BiodieselBR.com - Conteúdo Patrocinado 03 out 2025 - 10:07

O mercado global de combustíveis e de petroquímicos se realinhou desde o início da Guerra Russo-Ucraniana em fevereiro de 2022. Em um cenário desafiador, a Rússia passou a buscar alternativas para escoar a produção de suas petroleiras de forma bastante agressiva. Percebendo uma oportunidade nesse movimento feito por Moscou, um grupo de traders experiente decidiu surfar a onda e passou a trazer grandes volumes de diesel russo para o Brasil. Foi um sucesso e esse movimento caminha para um cenário definitivo. No ano passado, mais de 65% do diesel importado pelo Brasil veio da Rússia. Embalado pelo bom resultado, o grupo fundou a Neromar com o objetivo de disputar uma fatia da crescente demanda nacional por metanol que depende 100% de importações. A primeira carga chegou em maio e, desde então, a empresa tem trazido praticamente um navio por mês.

Para compreender melhor o que é e o que quer essa nova participante do mercado brasileiro, BiodieselBR.com conversou com Gláucio Oliveira, um dos sócios da empreitada, segundo o qual a chegada da Neromar já “mudou a estrutura do mercado brasileiro para sempre”.

BiodieselBR.com – A Neromar ainda é um nome muito novo e que gera curiosidade do setor de biodiesel. Qual é a história da empresa?

Gláucio Oliveira – A empresa pode ser nova, mas a equipe por trás da Neromar já é muito conhecida do mercado. Os fundadores [da Neromar] são todos traders com passagens por grandes empresas [que comercializam] combustíveis e químicos.

BiodieselBR.com – E qual é a composição desse grupo de fundadores?

Gláucio Oliveira – Temos sócios tanto no Brasil quanto no exterior e que são profissionais muito experientes... temos gente que já trabalhou na Vitol, na Tricon, na Trafigura, na Shell entre outras.

BiodieselBR.com –O primeiro navio chegou em maio. Mas quanto tempo de trabalho prévio para poder chegar nesse ponto?

Gláucio Oliveira – Tivemos todo um trabalho de base nas origens, na logística. Foi mais de um ano de planejamento antes de começar a operação aqui no Brasil: entre negociação com os fornecedores, estruturação de logística na origem, e terminal portuário tanto lá quanto aqui. Também fizemos estudo de mercado. Todo um trabalho de base.

BiodieselBR.com – Esse mesmo grupo de traders também está envolvido com a Forteza, não? Ambas fazem parte de um mesmo grupo?

Gláucio Oliveira – Não, a estrutura corporativa é diferente e as operações são totalmente independentes entre si. O que existe é que elas têm alguns sócios em comum, mas não se trata de um grupo empresarial.

BiodieselBR.com – Eu trouxe a Forteza porque ela foi uma das empresas que melhor surfou a onda do aumento das importações de combustíveis da Rússia para o Brasil. Modelo que vocês parecem querer repetir com a Neromar.

Gláucio Oliveira – A Forteza tem sido um dos players mais importantes na importação de combustíveis do Brasil nos últimos três anos. Temos clientes de Norte a Sul do Brasil... de Manaus a Porto Alegre. Basicamente, nós trazemos cargas de gasolina, diesel e outros derivados para os principais atores do mercado de combustíveis do Brasil.

BiodieselBR.com – E sempre da Rússia?

Gláucio Oliveira – Nós já trouxemos de outros lugares. Já trouxemos dos Estados Unidos, por exemplo. Acontece que, hoje, a Rússia tem o produto mais competitivo. É por esse motivo que o nosso produto é majoritariamente, mas não exclusivamente, russo. Atualmente, só a Petrobras tem comprado diesel de outras origens com certa regularidade o restante do mercado também vem importando a maior parte do volume da Rússia.

BiodieselBR.com – E o que foi que trouxe vocês para o mercado de metanol? Que oportunidade querem aproveitar com a Neromar?

