PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
Décio Luiz Gazzoni

Biocombustível aéreo


Decio Luiz Gazzoni - 17 ago 2008 - 21:39 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:07

Enquanto algumas lideranças mal informadas – ou mal intencionadas e bem pagas – procuram deslustrar a importância que os biocombustíveis terão para o futuro energético e para diminuir os impactos ambientais das atividades humanas, outros possuem senso prático e buscam resolver adequadamente esta questão. Recentemente, a Airbus anunciou uma parceria com a Honeywell, a International Aero Engines e a JetBlue Airways para desenvolver uma segunda geração de biocombustíveis, que atenda as especificações da aviação comercial. O principal objetivo desta união será transformar os óleos obtidos a partir de vegetais e algas em combustíveis para aviões e conseguir a autorização das organizações encarregadas das normas, para seu uso seguro. Obviamente, questões como conflito com abastecimento alimentar e impactos ambientais no processo produtivo são premissas obrigatórias antes que o plano saia da prancheta. Nesta luta de titãs, é importante não esquecer que a Ipanema, subsidiária da brasileiríssima Embraer, foi a pioneira neste aspecto, voando com seus aviões de pulverização agrícola abastecidos com o também brasileiríssimo etanol de cana.

Impactos positivos
A cada dia os aviões usam milhões de barris de querosene de petróleo. Para substituir parte do querosene, é necessária uma opção mais eficiente que as fontes de biomassa e os biocombustíveis disponíveis hoje. Neste contexto, a Airbus acredita que uma segunda geração de biocombustíveis de aviões pode abastecer até 30% de toda a aviação comercial até 2030. Além de trabalhar com um cenário de preços de petróleo perto dos US$500 por barril, a Airbus também aposta na pressão mundial para que os aviões diminuam o impacto ambiental, usando biocombustíveis que emitam menos gases de efeito estufa. Os biocombustíveis de segunda geração emitem menos poluentes no seu ciclo de vida em relação ao querosene, que é usado atualmente.

Atualidade
De alguma maneira, o programa já apresenta efeitos práticos. Em fevereiro de 2008, um avião da Virgin Atlantic fez o primeiro vôo comercial com biocombustível entre Londres e Amsterdã, resultado de um programa realizado junto com a Boeing e a General Electric. Ainda em fevereiro, a Airbus lançou um programa de pesquisa de carburantes sintéticos e fez um vôo teste com o A380, usando querosene misturado com um combustível sintético, obtido a partir de biomassa gaseificada. Do programa participam a Airbus, a Shell, a Rolls Royce e a Qatar Airways, e os primeiros vôos comerciais com uma mistura deste combustível sintético em 50% serão realizados até 2009.

Matéria-prima
Quem acompanha de perto a evolução dos biocombustíveis no mercado mundial, sabe que a primeira geração (na qual se insere o biodiesel) terá viabilidade comercial pelos próximos 10-15 anos, quando se estima que vá declinar sua participação no mercado. É o tempo necessário para amortizar os investimentos industriais realizados, porém também um tempo de reciclar negócios, gestão, processos e plantas industriais. Será a maneira de o atual produtor de biodiesel permanecer vivo no mercado, porque os novos biocombustiveis terão uma série de características ligadas à maior eficiência, menor impacto ambiental e conflito reduzido com a área de alimentos. De qualquer maneira, quem vai produzir a matéria prima será o agricultor, porém o perfil será diferenciado. Diminui a participação de cereais e de oleaginosas alimentícias e de ciclo curto (soja, girassol, canola, mamona) e aumenta a participação de oleaginosas de ciclo longo (palmáceas, pinhão manso, etc.) e de biomassa genérica, como pastagens, florestas, resíduos e dejetos (palhada, casca de cereais, etc.). O grande segredo do sucesso da segunda geração estará nos processos de transformação, que decomporão as moléculas orgânicas mais complexas (como celulose ou hemi-celulose) a estruturas mais simples, que serão recombinadas para produzir hidrocarbonetos de alta concentração energética, cujo ponto futuro máximo será o bio-hidrogênio, a mais simples das moléculas, porém a que tem a maior densidade energética por unidade de massa.

Décio Gazzoni é Engenheiro Agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável.

Tags: Gazzoni