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O futuro do biocombustível pode estar na sua cozinha


Confederação Nacional do Transporte - 06 out 2010 - 06:21 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:14

O óleo de fritura, usado na maioria dos lares brasileiros, é a nova aposta de quem investe em agroenergia.

Os danos que o produto causa ao meio ambiente são catastróficos. Cada litro de óleo jogado na água é capaz de poluir cerca de 10 km quadrados da superfície aquática.

De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde, cada residência é responsável por descartar meio litro de óleo por mês de forma inadequada, como pelo ralo ou pia. O que significa dizer, segundo dados parciais do IBGE, que apenas no Brasil, por ano, cerca de 360 milhões de litros de óleo usado têm esse fim.

Pensando nesse problema, algumas iniciativas ganharam destaque. Em Brasília (DF), a Embrapa fez parceria com Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) e pretende começar a produzir biocombustível com o óleo recolhido das casas dos moradores.

O projeto tem o patrocínio do governo federal. A previsão, de acordo com o pesquisador da Embrapa Agroenergia, José Dílcio Rocha, é criar uma fábrica com capacidade para produzir até cinco mil litros por dia de biocombustível. "A gente ainda não sabe em quanto tempo vamos alcançar essa quantidade, mas como a produção não é comercial, vamos começar os trabalhos em uma frota de teste", explicou Dílcio.

Segundo ele, os testes com o novo combustível serão feitos na própria frota da empresa e a fábrica, em Brasília, está em fase de construção. A expectativa é que até o fim de 2011 ela entre em operação. "O que vai limitar a nossa produção é a quantidade de material que será coletado. Por isso, uma campanha será lançada para incentivar a população a guardar o óleo", lembrou.

Parcerias
Na produção do biocombustível da Embrapa, o óleo de fritura é purificado e 100% se transforma em biodiesel. Atualmente, 10% do que é recolhido pela Caesb no DF é utilizado para produzir sabão.

A ação conjunta da Embrapa e Caesb também quer alcançar bares e restaurantes. Para isso, já entrou em contato com o Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do DF (Sindhobar). "Tem restaurante em Brasília que utiliza dois mil litros de óleo por mês. A gente quer reunir todos que produzem resíduos para que seja um projeto ainda mais abrangente. Queremos envolver escolas, secretarias do governo local e setores de saúde onde há restaurantes", explicou o pesquisador da Embrapa.

Benefícios
Segundo a bióloga e presidente da ONG paulista Bio-Bras, Nadja Soares de Moraes, a transformação do óleo em biodiesel é recomendada por ser uma opção ecológica. "Você tem um resíduo de algo que já foi plantado em várias áreas de extensão de soja, de milho, etc. Foi extraído e utilizado. Agora, é possível voltar com ele para a cadeia produtiva sem precisar de novas áreas de plantio", defendeu.

Ainda assim, para ela, ainda não é suficiente. "Mesmo que se colete todo o óleo usado no Brasil, vamos precisar da produção de outros vegetais para o biodiesel. Mas isso auxiliaria muito o processo, além de evitar que outras áreas fossem desmatadas", lembrou a bióloga.

Segundo Nadja Soares, a tão conhecida prática de transformação de óleo em sabão não é mais a melhor opção: "já é possível destinar o resíduo para a produção de biodiesel, óleos lubrificantes, matéria-prima de tintas de parede e outras utilidades consideradas mais ecológicas", revelou.

ONG
A Bio-Bras existe há 13 anos e desenvolveu o projeto Renove para despoluir a bacia do Rio Tietê, em São Paulo. "A gente dá a alternativa para que a dona de casa possa descartar seu óleo de cozinha em postos de descarte, ao invés de jogar em ralo, bueiro, etc. Fizemos uma pesquisa na qual foi constado que 95% das residências descartam inadequadamente o óleo de cozinha na região próxima ao Tietê", revelou.

De acordo com ela, falta apoio e informação para que as pessoas façam o correto. "Raríssimos locais têm ponto de coleta para óleo de cozinha. Além disso, há poucas iniciativas de supermercados e lojas. O desafio é conscientizar as pessoas sobre o impacto ambiental disso", explicou.

Danos ao meio ambiente
Quando o óleo é jogado na pia, o primeiro impacto é o entupimento dos canos. Quando ele entope, ocorre o transbordamento do esgoto, causando problemas de saúde pública como doenças.

Quando o óleo alcança o rio não ocorre mistura entre os dois. Então, é formada uma película que impermeabiliza o espelho d´água. Em rios é difícil mensurar os danos devido à água corrente. Em água parada, é possível dizer que um litro de óleo forma essa película com 10 km quadrados de extensão.

Com isso, os raios solares acabam refletindo, impedindo a fotossíntese das algas e outras plantas que emitem oxigênio, o que faz o rio iniciar um processo de morte com o desaparecimento delas. O óleo também entra nas brânquias dos animais aquáticos. "Ele é um resíduo orgânico e emite gás metano, que é 20 vezes mais poluente que o gás carbônico", disse Nadja.

Se o óleo é jogado em terreno baldio, também causa danos irreversíveis. Ele impermeabiliza o solo e atinge o lençol freático. Se a pessoa armazena em recipientes e joga no lixo, quando ele é misturado pode haver a contaminação, impossibilitando a reciclagem de materiais que poderiam ser aproveitados.

Como armazenar
De acordo com especialistas, o ideal é armazenar o óleo de fritura em frascos de amaciante de roupa ou de água sanitária, evitando o uso de garrafas pet para esse fim, pois isso pode impossibilitar a reciclagem da garrafa plástica.

"O óleo de fritura é um material que, se for reciclado corretamente, faz diferença na produção nacional de biodiesel. Queremos fazer algo para servir de modelo para outras cidades. É preciso criar mecanismos para que o armazenamento do óleo seja um hábito automático do cidadão", destacou o pesquisador da Embrapa Agroenergia, José Dílcio Rocha.

Aerton Guimarães