumento da competitividade dos produtos nacionais devem assegurar um ano de boas oportunidades e conjuntura mais estável, afirmam representantes do setor.

Os embarques de soja, principal item de exportação do agronegócio brasileiro, devem crescer e chegar a 112 milhões de toneladas, um aumento que refletirá o crescimento da produção, avalia a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). A entidade calcula que, em 2025, as vendas do grão ao mercado externo devem alcançar 108 milhões de toneladas — de janeiro a novembro, segundo o Comex Stat, o sistema de estatísticas de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o país exportou 104,7 milhões de toneladas.

No cenário geopolítico, a Anec acredita que o quadro começa a voltar à normalidade, após um período de tensões com a guerra comercial entre EUA e China, que beneficiou momentaneamente as vendas brasileiras de soja para o mercado chinês. Na entidade, a regra é “olhar para o que a China faz, e não para o que ela fala”, segundo comentam os dirigentes da associação.

“O acordo [entre EUA e China] previa embarque de 12 milhões de toneladas de soja americana para a China até o fim do ano. Isso não vai se concretizar. E o volume de 25 milhões de toneladas por ano, nos próximos três anos, que o acordo também prevê, está totalmente dentro da normalidade do que os Estados Unidos costumam exportar para a China, ao passo que a China vai aumentando o consumo”, resume Jean Carlo Budziak, responsável pela área de inteligência de mercado da Anec.

Se não houver rompimento desse acordo, a tendência, segundo a entidade, é que o mercado “vai retornar para a normalidade”. Ainda assim, Budziak afirma que é possível que haja problemas em suprir a demanda do mercado chinês, o que irá favorecer a soja brasileira.

De janeiro a novembro de 2025, a China foi o destino de 80% das exportações brasileiras de soja; no ano passado, a fatia chinesa nesse mesmo intervalo havia sido de 78%. Só em outubro deste ano, o Brasil enviou 6 milhões de toneladas à China, o que correspondeu a 94% dos embarques totais no mês.

Para os importadores chineses, a soja brasileira tem preços mais competitivos do que a americana. “A China vai continuar comprando soja brasileira, não há dúvida. Já começamos a contratar soja brasileira para a nova safra”, afirma Lin Tan, diretor da trading chinesa Hopefull.

O executivo acredita que, com o tempo, a soja brasileira irá dominar o mercado chinês. “A China talvez compre um pouco de soja dos EUA e da Argentina para estocagem. Mas, na maior parte do tempo, eles vão preferir comprar soja brasileira para abastecer as indústrias de esmagamento”, avalia Lin Tan.

Sobre o acordo para a compra de soja dos EUA, o executivo afirma que o lado chinês nunca chegou a confirmar essa informação. “E, se estamos falando que a China vai comprar 12,5 milhões [de toneladas] neste ano e depois 25 milhões nos próximos três anos, isso na verdade não é nada. Antes da guerra comercial, a China comprava mais do que isso”, observa.

Perguntando se a China continuará comprando soja dos EUA, Lin Tan afirma que é difícil saber. “Quando você compra soja dos EUA, o preço está muito alto, quase 100 centavos por bushel do que o do Brasil. Então o Brasil ainda é competitivo. Nós, uma empresa privada, não vamos comprar, porque não queremos pagar um preço tão alto”, diz.

O executivo observa ainda que a indústria americana de esmagamento aumentou sua capacidade e conseguirá processar mais soja do que antes da pandemia de covid-19. Para ele, isso dá ao Brasil um mercado ainda maior no cenário internacional.

Acordos comerciais

As tensões geopolíticas de 2025 dificultaram negócios e projeções, mas o ano chega ao fim com um cenário um pouco menos turbulento. Há soluções encaminhadas tanto no caso do tarifaço dos EUA sobre o Brasil quanto na guerra comercial dos americanos com a China.

Larissa Wachholz, sócia da Vallya Participações, diz que o Brasil temia um acordo nos moldes do que chineses e americanos firmado durante o primeiro mandato do presidente Donald Trump, em que a China era obrigada a comprar dos EUA uma quantidade definida de soja. Na época, esse arranjo foi prejudicial ao Brasil.

“Mas o cenário mudou muito de lá para cá. Primeiro: a China enfrentou uma quebra de confiança na relação com os EUA. E ela se preparou para um momento em que talvez não pudesse depender tanto dos Estados Unidos quanto dependia antes. Segundo: a China aumentou o consumo de grãos para ração animal”, observa a especialista. Nesse ponto, ela menciona o surto de peste suína africana, entre 2018 e 2019, que fez a China repensar a alimentação dos animais.

Esse movimento beneficiou o Brasil, enquanto os embarques dos EUA pouco mudaram em relação ao histórico — algo entre 20 milhões de toneladas e 30 milhões de toneladas por ano. Segundo a especialista, com a China decidindo fazer grandes estoques como estratégia de proteção, o ano de 2025 acabou sendo um ponto fora da curva.

O acordo entre EUA e China permitiu o “reinício” das exportações nos mesmos patamares de antes dessa ruptura. “Ou seja: no fim de 2025, voltamos a uma sensação de normalidade. Há, sim, um compromisso de compra por parte da China, mas dentro dos níveis históricos que ela já seguia. Nada que prejudique diretamente o Brasil”, argumenta ela.

A trégua que as duas potências firmaram em novembro, e que vale por um ano, garante certa estabilidade para 2026 no cenário internacional. “O acordo será cumprido — e meu ponto é que ele não é prejudicial ao Brasil. Na prática, ele apenas devolve a relação China-EUA ao patamar do fim de 2024”, acrescenta a especialista, que observa que, além da oleaginosa, o mercado chinês tem potencial para consumir "praticamente tudo o que o Brasil conseguir vender”.

Danton Boatini Júnior – Globo Rural