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Negócio

Refinarias são desafio em plano de venda de ativos


Valor Econômico - 01 mar 2021 - 10:22

Em pouco mais de dois anos à frente da Petrobras, Roberto Castello Branco foi responsável pelo avanço da principal estratégia da estatal para cortar o endividamento nos últimos anos: os desinvestimentos. Ao todo, durante o período em que o executivo esteve à frente da empresa, desde janeiro de 2019, a estatal assinou 31 contratos para venda de ativos e que envolvem US$ 17,1 bilhões, entre recursos que já entraram no caixa e que ainda vão entrar.

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Desde o início do programa de desinvestimentos – adotado em meio aos esforços da empresa para se recuperar das sequelas da Operação Lava Jato e pela queda no preço do barril de petróleo a partir de 2014 – foi na gestão de Castello Branco que a empresa assinou mais contratos. O ano mais profícuo, nesse sentido, foi 2019, quando a petroleira fechou 14 negócios, num total de US$ 15,9 bilhões. Até então, o maior valor negociado havia sido em 2016, ano em que a presidência da estatal passou de Aldemir Bendine para Pedro Parente, quando foram feitas dez negociações por US$ 12,29 bilhões.

Castello Branco assumiu a Petrobras quando muitos dos negócios já estavam em andamento, como legado das administrações anteriores. Em sua gestão, porém, o economista liberal, formado na Universidade de Chicago, decidiu acelerar a execução do plano estratégico de seus antecessores, focado na redução dos custos e da dívida, amparado pelo programa de dividendos.

Logo nos primeiros meses de gestão, Castello Branco fechou um acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para vender oito refinarias – a metade da capacidade do parque de refino – e sair integralmente dos negócios de transporte e distribuição de gás natural. Ainda nos desinvestimentos, a gestão Castello Branco marca a saída da empresa da produção em águas rasas e campos terrestres, para se dedicar nos ativos mais rentáveis do pré-sal.

O ritmo acelerado das vendas de ativos durante o comando de Castello Branco esbarrou, em 2020, em diversos desafios, como a pandemia de covid-19, que fez com que os negócios desacelerassem. Não à toa, 2020 foi o ano concluído com o menor valor levantado no processo até agora. Um dos principais objetivos, a venda das refinarias para a abertura do setor, segue sem nenhum contrato assinado – a empresa tem compromisso para concluir os desinvestimentos no refino até o fim do ano.

A transação mais avançada, a venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, para o fundo Mubadala teve as negociações finalizadas, mas o contrato ainda não foi assinado. Apesar de não ter conseguido concluir o plano de se desfazer de refinarias, analistas destacam que foi durante a gestão Castello Branco que a Petrobras realizou duas das maiores vendas de ativos até agora: a oferta subsequente de ações da BR Distribuidora; e a venda da Transportadora Associada de Gás (TAG) para a francesa Engie e o fundo de pensão canadense CDPQ.

A troca no comando da Petrobras, após interferência do presidente Jair Bolsonaro em prol da indicação do general da reserva Joaquim Silva e Luna, gerou novas dúvidas sobre a capacidade da empresa de voltar a acelerar o ritmo da venda de ativos. A liberdade de preços no mercado é uma premissa importante para o investidor, na hora de decidir sobre a compra de uma refinaria - negócio de margens baixas e que vem perdendo atratividade no mercado global, em meio à transição energética.

O analista da XP, Gabriel Francisco, aponta, no entanto, que a nova gestão da estatal vai se beneficiar dos processos em curso, iniciados na gestão de Castello Branco. “As transações continuam, basta finalizá-las", aponta Francisco.

O próprio Castello Branco afirmou, na semana passada, que ouviu “manifestações de preocupação” de potenciais compradores após o anúncio de sua saída da estatal, mas que não ocorreu nenhuma desistência.

Em paralelo, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) entrou com uma ação popular na Justiça Federal em Salvador (BA) contra a venda da Rlam. “Como a saída de Castello Branco está gerando muita turbulência, os investidores olham com mais atenção. A soma dos fatores cria um cenário mais turbulento para a execução do plano de desinvestimentos”, diz o coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégico de Petróleo (Ineep), ligado à FUP, William Nozaki.

Gabriela Ruddy e André Ramalho – Valor Econômico