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Cultura do dendê é alternativa no Cerrado


Embrapa Cerrados - 30 mai 2011 - 11:20 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:16

O cultivo do dendê só é possível em áreas quentes e úmidas? Se a resposta for baseada nas referências bibliográficas, sim. Mas, na prática, pesquisas desenvolvidas no projeto “Fontes alternativas potenciais de matérias-primas para produção de Agroenergia” têm provado o contrário. Em área de altitude elevada, temperatura e umidade baixas e sem condições hídricas é possível produzir. Isso abre oportunidade para que a lavoura de dendê seja expandida para o Distrito Federal, Tocantins, Mato Grosso, São Paulo e região Nordeste.

“A produção no Distrito Federal é um termômetro. Se conseguimos produzir aqui, será possível em qualquer outro lugar”, afirma Nilton Junqueira, pesquisador da Embrapa Cerrados, uma das unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária- Embrapa. As características do Cerrado são opostas às áreas tradicionais de cultivo. Enquanto na Amazônia, a umidade é acima de 90%, no Cerrado, no período seco, oscila entre 10% a 55%. A temperatura noturna no Cerrado varia entre 7º a 18º, na Amazônia entre 21º a 25º. Como no Cerrado não chove com a frequência da Amazônia é preciso utilizar a irrigação.

No experimento conduzido na Embrapa Cerrados são testadas quatro cultivares de dendê. Em agosto será colhida a primeira safra, com expectativa de alta produtividade. Por mais três anos, será avaliada a produtividade desse plantio. Estima-se que em 2014, seja possível recomendar as variedades de dendê irrigado. “Normalmente, leva entre oito a nove anos para estabilizar a produção. Se, nesse período, não ocorrer nenhum problema sério, não vai ocorrer mais. Os resultados dessas avaliações serão encaminhados para órgãos públicos para que sejam formuladas políticas públicas de incentivo ao cultivo de dendê”, explica Junqueira.

O dendê não foi a única aposta do projeto. Entre as fontes alternativas, os pesquisadores estudaram a macaúba e o tucumã. Isso sem contar as pesquisas com as mais tradicionais, tais como, soja, cana-de-açúcar, mamona e pinhão manso. De acordo com Junqueira, a cultura que torna estável a produção de biocombustível é o dendê. Como é uma espécie perene, com duração de 30 anos, dificilmente o agricultor tem interesse em substituí-la ou comercializar para outros fins. Além disso, as plantas perenes já têm o processo tecnológico definido.

Manejo de irrigação
Um componente fundamental para viabilizar o cultivo do dendê fora da Amazônia é a irrigação. Pesquisas desenvolvidas na Embrapa Cerrados e em unidades experimentais no Mato Grosso, Piauí e Tocantins avaliam o comportamento de materiais sob as condições de plantio irrigado. Os resultados determinarão o melhor manejo de irrigação para a cultura do dendê.

No Tocantins o projeto mantém dois experimentos, um no extremo norte do Estado, em regime de sequeiro, e outro na região central tocantinense com dendê irrigado por microaspersão. A plantação do norte está localizada na zona de transição entre os biomas Cerrado e Amazônico. Porém, por ter um regime de chuva aquém da média amazônica, a região não tem apresentado uma produtividade satisfatória.

Já o experimento irrigado em pleno Cerrado tem mostrado resultados promissores. Com apenas quatro anos, a cultura já obteve um rendimento médio de 20% de óleo, o principal produto do dendê. Nada mal se comparado aos 22% de rendimento dos dendezeiros maduros do Amazonas e do Pará.

O pesquisador Gustavo Campos, do núcleo de Sistemas Agrícolas da Embrapa Pesca e Aquicultura e responsável pelo experimento no Tocantins, aponta para a possibilidade de o Cerrado ser uma área isenta das principais pragas e doenças do dendezeiro como o anel vermelho e o amarelecimento fatal. O monitoramento de pragas e doenças também deve detectar se o Cerrado possui outros agentes nocivos para essa cultura. “Até agora as notícias são boas, as pragas não apareceram e a produtividade tem respondido bem”, contou Campos.

Contudo, o cientista acha que ainda é cedo para comemorar. “Teremos de esperar mais dois anos para ver se a produtividade supera às das lavouras de clima úmido a ponto de compensar o custo da irrigação, mesmo assim os resultados iniciais são muito bons”, ponderou ressaltando que o Tocantins tem um potencial de quatro milhões de hectares irrigáveis e boa parte dessa área poderia ser destinada ao dendê.

De acordo com o pesquisador Jorge Antonini, da Embrapa Cerrados, o consumo de água na cultura do dendê é pequeno. De apenas dois a três e meio milímetros de água por dia. “A cultura usa no máximo 4% da água, o restante entra no ciclo hidrológico, vai purificar e cair novamente como chuva. A irrigação, desde que atenda a legislação, mantenha a recarga natural e cumpra os critérios de uso, não é prejudicial ao meio ambiente”, observa Antonini.

Os custos para a irrigação ainda são altos, principalmente para o pequeno agricultor. No entanto, com a produtividade do dendê irrigado é possível amortizar o investimento em 25 anos. Uma alternativa é utilizar canais de irrigação já existentes no Nordeste que atualmente estão subutilizados ou mesmo sem nenhum tipo de aproveitamento. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), ao apoiar o projeto de irrigação, demonstra interesse em incentivar o cultivo de dendê irrigado no Nordeste.

O dendê ainda pode ser responsável pela criação de pólos de desenvolvimento regionais. O pesquisador Antonini, coordenador do projeto de irrigação, explica que o fruto precisa ser industrializado no máximo em 24 horas após a colheita, ou seja, a fábrica deve estar próxima a área de plantio. “O processo de industrialização deve ocorrer em um raio de 50 km da área de plantio para não apresentar problemas. Isso gera empregos na região onde há o plantio do dendê e ainda faz uma integração entre o produtor e a pequena empresa”, acrescenta.

Liliane Castelões e Fábio Reynol