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Brasil Ecodiesel faz acordo com grupo de soja Vanguarda [atualizado]


Agências - 19 abr 2011 - 06:04 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:16

Depois de incorporar o Grupo Maeda à estrutura da Brasil Ecodiesel, o investidor Enrique Bañuelos anuncia agora a fusão com outra produtora de soja e algodão, a empresa Vanguarda, do empresário e político mato-grossense Otaviano Pivetta.

O negócio, feito por meio da empresa de investimentos Veremonte, integra os planos do espanhol de construir uma gigante do agronegócio brasileiro, nos moldes do que ele já fez no mercado imobiliário. O acordo envolveu R$ 600 milhões e troca de ações. Com 230 mil hectares, 150 colheitadeiras próprias e três aviões, a Vanguarda foi oferecida a Bañuelos por R$ 1,2 bilhão.

Sem ter como adquirir 100% da companhia, com atuação em Mato Grosso e no oeste da Bahia, o fundo Veremonte propôs a compra de 50% da empresa. Com isso, a Vanguarda passou a ter dois acionistas - o fundo e o fundador Otaviano Pivetta. Por fim, os dois entraram em acordo para que todas as ações da empresa fossem incorporadas à Brasil Ecodiesel.

Para assumir 100% das ações da Vanguarda, a Brasil Ecodiesel terá que fazer uma operação para aumentar seu capital em R$ 1,2 bilhão. Concluída a operação, Pivetta pode ficar com uma fatia de 30% a 32% da Brasil Ecodiesel, cujo faturamento anual mais do que dobrará. Ele participará do conselho da companhia, mas não terá cargo executivo.

Natural do Rio Grande do Sul, Pivetta começou a plantar soja no cerrado no início da década de 80. Desde os 37 anos, tocou a empresa em paralelo com a carreira política: foi prefeito de Lucas do Rio Verde por duas vezes, deputado estadual e, no ano passado, candidatou-se a vice-governador de Mato Grosso na chapa do empresário Mauro Mendes, que acabou derrotado nas urnas. Após a fusão, a Veremonte passa a ter 22% da Brasil Ecodiesel e o Grupo Maeda, 15%. Ainda assim, a companhia continua sendo uma "corporation" - ou seja, sem controlador.

A fusão com a Vanguarda faz parte da mesma estratégia que levou a Brasil Ecodiesel a incorporar o Grupo Maeda em dezembro do ano passado. "Até então, a Brasil Ecodiesel estava espremida entre dois mundos complicados: dependia das commodities e da Petrobrás (que é quem compra o combustível por meio de leilão)", explica o CEO da Veremonte do Brasil, Marcelo Paracchini.

"Com a incorporação da Vanguarda, a Brasil Ecodiesel passaria a ser líder no setor agrícola no Brasil, com o maior número de hectares cultivados", diz Marcelo Paracchini, presidente do grupo Veremonte. Segundo ele, a empresa resultante da fusão contaria com 330 mil hectares plantados, ultrapassando a atual líder do setor, a SLC Agrícola, com 230 mil hectares. Dos 330 mil hectares da "nova" Brasil Ecodiesel, 224 mil foram ocupados por lavouras de soja nesta safra 2010/11, que está em fase de colheita no país. Outros 62 mil hectares foram dedicados ao algodão neste mesmo ciclo, e o milho foi plantado na área restante. O faturamento anual da Vanguarda chegou a cerca de R$ 440 milhões, ante os R$ 395 milhões da Brasil Ecodiesel.

O espanhol quer criar uma consolidadora do setor, a exemplo do que fez no setor imobiliário. "Queremos montar a PDG do agribusiness", diz Paracchini. "Com a junção das empresas [Vanguarda e Maeda], vamos unir modernidade e tradição."

Com a concretização do negócio, a companhia deixará definitivamente de ser apenas uma produtora de energia renovável e passará a atuar também nos segmentos de commodities agrícolas e alimentos. "Faz todo o sentido para a gente, num momento em que a soja deve ter alta de mais de 30% este ano e o algodão está com o preço mais alto dos últimos 140 anos." Com a Vanguarda, o valor de mercado da Brasil Ecodiesel passa de R$ 960 milhões para R$ 2,1 bilhões, com 330 mil hectares plantados. "É um negócio ainda maior que o firmado com a Maeda porque, além de ter uma área maior, a empresa tem equipamentos próprios", diz Paracchini.

A proposta deve ser discutida pelo conselho de administração e, caso aprovada, levada à assembleia de acionistas. Cerca de 70% das ações da Brasil Ecodiesel estão em poder do mercado. Os atuais acionistas da Vanguarda -Veremonte e Pivetta- devem receber ações da Brasil Ecodiesel, que precisará emitir novas ações no valor de R$ 1,2 bilhão. A Veremonte espera finalizar a operação entre 30 e 40 dias, segundo Paracchini.

Clique na imagem para ampliar:

Vanguarda Ecodiesel


PARA LEMBRAR
Aposta de Lula, empresa teve problemas
Arquitetada por um grupo de investidores em 2003 para ser a empresa exemplo da política de biodiesel do governo Lula, a Brasil Ecodiesel investiu na produção de oleaginosas alternativas, como a mamona, por exemplo, e também na construção de usinas no Nordeste, onde investiu em assentamentos de agricultores familiares, no Piauí.

Em pouco tempo, porém, a produção de mamona para a fabricação do biodiesel provou-se inviável. Amargando sérias dificuldades financeiras, sem capital suficiente para operar e sem o apoio governamental registrado no início, a empresa concentrou seus esforços na produção de biodiesel de soja. As usinas do Nordeste acabaram sendo desativadas. A reestruturação, inicialmente, deu resultados positivos.

No entanto, a suspensão do selo social da companhia por um ano fez com que a Brasil Ecodiesel voltasse a perder mercado e faturamento.

No fim do ano passado, o fundo Arion Capital, do espanhol Enrique Bañuelos, comprou uma participação na empresa brasileira de produção de biodiesel.

Tatiana Freitas, Fernando Lopes, Naiana Oscar
Fonte: Folha de S. Paulo, Valor Econômico e Estado de S. Paulo