Opinião: a surpresa do leilão
O 21º leilão de biodiesel da ANP ainda está acontecendo. Faltam 30 itens ou 38,45 milhões de litros para encerrar o pregão. Esse é o momento ideal para fazer uma análise sem estar influenciado pelo nome dos vencedores, que só será revelado amanhã.
Que supresa!
O preço do biodiesel foi uma supresa para todos. As contas que foram apresentadas mostravam que era muito difícil produzir biodiesel a R$ 2,32 e diziam que por isso a ANP precisava mudar o preço. As contas estavam erradas e a ANP deve estar aliviada, já que o leilão mostrou que o preço máximo dava uma boa margem para as usinas.
A pressão agora se volta para as unidades produtoras, que terão que mostrar ao governo que com esse preço final é viável entregar 100% do volume contratado. Não será fácil convencer os gestores do PNPB que a mistura deve subir se o oposto deste cenário acontecer. Os players devem mostrar que são maduros o suficiente para não vender quando o preço fica (ou pode ficar) abaixo do custo.
Quem vendeu mais de 60% da capacidade não poderá usar o discurso de que é melhor vender do que deixar a fábrica parada. Esse discurso só serve para quem vendeu pouco. E acredito que haverá usinas nessa situação de desespero, operando para não ficar parada, mas elas não terão vida longa neste mercado. A tendência é que o setor fique ainda mais competitivo com a entrada de novos grandes players, como a Cargill, Noble e Bianchini.
Uma alternativa para as usinas que não estão intimamente ligadas a soja é o incentivo do governo às matérias-primas alternativas. O problema é que esse incentivo pode chegar tarde demais. A outra hipótese que poderia ajudar as empresas seria o aumento da mistura, mas mesmo que ele venha no começo de 2012, a oferta terá crescido o suficiente para que o aumento seja inócuo. Da mesma forma, um cronograma de aumento de mistura trará novos empresários que farão com que a oferta continue muito maior que a demanda. Quando for diferente é por que o setor está desacreditado e está morrendo.
Por fim, esse preço do 21º leilão pode mostrar que depois de um longo período de aprendizado o biodiesel entrou em uma fase de consolidação. E ao final desse processo ficarão apenas aqueles que souberem administrar uma margem apertada de lucro.
Miguel Angelo Vedana é diretor-executivo da BiodieselBR e faz parte do conselho editorial da revista BiodieselBR.