Gláucio Oliveira – Eu gosto da estrutura do mercado de metanol. Ele é bem regulado pela ANP e outros órgãos de controle, com pouca adulteração, pouca sonegação e onde a maioria dos players é idônea como no caso dos fabricantes de biodiesel e indústria química. Ou seja, é um mercado muito saudável e que por conta do aumento do blend [de biodiesel] tem um crescimento programado. Tudo isso é muito atrativo para a gente.

BiodieselBR.com – Também é um mercado que tem players muito bem estabelecidos. O que fez com que vocês acreditassem que haveria espaço para a Neromar?

Gláucio Oliveira – O mercado está crescendo em função do programa de blendagem de biodiesel o que, naturalmente, leva a um aumento na demanda do metanol. E a gente pode ser muito competitivo. Entendemos que entramos nesse mercado com um diferencial, tanto em preço quanto em qualidade. A qualidade do meu produto é incomparável e a nossa entrada foi bem estruturada. Temos uma logística muito bem montada tanto aqui no Brasil quanto lá fora. Por aqui, montamos uma estrutura muito bem cuidada lá na Terin, em Paranaguá. Fizemos tudo com muito zelo para que funcione bem, com eficiência operacional e sem grandes percalços. Chegamos ao mercado como um player grande que quer ocupar um espaço no mercado.

BiodieselBR.com – E que espaço seria esse?

Gláucio Oliveira – Isso é o próprio mercado quem vai atribuir. Você não determina quanto vai ter de um mercado. É o mercado que escolhe quanto ele vai querer trabalhar com você se você conseguir provar que tem qualidade, competência e competitividade em termos de preços.

BiodieselBR.com – Em última análise você está certo, mas nada disso impede vocês de terem ambições. Qual seria a ambição de vocês com a Neromar?

Gláucio Oliveira – A gente tem capacidade, com muita tranquilidade, para chegar a umas 30 mil a 40 mil toneladas de metanol por mês sem grandes percalços. Temos logística e capacidade de produção para tanto. Esse é um número razoável para a gente.

BiodieselBR.com – E como é que tem sido a recepção do mercado?

Gláucio Oliveira – Tem sido boa. Evidentemente, como todo entrante, você chega tendo que mostrar as suas competências... mas já estamos vendendo para um número grande de players importantes; os principais produtores [de biodiesel] já começaram a comprar com a gente. Nossa qualidade já está atestada. Tivemos zero problemas. E fizemos preços adequados. Acredito que estamos entrando no mercado do jeito certo. Pelas portas certas, buscando os clientes que a gente quer atender. E os clientes estão satisfeitos, isso é o que mais importa.

BiodieselBR.com – A Neromar comercializa, mas não fabrica metanol. Correto?

Gláucio Oliveira – Correto, nós não fabricamos o metanol. Mas não fazemos apenas a comercialização, é mais complexo que isso porque tem todo um processo de logística que vai desde a origem até o destino do produto. Temos navios próprios. Temos terminais lá fora e aqui. Não é só compra e venda.

BiodieselBR.com – Acho que a coisa que mais chama a atenção quando você fala sobre a Neromar é a origem do metanol que vocês estão trazendo para o Brasil. Por que trabalhar com a Rússia?

Gláucio Oliveira – O primeiro motivo é a qualidade do produto. O metanol russo tem uma qualidade e uma pureza inquestionáveis. O produto é até melhor do que de outras origens. Além disso, o produto do gás natural tem um custo muito competitivo. A Rússia é o grande produtor mundial de gás natural. A escala deles é incomparável. Então, eu estou suportado pelo melhor e pelo mais barato gás natural disponível no mercado global. Essa é a minha principal força.

BiodieselBR.com – Vocês embarcam por onde lá?

Gláucio Oliveira – Nosso metanol sai do porto de Murmansk. E, por enquanto, entra pelo Porto de Paranaguá.

BiodieselBR.com – Por que esse ‘por enquanto’? Vocês têm outros portos em mente?

