Pequenas e grandes usinas de biodiesel
No final do ano de 2002 e inicio de 2003, quando iniciamos no biodiesel pensamos em um projeto de produção que julgávamos ser o melhor para o Brasil. Pensamos em um projeto que realmente viesse a trazer emprego, renda e produtividade no campo.
Como ponto de partida, defendíamos que o Brasil não deveria produzir biodiesel de soja. A estrutura agrícola e o emprego no campo para a produção de soja já estão consolidados. Se o Brasil aumentar em um terço a produção de soja, isto não implica em aumento correspondente no emprego rural. O produtor rural não aumenta sua renda trocando o atual modelo de comercialização e passando a vender para uma usina de biodiesel.
Defendemos até hoje a utilização das terras ociosas no período de abril a outubro em praticamente todo o Brasil, plantando oleaginosas na safrinha, ou segunda safra e oleaginosas de inverno na região sul e parte do centro oeste, como o girassol, a canola, a colza, o nabo forrageiro, a linhaça, entre outras. Com isto sim, teremos um aumento do emprego no campo, maior produtividade de grãos por hectare e consequentemente matéria prima para biodiesel. O Brasil não deve usar produtos de sua safra de verão para produzir biodiesel.
O agricultor brasileiro tem tecnologia de ponta na produção de oleaginosas, tem máquinas e equipamentos, tem terras, clima, água e sol. O que falta então? Para o agricultor produzir matéria prima para biodiesel, falta a garantia de que alguém vai comprar o que ele produzir. Não podemos cometer mais erros como os que aconteceram com a mamona na Bahia, o girassol em São Paulo ou a linhaça no Rio Grande do sul nos últimos doze meses.
Defendemos desde 2003 a produção de biodiesel em pequenas usinas regionais onde teremos a produção de oleaginosas e o consumo de biodiesel local, sem a necessidade de fretes. De preferência que o sistema adotado pela usina seja pela forma de escambo, trocando oleaginosas por biodiesel evitando o pagamento de impostos.
A torta, subproduto da extração também sendo usada na região, transformando-a em ovo, leite, carne, agregando valores. Este modelo de unidades de biodiesel terá um papel importante nas comunidades, retendo no local as riquezas produzidas, evitando a importação de combustível e a evasão de divisas, gerando renda e empregos no campo e nas cidades.
Não somos contra as grandes usinas de biodiesel, elas acontecerão e serão responsáveis para a produção de biodiesel para atender as distribuidoras, os grandes centros urbanos e a futura exportação. Porem, para se construir uma grande usina se faz necessário pensar primeiro na matéria prima que não seja a soja. É bom pensar também que o filé da soja é a torta e este mercado está na mão de quatro multinacionais da soja. Alguém quer brigar com gente grande?
Univaldo Vedana é especialista em biodiesel e responsável pela primeira fábrica de biodiesel do país abrangendo todo o processo de produção.