Gláucio Oliveira – Nosso grande foco atual é consolidar Paranaguá, que é onde já estamos prontos... Já temos o terminal formado, já temos uma logística estruturada, já estamos fazendo vendas. Mas, com o tempo, nós vamos entrar em outros regiões. Isso sem sombra de dúvida. Mas é só algo que, por enquanto, está no horizonte. Ainda não temos um plano concreto, só estudos da logística mais ampla para ver onde faria sentido.

BiodieselBR.com – E quanto tempo leva para o metanol da Neromar sair de lá e chegar até aqui?

Gláucio Oliveira – Um pouco menos de um mês.

BiodieselBR.com – Tem uma percepção de que a importações da Rússia são uma onda passageira. Que uma vez normalizadas as relações com a Europa, Moscou pode escantear o mercado brasileiro. Há risco da fonte secar?

Gláucio Oliveira – De jeito nenhum! A gente veio para ficar. Foram feitos investimentos muito robustos para viabilizar as exportações para o Brasil. E não só de nossa parte. Houve um aumento monstruoso na capacidade instalada de grandes produtores na Rússia nos últimos dois ou três anos. Esse foi um investimento de longo prazo que foi feito para ganhar novos mercados. Então a Rússia vai ter mais metanol para exportar que não depende de qualquer cenário político. É uma estrutura definitiva.

BiodieselBR.com – Você já citou algumas vezes investimento que fizeram para viabilizar a importação de metanol russo para o mercado brasileiro. Mas vocês divulgam qual é o porte desse investimento?

Gláucio Oliveira – São investimentos feitos a muitas mãos. Por isso, não tenho como te dar uma cifra exata, mas são muitos milhões de dólares. De nossa parte temos o investimento em logística – com a montagem de terminais portuários, navios –, mas tem também toda uma estrutura de suporte que foi montada pelos produtores de metanol russos. Foram eles que cuidaram da expansão da capacidade de produção e, também, da logística interna lá na Rússia.

BiodieselBR.com – E os compradores manifestam alguma preocupação ética em relação à origem do produto?

Gláucio Oliveira – É interessante como essa história da Rússia cria um tabu na cabeça das pessoas. Ninguém tem esse tabu para o fertilizante que também importamos da Rússia, mas para o combustível e o metanol criaram esse tabu. O paralelo que você tem que fazer é com o mercado de fertilizantes. Quase todo fertilizante do Brasil vem da Rússia e ninguém questiona isso. E ninguém pergunta se o fertilizante da Rússia só veio por causa da guerra. Ninguém duvida se eles estão aqui em definitivo. Ninguém tem esse preconceito que temos no mercado de combustíveis e, agora, no de metanol.

BiodieselBR.com – Talvez seja porque, no mercado energético, a Rússia ainda é um parceiro comercial recente...

Gláucio Oliveira – Já tem 3 anos que gente vem trazendo diesel e gasolina de lá. Não é um bicho de sete cabeças. Tirando uns 5 ou 10 dias a mais de navegação, o resto é tudo igual. Acho que esse questionamento sobre o metanol russo é porque a chegada da Neromar mudou e estrutura do mercado brasileiro de metanol para sempre.

BiodieselBR.com – Colocando de lado essa mistificação da qual você falava, não acho que seja incorreto dizer que é uma região complicada. Como vocês lidam com essa camada extra de complexidade?

Gláucio Oliveira – A gente não se envolve em assuntos políticos. A nossa operação é estritamente comercial e, hoje, ela está estável e segura. Por enquanto, não tem nada que me assuste na Rússia. Mas vale ressaltar, que não temos exclusividade. Eu não teria dificuldade em originar metanol de produtores de outras regiões caso tenhamos viabilidade. É tudo uma questão de otimização.

BiodieselBR.com – E as ameaças de novas sanções feitas pelos Estados Unidos contra produtos energéticos da Rússia. Isso afeta a Neromar?

Gláucio Oliveira – No momento, é tudo especulação. No mercado de combustíveis a gente escuta essas hipóteses de vez em quando, mas não no de metanol. Até agora, ninguém falou sobre sanções contra o metanol russo. Se vier a acontecer, a gente vai se adaptar. Enquanto isso, vamos tocando nossa operação com tranquilidade porque está tudo funcionando muito bem.

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com